expresso.ptexpresso.pt - 26 jul. 18:56

Maiores de 65 anos agarram nas latas de graffiti e mostram que a idade “é só um número”

Maiores de 65 anos agarram nas latas de graffiti e mostram que a idade “é só um número”

Habitualmente associada aos mais novos, a arte urbana também desperta o interesse dos menos jovens, assim como um “sentido de confiança e empoderamento”. Na data em que se assinala o Dia dos Avós, o Expresso dá-lhe a conhecer a experiência do Lata 65, uma iniciativa que procura “mostrar que a idade é só um número”

Quando nasceu o primeiro festival de arte urbana do país, em 2011, cedo se percebeu que as intervenções artísticas na Covilhã estimulavam o interesse de um grupo em particular. Daí surgiu a ideia de criar um workshop que seria apenas uma experiência, mas o resultado surpreendeu e acabou por prolongar-se até hoje: há 12 anos que o Lata 65 liga arte urbana e idosos.

“Numa cidade universitária, a Covilhã, esperávamos que este fosse o nosso público, mas logo nos primeiros dias começámos a perceber que as pessoas que acompanhavam mais o trabalho, que faziam todo o tipo de perguntas, super interessadas naquilo que estava a acontecer, eram os mais idosos”, conta Lara Seixo Rodrigues, responsável pelo projeto. Um workshop organizado no LX Factory para este público teve um impacto “tão grande” que não pôde ficar por ali.

“Decidi que tinha de dar continuidade ao projeto e levá-lo a todo o mundo para espalhar a mensagem de que existe uma prática, um tipo de expressão artística, à partida mais relacionada com jovens, que entusiasmava as pessoas mais idosas e que provocava alterações motoras e intelectuais que também não esperávamos, mas que aconteciam”, explica a curadora.

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Desde então, já participaram nos workshops 763 pessoas – com uma média de idades de 75 anos – um pouco por todo o país, mas também lá fora: no Brasil, Estados Unidos, Espanha, Reino Unido e Canadá. Num formato que normalmente consiste em duas sessões que totalizam entre oito a dez horas, os mais velhos começam por aprender sobre a história e as técnicas do graffiti, para depois trabalharem o seu próprio tag e desenharem o que pretendem, antes de irem para a rua pintar.

“A parede não é só o resultado, mas também fica de memória”, nota Lara Seixo Rodrigues. Além de quem circula na rua “perceber o que é que ali se está a passar e se questionar, até sobre a sua forma de olhar a velhice e o envelhecimento”, os participantes “vão trazer os filhos e os netos, vão passar por ali todos os dias e é uma memória sempre permanente de ‘eu fui capaz de fazer isto’”.

A ideia é precisamente “mostrar que a idade é só um número” e que conceitos como “envelhecimento ativo e solidariedade entre gerações” podem traduzir-se em idosos “a fazer uma atividade que normalmente é relacionada com jovens”, com o “poder de fomentar, promover e valorizar o acesso à arte e à cultura e a estas expressões da arte contemporânea, que muitas vezes são bastante marginalizadas”. Ao mesmo tempo, promove-se a inclusão dos mais velhos nas comunidades. “Estamos a dar a possibilidade de restaurarem a sua participação ativa e simbólica na sociedade, mostrar que são pessoas válidas e que têm de continuar a pertencer.”

Ilustração Sara Tarita

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Mas há mais: esta “criação artística participada” tem benefícios que “são visíveis, não são meramente teóricos”. “Existe um aumento, um retorno até da confiança, e empoderamento. Mas também uma redescoberta, não só deles próprios, de perceberem que têm a possibilidade e capacidade para aprender coisas novas, mas muitas vezes até das próprias famílias. Está estabelecido que o idoso é aquela pessoa que já viveu, que tem de ficar em casa a olhar para a televisão, e percebe que há uma forma totalmente diferente de estar na vida e na velhice”, retrata Lara Seixo Rodrigues.

Um impacto particularmente sentido pelas mulheres, em maioria entre os participantes – os homens são apenas 147 do total. Um dado provavelmente justificado com o facto de estar em causa uma geração em que “viveram muito tempo fechadas em casa, a tratar dos filhos e muitas delas, quando ganham alguma liberdade, conseguem ter tempo para si próprias”. Em Aberdeen (Escócia), por exemplo, o grupo que participou acabou por criar o Graffiti Grannies, um conjunto que dá continuidade ao trabalho desde 2019.

“O nosso objetivo é continuar a mostrar, desta forma inusitada, que é possível envolver os idosos, criar-lhes interesses, trabalhar a autoestima, pô-los a fazer coisas que não são supostamente adequadas à idade deles e que isto desperta um sentido de confiança e empoderamento que é essencial”, resume a curadora. “Existem ainda muitos preconceitos associados ao envelhecimento e têm de ser desmistificados.”

Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

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