eco.sapo.ptMarcus Torres - 11 jul. 10:39

Ter um carro elétrico não é um bicho de sete cabeças

Ter um carro elétrico não é um bicho de sete cabeças

É essencial desmistificar alguns pressupostos sobre a mobilidade elétrica em Portugal.

Começo pela conclusão óbvia: o crescimento da mobilidade elétrica em Portugal e na Europa é incontestável. No ano passado foram matriculados, em Portugal, mais veículos 100% elétricos novos do que o total de 2022 e 2021 somados. Estes dados garantem-nos que as pessoas compreendem as vantagens ao aderir à mobilidade elétrica o que nos obriga a encarar de frente os novos desafios e necessidades de serviços em torno deste setor. Contudo, é essencial desmistificar alguns pressupostos sobre a mobilidade elétrica em Portugal:

Não existem pontos de carregamento suficientes em Portugal

Segundo dados da ACP de 2023, estamos no top cinco dos países europeus com maior densidade de postos de carregamento, com uma média de 72 tomadas por 100 mil habitantes. Apesar de Portugal estar a acompanhar a evolução constante deste mercado é notório que a transição tem sido mais demorada que o esperado com enchentes nos postos de carregamentos comunitários, em mau estado, ou uma distribuição deficitária de postos em zonas menos urbanas.

Então, como se responde a este desafio? A aposta deve ser feita em torno das necessidades individuais, simplificando o dia a dia de cada utilizador, como por exemplo garantir pontos de carregamento nos locais onde permanecemos mais tempo, como nas nossas casas ou locais de trabalho. Assim, temos a certeza da qualidade de serviço ao mesmo tempo que reduzimos custos associados. Certo que não há fórmulas mágicas, mas, neste caso, os operadores do mercado como a ChargeGuru podem e devem garantir uma qualidade de serviço que ajude a transição energética ao mesmo tempo que simplifica o dia-a-dia dos utilizadores de veículos elétricos.

Instalar um ponto de carregamento de veículos elétricos é muito complicado para os condomínios

Oferecer estruturas direcionadas para a mobilidade elétrica é uma mais-valia incontornável nos dias de hoje. Contudo, em 99% dos casos os condomínios recusam-se a investir em infraestruturas ou na pré-instalação de uma infraestrutura de carregamento para veículos elétricos por não quererem suportar esse custo.

Esse investimento pode ser causa de discussão entre residentes tornando difícil chegar a um consenso sobre uma solução de carregamento. A resposta a estes mal entendidos e mitos urbanos pode ser dada pelos operadores já que existe a possibilidade de instalação das infraestruturas de carregamento sem qualquer custo para o condomínio. Depois, cada residente decide quando quer instalar os seus carregadores: quer seja hoje, daqui a um mês ou daqui a 3 anos. Nós, operadores, temos as soluções para estas questões ao mesmo tempo que contribuímos para a valorização predial e para a transição para modelos mais sustentáveis e económicos.

Os meus vizinhos nunca vão aceitar pagar estes custos

Este é um dos maiores mitos sobre o carregamento elétrico em prédios residenciais. A escolha individual de cada condómino não precisa necessariamente de afetar o vizinho. Com a instalação de uma infraestrutura de carregamento coletiva, apenas os utilizadores do serviço de carregamento pagam o mesmo e os restantes condóminos que não utilizam este serviço, não pagam nada. Tão simples quanto isto. Além disso, o consumo de eletricidade, será cobrado com base no consumo real (pagamento por utilização).

O meu edifício não está preparado para instalar vários pontos de carregamento

Não podemos negar que existe um problema estrutural nos edifícios mais antigos, localizados nas grandes cidades portuguesas. A falta de investimento dos proprietários reflete-se em vários aspetos, desde a qualidade da água até à eficiência energética passando pela qualidade de serviços passíveis de serem usados. Os edifícios antigos não estão tecnicamente preparados para ter um carregador em todos os lugares de estacionamento. Num futuro próximo, com o aumento de condutores de veículos elétricos em grandes centros urbanos, este problema terá tendência a piorar com destaque para os custos financeiros e falta de segurança.

No entanto, existem formas de implementar a infraestrutura sem interferir com a instalação elétrica existente. Basta abrir um novo ponto de fornecimento de energia/contador e instalar um quadro que permita efetuar a gestão da energia e dados de consumo. Isto permite instalar pontos de carregamento à medida que forem solicitados. Desta forma, os edifícios ficam equipados com uma solução escalável, que vai permitir aos gestores de condomínio/proprietários de edifícios responder às futuras necessidades de carregamento.

Perante o desafio atual da crise climática, a sustentabilidade ambiental no setor da mobilidade está a ganhar uma importância crescente cá dentro e lá fora. Temos de agir rapidamente para acompanhar as mudanças e ser uma solução viável para esta sociedade que queremos mais eficiente, focada nas energias verdes.

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