www.publico.ptpublico@publico.pt - 10 jul. 06:23

A entrevista da procuradora e o “espalhafato”

A entrevista da procuradora e o “espalhafato”

Afinal, em vez de serenar os ânimos num sector já muito crispado, a rara entrevista conseguiu fazer um “espalhafato” e grande – coisa que Lucília Gago queria tanto evitar.

Não se pede ao procurador-geral da República que seja uma figura “popular”, com “o culto da imagem” ou à procura de “estrelato”, utilizando as expressões de Lucília Gago. Não é isso que está em causa.

O normal é viver-se num país onde se conhece quem tutela o Ministério Público e se possa ouvir da sua boca as explicações que entende dar.

Ao fim de mais de cinco anos de mandato, porém, a procuradora-geral da República deu a sua primeira entrevista (à RTP) e percebeu-se que foi uma entrevista com carácter excepcional — a própria o admitiu , mas muito reveladora.

Percebe-se que Lucília Gago não quis ficar calada mais tempo, porque entendeu responder a quem tem feito “pressão” e a quem a tem criticado, desde o Presidente da República à ministra da Justiça, a figuras do PS muito próximas de António Costa ou até aos subscritores do manifesto dos 50. Isso ajuda a perceber porque escolheu dar uma entrevista dias antes de comparecer na audição, que foi aprovada na semana passada, no Parlamento.

Para a procuradora-geral, todas as críticas fazem parte de “uma campanha orquestrada” contra o Ministério Público e, contrariando o recente discurso sereno do procurador-geral adjunto Rosário Teixeira, avisou, no fundo, António Costa de que não deve respirar já de alívio, porque os indícios podem ter mudado entre o dia em Maio em que foi ouvido na Procuradoria-Geral da República, como mero depoente, e o dia de ontem. Aliás, deteve-se no caso do ex-primeiro-ministro, que se demitiu depois de ter sido tornado público pela Procuradoria-Geral da República que estava a ser investigado, num acto que pode ter configurado violação do segredo de justiça.

Aliás, durante esta entrevista, Lucília Gago não se mostrou preocupada com violações do segredo de justiça, nem com o facto de haver pessoas a serem escutadas durante quatro anos (caso do ex-ministro das Infra-Estruturas João Galamba) e, quanto à detenção de arguidos durante 22 dias (os do caso da Madeira, em Janeiro), explicou que a culpa foi do juiz mas também dos funcionários de justiça, que estavam em greve.

Afinal, em vez de serenar os ânimos num sector já muito crispado, a rara entrevista conseguiu fazer um “espalhafato” e grande outra coisa que Lucília Gago queria tanto evitar. A tão esperada estreia no Parlamento, dentro de semanas, torna-se cada vez mais urgente.

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