www.publico.ptpublico.pt - 11 jul. 05:20

Cartas ao director

Cartas ao director

Joana Marques Vidal

Não deixa de ser uma irónica e trágica coincidência que a ex-PGR tenha morrido no mesmo dia em que a actual titular do cargo decidiu dar a cara pelo seu trabalho, tão importante e pilar do sistema democrático. No meu curto entender, ficou-me do mandato de Joana Marques Vidal a recordação de uma gestão serena e decidida, em que os donos disto tudo começaram a ser responsabilizados pelos seus actos. Algo pouco visto nos anteriores PGR. Um exemplo que poderia ter sido seguido pela sua sucessora, com quem aliás trabalhou. De Lucília Gago fica-nos a sobranceria com que tem desempenhado o cargo e a inopinada e inútil entrevista que deu à TV. Inopinada porque o fez quando já tinha marcada uma audiência no Parlamento, o lugar certo para se explicar, e inútil porque apenas reiterou as suas posições sem acrescentar nada de novo. Ficará para a história como co-autora da queda de um Governo e dissolução de um Parlamento com uma maioria absoluta, um feito notável pela negativa, a que não é alheia a precipitação de Marcelo Rebelo de Sousa.

José Pombal, Vila Nova de Gaia

Morreu a antiga PGR

Enquanto viva e sem responsabilidades no MP viveu em paz e tranquilidade, bem merecidas depois de cumprir bem as suas funções como PGR. Mas, enquanto à frente daquele magistério, bem criticada foi por tudo quanto era político do mesmo ‘clube’ de Sócrates, por ter tido a ousadia de investigar aquele político. Não faltaram censuras e maldizer da senhora pelo atrevimento em mandar prender um ex-primeiro-ministro. Agora que nos deixou é só elogios e boas palavras. À sua sucessora acontece o mesmo que com ela aconteceu e já li, entre outras críticas, que uma investigação a um primeiro-ministro não pode ser tratada como qualquer outra. Pensava eu e, pelos vistos, a senhora PGR, que a justiça tinha uma venda nos olhos. Olhe que não, olhe que não. A justiça deve deixar um olho aberto quando investiga políticos, perguntará o incauto cidadão? Mas fique Lucília Gago tranquila, pois, quando morrer que seja tarde só lhe darão elogios. Até lá, só recomendo que não gagueje quando for interpelada da AR.

Jorge Mónica, Parede

Ir morrer ao SNS?

No tempo aflitivo da covid-19 todos os internamentos e tratamentos graves aconteceram em hospitais do SNS, e não em privados. O debelar em força do vírus foi da responsabilidade do SNS. Casos tem havido de doentes muito graves que têm passado do privado ao público, vá-se lá saber porquê. Quem souber, com exactidão que o diga. E, recentemente, a anterior procuradora-geral da República morreu em consequência de um cancro muito grave, ao que parece, tendo sido operada ao mesmo no privado e, em situação terminal, transferida para um hospital público. Porque foi do privado ao público? Porque não ficou até ao fim no privado? Por certo haverá razões mais que atendíveis, mas o SNS tem feito muito por muitos e muitas e não só na última hora. Tentar não enaltecer isso não será justo.
Augusto Küttner de Magalhães, Porto

É o judgement!

Anglicismo perdoável: ser sagaz mas ponderado. Ser ponderado é agir com a experiência, o conhecimento tácito acumulado. Ser judicioso. É isso que está em causa com a PGR e os processos mais sensíveis Influencer, Madeira e outros passados. Sim, a PGR não deve tomar a nossa Democracia por parva. É evidente a falta de judgement aplicado aos processos sobre políticos. Magalhães e Silva disse que o DCIAP está a criminalizar um processo administrativo subjacente à governação: no caso, a negociação dos termos do data center de Sines.

Lembro que o mesmo processo levantado aos empresários, há uns anos, sobre as contrapartidas das grandes compras militares acabou com o ridículo máximo: os detentores do processo penal simplesmente não tinham percebido [...] que as contrapartidas são algo institucional no mercado internacional de defesa. E o julgamento, claro, deu em nada. O data center é enquadrado nos Projectos de Interesse Nacional. Há uma grande amplitude de negociação entre o Estado e o investidor. Quando se diz que há um problema de cultura e se fala em justicialismo do DCIAP/MP, na verdade, o que parece haver é algo superprosaico: incompetência. Teremos de esperar que a formação de magistrados continue a melhorar e muito. Um cidadão é levado a pensar que falta clamorosamente no sistema dos grandes processos judiciários aos políticos o ser judicioso: sagaz e ponderado. Pelos vistos falta mesmo. E ao mais alto nível do processo, como se viu na entrevista da PGR. Já não dá para esconder.

José Elias de Freitas, Lisboa

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