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Visão | Ao fim de 500 anos de ausência, os veados estão de regresso a Cascais

Visão | Ao fim de 500 anos de ausência, os veados estão de regresso a Cascais

A Câmara de Cascais libertou 11 veados na Quinta do Pisão, no Parque Natural Sintra-Cascais, cinco séculos depois de o último ter desaparecido da região. Veja as fotos da libertação

Onze veados-vermelhos-ibéricos – um macho e dez fêmeas – foram libertados esta quinta-feira na Quinta do Pisão, um parque de natureza que pertence ao município, numa zona de 240 hectares, no extremo ocidental do Parque Natural Sintra-Cascais. A quinta está aberta ao público, ligada ao centro da vila por um caminho pedestre, pelo que, com alguma sorte e persistência, é possível ver os animais, seja nos percursos, seja no miradouro das Penhas do Marmeleiro. Os últimos animais desta espécie (o maior mamífero existente em Portugal) haviam desaparecido no século XVI, devido à caça, ao pastoreio e à agricultura.

Carolina Temudo/CMCascais

Esta iniciativa, cofinanciada pelo programa europeu LIFE (com cerca de €3 milhões de investimento ao longo de seis anos), encaixa no conceito de renaturalização e reordenamento da paisagem que tem sido seguido pela autarquia, nomeadamente através da introdução de espécies que ajudem a criar uma paisagem-mosaico, mais biodiversa e resiliente a incêndios. A Quinta do Pisão já conta com cinco corços, 17 cavalos sorraia e 30 burros mirandeses, além de cabras e ovelhas. Numa área vedada da encosta da Peninha foram também introduzidos nove garranos e oito vacas mirandesas.

Os veados, originários de uma herdade em Mértola, “são os grandes mamíferos que faltavam para fechar um ciclo de naturalização e de gestão da paisagem”, diz Luís Almeida Capão, presidente do conselho de administração da Cascais Ambiente, a empresa municipal que gere a Quinta do Pisão. “Estamos a trabalhar os vários ecossistemas que existem em Cascais. Com a presença destes animais, vamos ter a abertura de novos trilhos e de clareiras. A sua passagem vai permitir também fazer a propagação de sementes e a incorporação de novas espécies animais, como coelhos e perdizes, que, por sua vez, também vão trazer as grandes rapinas.” Entre as espécies que têm reaparecido autonomamente, destacam-se o esquilo-vermelho e o javali (um macho foi recentemente captado por uma armadilha fotográfica).

Luís Bento/CMCascais

Além do fomento da biodiversidade e da variedade da paisagem, outro objetivo da iniciativa é reduzir o risco de incêndio, sobretudo num contexto de alterações climáticas, que tende a trazer pressões adicionais, na forma de mais calor e menos humidade – os veados e os outros grandes mamíferos atuam como sapadores, alimentando-se dos arbustos que servem de combustível. “A presença destes animais permite-nos ter muito menor vulnerabilidade aos fogos rurais, mais capacidade de resistência ao fogo”, sublinha Luís Almeida Capão. “O facto de termos clareiras entre a vegetação ou haver, por exemplo, uma separação entre uma copa de uma árvore e uma zona de esteva, mais abaixo, pode ser suficiente para que não tenhamos um fogo de copas. Fica um fogo mais rasteiro, mais fácil de combater.”

Luís Bento/CMCascais

A renaturalização do Parque Natural Sintra-Cascais com espécies autóctones portuguesas tem também por objetivo aproximar a população da natureza, adianta Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da Câmara de Cascais. “Queremos tornar todo este espaço num verdadeiro ativo. Durante muitos anos, o parque natural foi-se degradando e não tinha pessoas a viver o parque. Hoje, as pessoas vêm aqui correr, andar, usufruir do parque. E acima de tudo queremos passar esta imagem de paisagem urbana. Os animais selvagens não vivem apenas em África – aqui, em Portugal e em Cascais, também há animais e as pessoas podem ter contacto com eles, não apenas com os veados, mas com as ovelhas, os burros lanudos, as aves… É extraordinário podermos viver neste ambiente cruzado entre aquilo que é natural e as habitações, a vila, termos a possibilidade de acordar de manhã, andarmos dez minutos a pé e podermos ver animais selvagens.”

O autarca reforça ainda o papel desta aposta na minimização do risco de incêndio, não só pelo papel dos animais em si, mas também pelo das pessoas, que atuam como vigias em permanência. “Vêm ver os animais e passam a ser guardiãs do parque. Todos podem ser rangers da Quinta do Pisão.”

Carolina Temudo/CMCascais

O papel dos veados nesta missão de bombeiros naturais foi abençoado logo pela viagem Mértola-Cascais: a cerimónia de libertação dos animais acabou por atrasar quase três horas horas devido a um incêndio na zona de Alcácer do Sal que cortou a autoestrada.

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