www.sabado.ptManuel Pinto Coelho - 24 jul. 22:23

Um opiáceo chamado trigo

Um opiáceo chamado trigo

Opinião de Manuel Pinto Coelho

In the age of universal deceit telling the truth is a revolucionary act
Eric Arthur Blair (George Orwell) (1903-1950)

O trigo é o segundo cereal mais cultivado no Mundo, logo a seguir ao milho. Terá surgido há 10.000 anos e ajudou a combater a fome no Mundo, mas a sua manipulação muito tem contribuído para as características que tem hoje e que prejudicam a saúde.

Em relação ao trigo de panificação, trata-se de uma espécie poliploide que conta com 42 cromossomas, que cresce hoje só até à altura dos nossos joelhos, bastantes mais do que os 14 que dispunha quando surgiu e crescia em campos abertos e nos subia até aos ombros.

Hoje as farinhas são mais refinadas, geneticamente alteradas através de centenas de hibridizações, falta-lhes fibra e nutrientes essenciais, e sofreram mudanças bioquímicas que tornaram ainda mais difícil a sua digestão pelo tubo digestivo, o que provocou uma maior tolerância que se reflete agora num aumento de casos de doenças celíacas, mas também de doenças autoimunes, refluxo gastroesofágico, aparecimento de enxaquecas, entre outras.

O objetivo de aumentar a produção de trigo e a sua resistência, para responder à explosão demográfica da segunda metade do século XX, levou ao cruzamento com outras espécies e as modificações ainda não pararam, transformando este cereal num bem muito diferente do inicial, a começar pela dimensão – uma espiga tem hoje metade do tamanho que tinha há meio século – e pelo tempo de cultivo, que foi bastante encurtado.

Na sua composição, além do glúten – prejudicial em variadíssimas situações e interdito em bastantes -, o trigo tem a proteína gliadina, que é um estimulante do apetite.

Ou seja, cultivado e manipulado para matar a fome, o trigo promove a sensação de fome, levando a uma maior ingestão de alimentos, mesmo quando não necessários, aumentando o risco da obesidade e de toda uma panóplia de enfermidades associadas.

À gliadina é atribuído ainda um efeito opiáceo, o que se deve ao facto de esta agir sobre os mesmos recetores cerebrais atingidos, por exemplo, pela heroína. E a sensação de prazer que o cérebro interpreta conduz à vontade de querer repetir o ato, neste caso, de ingestão de trigo, nas mais variadas formas.

Além disso, a amilopectina presente no trigo é dificilmente digerível, além de contribuir para o aumento da glicemia (glicose no sangue).

Gases, flatulência, gordura abdominal, intestino poroso e inflamação são algumas das consequências atribuídas a este cereal., entendido como uma resposta contra a fome por Norman Ernest Borlaug, um engenheiro agrónomo que recebeu o Prémio Nobel da Paz pela descoberta de um novo tipo de trigo mais resistente, e assim capaz de alimentar mais pessoas.

O objetivo – nobre - acabou por desembocar no consumo dum cereal com propriedades prejudiciais à saúde de milhões de pessoas em todo o Mundo, dada a sua produção elevadíssima: 749 467 531 toneladas de trigo são produzidas anualmente em todo o mundo.

Benefícios em tirar o trigo da alimentação:

- Uma substancial perda de peso

- Redução do apetite, com a consequente diminuição da ingestão de calorias e da obsessão alimentar

- Menos açúcar no sangue

- Diminuição das dores articulares

- Redução da inflamação

- Redução da pressão sanguínea

- Aumento da energia

- Melhoria do sono

- Menos refluxo ácido

- Redução da síndrome do cólon irritável

"O trigo eleva a taxa de açúcar no sangue, mais que o açúcar de mesa", diz o renomado David Perlmutter.

Com uma evidência científica cada vez maior, sabemos então que o glúten faz mal ao cérebro e que as boas gorduras têm sido injustamente acusadas e os seus benefícios negligenciados.

Aliás, o colesterol está mesmo associado a um cérebro melhor e a sua presença associada à ausência de doenças como Alzheimer ou Parkinson.

Investigadores do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística do Centro Médico Erasmus, em Roterdão, Países Baixos, examinaram a associação entre os níveis séricos de colesterol e o risco da doença de Parkinson, tendo concluído que valores mais altos de colesterol total foram associados a uma diminuição significativa do risco de doença de Parkinson, "com evidência de uma relação dose-efeito". Mais crónicas do autor 27 de julho Um opiáceo chamado trigo

Cultivado e manipulado para matar a fome, o trigo promove a sensação de fome, levando a uma maior ingestão de alimentos, mesmo quando não necessários, aumentando o risco da obesidade e de toda uma panóplia de enfermidades associadas.

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