sol.sapo.ptJoana Andrade - 11 jul. 10:11

A guerra possível

A guerra possível

Esta guerra para já localizada no território da Ucrânia, interseta um espaço estratégico para a a Europa. Na verdade em causa estão a definição ou melhor a redefinição de fronteiras.

A Cimeira da NATO realizada em Washington, entre 9 e 11 de julho, que comemora os 75 anos da Aliança Atlântica, permite-nos fora da azáfama da diplomacia, das reuniões parcelares, do espaço mediático e dos comunicados finais, e claro da campanha interna eleitoral a decorrer nos A invasão militar da Rússia, que começou em 2014 na Crimeia e agora se estende para parte substancial do território da Ucrânia, tem igualmente contornos e ações geoestratégicas imprevisíveis e ainda pouco esclarecidas por parte da potência agressora. Podemos e devemos sempre questionar, até onde vai o alcance e a ambição imperialista de redefinir fronteiras e de conquista de outros territórios? E quais são os objetivos geopolíticos e geoestratégicos a médio e longo prazo da Federação Russa?

Com quase três anos de guerra, tudo isto sobreleva os receios da Europa e naturalmente de uma organização tão relevante e necessária para garantir a paz como é a NATO. Os seus trinta e dois Estados-membros e Aliados têm assim um grave problema na Europa para resolver. Por outro lado a NATO confronta-se também com uma União Europeia sem qualquer capacidade conjunta de defesa e segurança, e adormecida durante décadas. Os Estados Unidos como a potência dominante nesta organização e no espaço Ocidental, com responsabilidades e interesses globais, têm aqui um problema de que também não se podem eximir. Seja qual for a sua direção política, mais Democrática ou Republicana. O reforço da defesa e da dissuasão é a atividade principal da NATO e a Cimeira de Washington, mais do que fazer um balanço, terá de articular estratégias consequentes para um futuro realista. Percebe-se que as novas ameaças híbridas, como os ciberataques, as áreas e localizações de infraestruturas críticas e de infraestruturas submarinas também elas críticas, merecem desde já e de todos uma evidente prioridade. Os gastos com a defesa e a comparticipação dos Aliados per si neste crescer do esforço de guerra e de segurança na Europa, o desafio do Ártico (sete dos oito países do Ártico fazem parte da Aliança), o reforço da segurança do Flanco Sul, a desinformação e “o sério desafio da China” são evidentes patamares estratégicos de empenhamento.

Em boa razão a estratégia a seguir por esta organização única e fundamental para a sobrevivência da democracia e liberdade na Europa, tal como há 75 anos, depende da constante adaptação aos complexos desafios da segurança que se colocam nas diferentes partes do globo, mas com especial prioridade na sua área privilegiada de atuação regional.

Para já a guerra na Ucrânia está circunscrita a este território, até quando, não sabemos! É notório que de uma forma ou outra, todos os principais atores internacionais, desde os mais diretamente envolvidos, aos outros mais distantes, articulam estratégias de concertação sobre a “guerra do possível”. Que dependerá sempre dos riscos e das contingências a assumir. E nos quais até as ameaças de utilização do nuclear configuram possibilidades possíveis de articular. O envolvimento da NATO no espaço da guerra da Ucrânia e na defesa da democracia e liberdade, continua a ser entendido como uma estratégia de ir até onde é possível! E no qual, alcançar e defender a paz não poderá nunca ser excluído.

Coronel e especialista em geopolítica
Eduardo Caetano de Sousa | LinkedIn

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