rr.sapo.ptrr.sapo.pt - 27 jul. 09:30

Francisco Lázaro, o trágico pioneiro da longa tradição portuguesa na maratona olímpica

Francisco Lázaro, o trágico pioneiro da longa tradição portuguesa na maratona olímpica

O fundista era uma vedeta do seu tempo. Integrou a primeira comitiva portuguesa a disputar uns Jogos Olímpicos, em 1912, mas nunca terminou a maratona. Desfaleceu ao quilómetro 29 e morreu horas depois. Os motivos até hoje geram dúvidas.

Há mais de 100 anos, em 1912, Francisco Lázaro quis fazer história na primeira comitiva portuguesa que disputou os Jogos Olímpicos, em Estocolmo. E assim o fez, mas não da forma que pretendia. O fundista morreu depois de desfalecer durante uma duríssima maratona. O seu legado até hoje perdura.

Os motivos da morte continuam a ser um tema de dúvida e alguma polémica. A versão mais disseminada foi que teria espalhado sebo pelo corpo pouco antes da partida, que lhe viria a tapar os poros e impedir a transpiração. É, no entanto, uma versão contestada pela própria autópsia.

Lázaro terá viajado até Estocolmo com expectativa de lutar por uma medalha. O tempo de 2h52 na maratona de Lisboa no ano anterior alimentavam a esperança, até porque o anterior vencedor olímpico tinha feito os 42,2 quilómetros em 2h55.

Era um dia de calor intenso e uma parte dos maratonistas decidiu não participar. Durante a prova, os termómetros terão ultrapassado os 40º graus. Concluiram o percurso apenas 35 de um total de 133 inscritos. Lázaro não foi um deles.

Alguns colegas da comitiva portuguesa esperavam por Francisco Lázaro ao quilómetro 35, mas começaram a ficar preocupados com a demora do português. Fizeram o percurso no sentido contrário, mas nunca o chegaram a encontrar.

Viriam a saber, mais tarde, que Lázaro tinha desfalecido numa subida ao quilómetro 29. Foi assistido e levado para o hospital, onde lhe diagnosticaram erradamente uma meningite. Morreu na madrugada seguinte, aos 22 anos.

A teoria de que teria morrido por sebo foi inicialmente divulgada por Armando Cortesão, um dos seus colegas em Estocolmo. Foi também desmentida a possibilidade que teria falecido porque era o único a não utilizar chapéu.

Especulou-se ainda possibilidade de não ter resistido a uma dose de estupefacientes para aumentar a resistência muscular. A autópsia apontou o motivo oficial da morte como desidratação extrema, revelando ainda um fígado altamente afetado.

O corpo de Lázaro demorou a regressar a Portugal. Esteve quase dois meses numa morgue em Estocolmo porque a família não tinha posses para transladar o corpo. As diligências acabariam por ser pagas pelo rei da Suécia, que viria ainda a reunir fundos para ajudar a filha do atleta, nascida meses depois da morte do pai.

Lázaro era uma celebridade do seu tempo, um atleta descoberto ao acaso por correr ao lado do elétrico. Era uma figura conhecida dos últimos anos de monarquia e do início da primeira República. Aponta-se que mais de 20 mil pessoas marcaram presença nas homenagens póstumas a Lázaro.

A maratona é uma prova histórica para Portugal, pelas medalhas de ouro de Rosa Mota e Carlos Lopes e por outros tantos que nela participam de quatro em quatro anos. Em Paris, será a vez de Samuel Barata e Susana Godinho.

E tudo começou com Lázaro. O seu legado mantém-se até aos dias de hoje, ainda que muitas vezes seja esquecido. O atleta dá nome a uma rua de Lisboa e ao estádio do Fofó, o Clube Futebol Benfica.

No estádio olímpico de Estocolmo, onde deveria ter terminado a maratona, resiste uma placa em sua homenagem.

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