Ricardo Costa - 24 jul. 09:48
O turismo em Portugal não é para os portugueses
O turismo em Portugal não é para os portugueses
Esta realidade torna-se evidente quando se analisam os preços das estadias, refeições e atrações turísticas, que têm aumentado significativamente, tornando difícil e caro para os próprios portugueses desfrutarem do seu país
Portugal, um país conhecido pela sua rica cultura, paisagens deslumbrantes e hospitalidade calorosa, tornou-se um dos destinos turísticos mais procurados da Europa. No entanto, há um crescente sentimento de que o turismo em Portugal não é, na verdade, para os portugueses. Esta perceção não é uma crítica ao setor, muito pelo contrário, mas uma constatação do facto de que os valores cobrados para as atividades turísticas no país não são proporcionais ao rendimento da grande maioria dos cidadãos portugueses."
Nos últimos anos, os preços no setor do turismo em Portugal têm registado um aumento acentuado. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o preço médio por noite num hotel de 4 estrelas em Lisboa aumentou cerca de 25% nos últimos cinco anos. Em regiões turísticas populares, como o Algarve e a Madeira, os preços também subiram de forma notável, com aumentos de 20% a 30%. Este aumento é atribuído, em parte, à maior procura por parte de turistas estrangeiros, que vêm a Portugal atraídos pela sua beleza natural e património cultural. No entanto, para os portugueses, estes preços elevados significam que férias dentro do próprio país se tornam cada vez mais inacessíveis.
A taxa de ocupação hoteleira em Portugal reflete esta tendência. De acordo com a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), mais de 70% dos hóspedes em hotéis portugueses são estrangeiros. Este dado sublinha a prevalência de turistas internacionais no mercado, deixando uma parcela menor para os turistas nacionais. Com uma maior procura externa, os preços são ajustados para maximizar os lucros, resultando em tarifas que muitos portugueses consideram exorbitantes. Esta realidade levanta questões sobre a sustentabilidade do turismo em Portugal e sobre como ele pode ser mais inclusivo para os seus próprios cidadãos.
A discrepância entre os salários médios em Portugal e os preços turísticos é outra preocupação significativa. O salário médio em Portugal ronda os 1.100 euros mensais, enquanto o custo de uma semana de férias para uma família de quatro pessoas pode facilmente ultrapassar esse valor. Esta desproporcionalidade faz com que muitos portugueses optem por destinos internacionais, onde conseguem obter mais valor pelo seu dinheiro. Espanha, por exemplo, oferece opções turísticas a preços mais acessíveis, sendo uma escolha cada vez mais popular entre os portugueses.
Paulo Evangelista Turismo em Portugal ultrapassou em 2023 os níveis pré-covid, sazonalidade foi a mais baixa da última décadaEm resumo, o turismo em Portugal está a tornar-se cada vez mais inacessível para os próprios portugueses. O aumento dos preços, a elevada taxa de ocupação por estrangeiros e a desproporção entre os salários e os preços turísticos são fatores que contribuem para esta realidade. Para que Portugal possa ser um destino turístico inclusivo, é necessário repensar a estratégia de preços e encontrar um equilíbrio que permita aos portugueses desfrutar do seu próprio país.
Caso contrário, corremos o risco de ver cada vez mais portugueses a escolher destinos como Espanha, onde conseguem obter mais valor pelo seu dinheiro. Portugal deve ser para os portugueses tanto quanto é para os turistas internacionais, e essa mudança é essencial para um turismo mais sustentável e justo.
Ironicamente, Espanha, o país vizinho, parece estar mais acessível e acolhedor para os portugueses do que o próprio Portugal. Se a tendência atual continuar, não será surpreendente ver os portugueses preferindo as praias de Andaluzia ou Barcelona, não por uma questão de preferência, mas por pura necessidade económica.
É um paradoxo preocupante: enquanto Portugal se promove ao mundo, os seus próprios cidadãos são empurrados para fora, procurando no estrangeiro a acessibilidade que lhes é negada em casa.
Portugal deve ser para os portugueses tanto quanto é para os turistas internacionais.