expresso.ptMariana Leitão - 23 jul. 09:22

INAPA: Il n’y a plus d’argent

INAPA: Il n’y a plus d’argent

Em 2019, a CGD conseguiu vender a totalidade da posição que detinha na Inapa por 15,8 milhões de euros, uma posição equivalente na altura a 33% do capital social da empresa, mas o banco público só encontrou comprador… no Estado português. Depois do Estado entrar torna-se difícil conseguir sair e o dinheiro dos contribuintes passa a estar sempre em jogo. Um ciclo que parecia nunca acabar

Ontem os portugueses ficaram a saber que o Estado é o principal dono de uma empresa cuja principal actividade é distribuir papel na Alemanha e em França (países que representam dois terços da sua faturação) mas também em Espanha, Portugal, Bélgica, Luxemburgo, Áustria, Holanda, Turquia e Angola.

Os portugueses ficaram também a saber que essa empresa precisava de uma injeção imediata de 12 milhões de euros do seu dinheiro para tapar um buraco desse valor na operação na Alemanha, para além do pedido que já tinha junto do Estado de 15 milhões de euros para reestruturação a decorrer num processo paralelo.

A história de como é que é o Estado a ficar o principal accionista da Inapa é longa e habitual na evolução do panorama económico português, com grupos económicos alavancados em dívida, créditos que não são pagos à banca portuguesa, transformados em participações, internacionalizações mal feitas, uma banca muito dependente do Estado e um Estado que ao longo do tempo foi achando que a sua função era escolher vencedores na economia.

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Ficámos assim com o Estado português como o principal acionista da Inapa através da Parpública, com cerca de 45% do capital.

É cristalino que não é função do Estado português distribuir papel, muito menos na Alemanha. O mercado arranjará sempre uma solução para tal função, se se justificar. É também claro que o negócio do papel está em perda na Europa, com as estimativas a apontarem para que tenha desaparecido um terço deste mercado nos últimos dois anos.

A decisão do governo de não colocar mais milhões numa empresa que não apresenta ter viabilidade é não só correcta como pedagógica: o Estado deve concentrar-se nas suas funções essenciais e deixar o mercado livre exercer a sua actividade, com lucros e prejuízos privados.

O Estado deve respeitar o dinheiro dos contribuintes que lhe é confiado, eliminando os riscos de o desbaratar nos empreendimentos mal planeados de outras entidades.

O PCP já veio protestar e perguntou ao Ministro das Finanças: como defendeu o Estado o interesse público durante estes anos? A resposta é simples: não defendeu. O Estado não sabe gerir empresas, não tem que gerir empresas, nem pode gastar o dinheiro dos contribuintes a cobrir prejuízos de empresas. Sempre que o Estado se coloca a gerir ou a investir em empresas não está a defender o interesse público. Felizmente tudo indica que pelo menos neste caso tal erro vai ser corrigido.

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