SARA BELO LUIS - 9 jul. 22:01
Visão | A falta que faz (a dra. Joana Marques Vidal)
Visão | A falta que faz (a dra. Joana Marques Vidal)
"Há grandes pessoas que morrem cedo demais, muito antes de todo o seu tempo possível, de tantos e tantos dias em que ainda poderiam estar por aqui, recordando-nos o facto danado de haver tanta injustiça na vida." O pedopsiquiatra Pedro Strecht recorda a antiga procuradora Joana Marques Vidal, que hoje morreu, aos 68 anos
Há grandes pessoas que morrem cedo demais, muito antes de todo o seu tempo possível, de tantos e tantos dias em que ainda poderiam estar por aqui, recordando-nos o facto danado de haver tanta injustiça na vida.
Fazem-nos uma falta terrível. Pelo exemplo, pela seriedade e competência das suas vidas profissionais, pelo modelo de estar e ser no mundo. Hoje mesmo, foi-se embora a nossa querida drª Joana Marques Vidal. Conheci-a há tantos anos, em Família e Menores, claro. Na forma ativa e inteligente como defendia o interesse das crianças, deu-me a honra de escrever o prefácio de um livro seu, em 1999. O tempo passa, sem dúvida…
Mais tarde, viria o tempo enquanto PGR. E sobre ele, qualquer pessoa inteligente, de crítica e isenção naturais, sabe mesmo bem o que Ela representou nesse cargo: haverá sempre um antes e um depois da sua presença
Depois, seguia-a e vimo-nos mais do que uma vez durante a sua longínqua e injusta colocação nos Açores. Mas, de novo, voltou a ser superior, deixou marca. Sempre digna, forte, imensa no pensamento, contida na ação.
Mais tarde, viria o tempo enquanto PGR. E sobre ele, qualquer pessoa inteligente, de crítica e isenção naturais, sabe mesmo bem o que Ela representou nesse cargo: haverá sempre um antes e um depois da sua presença.
E agora, bem recentemente, há pouco mais de um mês, trocámos mensagens porque escrevi um artigo para o Público em que defendia que era tempo de Portugal ter, por fim, uma mulher Presidente da República. Era obviamente nela que pensava.
Hoje, a triste notícia da sua morte bateu-nos à porta. Sabíamos que estava mal, mas há sempre esperança, mesmo para um médico que sabe o risco evidente de certas situações. Resta-nos agradecer-lhe. Honrar a sua figura, os ideais que defendeu e praticou. Há gente que nos faz tanta, tanta falta.
Até breve, querida amiga. Até sempre. Desculpe não lhe ter ligado no fim-de-semana seguinte, como lhe prometera. Já não fui a tempo. Horrível é também o facto como no dia-a-dia o tempo nos toma, tantas vezes, o que é mesmo essencial.
Um beijo muito grande de imensa amizade e gratidão
Do Pedro Strecht