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Morreu Antonio Skármeta, autor de O Carteiro de Pablo Neruda

Morreu Antonio Skármeta, autor de O Carteiro de Pablo Neruda

Autor de O Carteiro de Pablo Neruda, o romance que inspirou o muito premiado filme homónimo de 1994, morreu esta terça-feira aos 83 anos.

O escritor, cineasta e académico chileno Antonio Skármeta, autor do romance Ardente Paciência (1985), mais tarde intitulado O Carteiro de Pablo Neruda, morreu esta terça-feira aos 83 anos, anunciou na rede social X a Universidade do Chile, onde o romancista ensinou Filosofia e Literatura.

Skármeta deixa uma obra literária extensa, que inclui uma dezena de romances (boa parte deles traduzidos em português), várias compilações de contos, peças de teatro, ensaios e livros para a infância, mas deve boa parte da sua notoriedade internacional ao êxito do filme O Carteiro de Pablo Neruda, realizado em 1994 por Michael Radford, que adapta o seu romance Ardente Paciência, e que foi nomeado para vários Óscares, incluindo os de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor (Massimo Troisi).

O livro começou, na verdade, por ser um filme, realizado pelo próprio Skármeta em 1983, e no qual a amizade entre o carteiro Mario e o admirado poeta de Canto General, prémio Nobel da Literatura em 1971, tem como cenário a Isla Negra, no Chile, e não a ilha italiana onde decorre a acção no filme de 1994. Este último nasceu da iniciativa do actor italiano Massimo Troisi, que interpreta o carteiro (o papel de Neruda foi confiado ao actor francês Philippe Noiret), e que partilha os créditos de realização com Michael Radford. O empenho de Troisi no projecto levou-o a adiar uma cirurgia cardíaca urgente, tendo morrido logo após a conclusão do filme, a cuja estreia já não assistiu.

Carteiro pobre, poeta famoso

Antonio Skármeta conheceu pessoalmente Neruda, a quem costumava mostrar os seus textos antes de os publicar, como conta no livro de homenagem ao poeta que publicou em 2004: Neruda por Skármeta.

Nascido a 7 de Novembro de 1940 em Antofagasta, no norte do Chile, era filho de pais croatas e, na infância, viveu alguns anos em Buenos Aires, na Argentina. Regressou ao país aos 12 anos, indo viver para Santiago do Chile. Estudou Filosofia e Literatura na Universidade do Chile e prosseguiu a sua formação na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde se graduou com uma tese sobre a narrativa de Julio Cortázar.

Casou-se em 1964 com a pintora chilena Cecilia Boisier, com quem teve dois filhos, e em 1963 lançou o seu primeiro volume de contos, El Entusiasmo, a que se seguiu dois anos depois nova recolha, Desnudo em el Tejado, premiada em Cuba com o prémio Casa das Américas.

A par da sua carreira literária, ensinou Filosofia e Literatura em universidades chilenas. Assumidamente de esquerda – integrou no final dos anos 60 o Movimento de Acção Popular e Unitária, muito influente no meio estudantil –, Skármeta deixou o país após o golpe militar de 1973, juntamente com o cineasta Raul Ruiz. Viveu de novo na Argentina, e em 1975 radicou-se na então República Federal Alemã, onde escreveu o seu primeiro romance, Soñé que la Nieve Ardía, publicado nesse mesmo ano, e foi professor de guionismo na Academia Alemã de Cinema e Televisão, em Berlim.

Foi ainda na Alemanha que escreveu a história da amizade entre o carteiro pobre e o poeta famoso, que além de romance e filme, também foi uma novela radiofónica e uma peça de teatro. O escritor regressou ao Chile em 1989, mas ainda voltaria à Alemanha, entre 2000 e 2006, como embaixador do seu país.

Quase todos os seus romances têm edição portuguesa, boa parte deles com a chancela da Teorema, como Não Foi Nada, O Carteiro de Pablo Neruda: Ardente Paciência, A Velocidade do Amor, A Boda do Poeta, A Rapariga do Trombone, Um Pai de Filme, ou ainda o já referido Neruda por Skármeta. Em 2004, a Dom Quixote publicou A Dança da Victoria – que deu origem ao filme El Baile de la Victoria (2009), de Fernando Trueba –, e a Teodolito lançou em Portugal o seu último romance: Os Dias do Arco-Íris. O principal tradutor português de Skármeta tem sido José Colaço Barreiros.

Numa recente entrevista ao El País, citada no obituário que o jornal espanhol lhe dedicou esta terça-feira, Antonio Skármeta comenta assim a sua própria obra de ficcionista: “Os meus livros expressam um afectuoso respeito pela verdade das minhas personagens. Tento compreendê-las e expressar aquilo que são. Nesta estratégia descobri que o que são inclui de modo muito determinante o que querem ser. Creio no poder da imaginação, que não é exclusivo dos artistas”.

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