expresso.ptexpresso.pt - 26 jul. 14:13

Detenção violenta em aeroporto de Manchester motiva duas noites de protestos contra racismo pela polícia

Detenção violenta em aeroporto de Manchester motiva duas noites de protestos contra racismo pela polícia

Protestos acontecem depois de ser partilhado um video onde se vê Mohammed Fahir, de 19 anos, ser pontapeado na cabeça por um agente quando já se encontrava no chão. O jovem terá sofrido lesões cerebrais. A investigação decorre, mas o polícia envolvido já foi suspenso, tendo a família da vítima pedido “calma” aos manifestantes nas ruas

As últimas duas noites na zona metropolitana de Manchester, no norte de Inglaterra, Reino Unido, ficaram marcadas por fortes protestos contra as autoridades, em particular contra a polícia metropolitana (GMP), devido a uma ação que tem sido classificada pelos ativistas como mais um episódio de violência policial e racismo.

O incidente ocorreu na terça-feira à noite, quando um grupo de homens foi detido no terminal 2 do aeroporto de Manchester (que fica na localidade de Rochdale). Um dos homens filmou os agentes e, no vídeo divulgado e partilhado nas redes sociais, é possível ver um polícia a pontapear um indivíduo na cabeça, quando este já se encontrava deitado de barriga para baixo no chão.

Um vídeo mais recente, transmitido pela Sky News, mostra oficiais da GMP a falar com o grupo que filmou o primeiro momento de agressão e, pouco depois, os oficiais detêm o grupo. O mesmo agente disparou então gás pimenta contra uma das pessoas que estava a filmar com o seu telemóvel.

Alertamos para a violência das imagens, que pode ferir a suscetibilidade dos leitores mais sensíveis.

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Várias organizações não-governamentais repudiaram rapidamente as imagens e a ação da polícia de Manchester. A StopWatch UK, uma organização dedicada à lyuta copntra o racismo nas forças de segurança, disse ao Morning Standard que a forma como os agentes reagiram no aeroporto contra um homem muçulmano “revela uma onda de violência islamofóbica que confirma o medo cada vez maior entre minorias racializadas de que a polícia não as vai manter a salvo”.

Também a Stand Up To Racism de Manchester, outra organização não-governamental antirracista, considerou que a operação foi “injustificada” e uma violação de direitos humanos. Na quarta-feira, a mesma ONG convocou um protesto em frente à esquadra da polícia de Rochdale e, na quinta-feira, pelas ruas de Manchester.

Centenas de pessoas bloquearam as linhas do elétrico e o trânsito, juntaram-se em frente ao escritório do autarca da área metropolitana e gritaram “GMP racista, tenham vergonha” e “vidas negras importam”, entre outros conhecidos cânticos antirracistas internacionais, ao longo de várias horas.

Depois da divulgação dos vídeos, a GMP disse, esta quinta-feira, que “depois de uma avaliação aprofundada de informações adicionais disponibilizadas em relação ao incidente no aeroporto de Manchester”, decidiu “suspender o agente de todas as suas funções” e reconheceu “as preocupações a que os protestos deram eco. O caso foi remetido para um gabinete independente supervisor da conduta policial no Reino Unido, o IOPC, que vai investigar a agressão, bem como o uso de gás pimenta”.

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Nos primeiros momentos depois das detenções no aeroporto, a GMP disse, citada pelo The Guardian, que a equipa respondeu a uma suposta tentativa de assalto, e alegou que três dos seus agentes foram agredidos por civis, tendo sido detidos quatro homens no total. Um porta-voz da GMP acrescentou à BBC que existia um “risco claro” de as armas dos agentes de autoridade serem retiradas, e considerou que os polícias tinham sido “violentamente atacados”.

O autarca da área metropolitana de Manchester, Andy Burnham, contou à televisão pública britânica que tinha visto mais imagens do incidente e notou que a base da altercação terá sido “um problema com um voo a chegar” à cidade, na zona das chegadas. Aparentemente, duas das pessoas estavam “à espera da mãe”, que terá tido “um problema”; de acordo com Burnham, as detenções na zona do estacionamento ocorreram logo a seguir.

Família pede “calma a todas as comunidades” e recusa fazer parte de protestos

A família do jovem agredido, entretanto identificado como Mohammed Fahir, de 19 anos, já reagiu tanto à violência no aeroporto, como aos protestos nas ruas contra as autoridades. O deputado recém-eleito pelo distrito de Rochdale, Paul Waugh, do Partido Trabalhista, esteve com os familiares de Fahir, que revelaram que não tencionam marcar presença em qualquer manifestação ou entrevista, preferindo manter a sua privacidade - até porque algumas das pessoas da família também são polícias.

“A mensagem mais forte que querem que transmita é que não têm qualquer agenda política. Eles querem que eu passe um apelo à calma entre todas as comunidades em Rochdale. Temos tido uma história de divisão terrível na nossa localidade e não queremos voltar a isso”, comentou Waugh, em entrevista ao programa BBC Breakfast.

Waugh acrescentou que a família está “ciente” da presença de “extremistas de ambos os lados que estão desejosos de aproveitar este incidente para as suas próprias motivações”. “A família não está de todo interessada nisso”, reiterou.

O deputado também teve acesso a imagens que ainda não foram divulgadas pelas autoridades e, apesar de concordar que a forma como a polícia agiu foi “perturbadora”, alerta que “é importante não fazer julgamentos apressados com base em alguns 'frames'”.

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O adovogado que está a representar Muhammad Fahir, esclareceu ao The Guardian que o jovem de 19 anos foi visto por um neurologista, depois de um exame após a agressão ter revelado um quisto no cérebro de Fahir. Questionado sobre se a lesão estava relacionada com o incidente no aeroporto, Akhmed Yakoob esclereceu: “O que posso dizer para já é que falei com o especialista e eles disseram que pode estar associado às agressões”.

Todos os membros da família detidos e/ou agredidos pelas autoridades foram vistos num hospital, mas já se encontram a recuperar em casa. “Esperamos que consigam recuperar, mas obviamente que os efeitos posteriores de um incidente como este são difíceis de avaliar imediatamente”, acrescentou Yakoob.

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