sol.sapo.ptFabio Sousa - 14 jun. 11:00

Euroconfusões

Euroconfusões

Ao olhar para os resultados vejo-os como um reflexo da ausência de credibilidade das candidaturas apresentadas.

O resultado das euro eleições constitui um excelente indicador do desnorte estratégico e político que pelo continente Europeu se vive. Mostram, de forma clara, a ausência de fidelidade eleitoral por parte dos eleitores, no que considero ser consequência direta da frágil consistência da atual classe política. Na nossa proximidade temos dois excelentes exemplos desse fenómeno: em França, a estrondosa derrota de Emmanuel Macron e, em Portugal, a queda do Chega para um percentual de cerca de metade do das eleições realizadas faz três meses.

Os principais atores perderam. O Partido Socialista, que ganhou as eleições, perdeu um deputado face às últimas, a AD que tinha ganho em março e cujo cabeça de lista se comprometeu, desde a 1.ª hora, a ganhar, não ganhou. Por fim, o Chega, fenómeno de crescimento das últimas legislativas, parece ter ido à máquina de lavar roupa, no programa errado, e encolheu. Encolheu muito!

A falta de verdadeiros líderes e acima de tudo a falta de coerência que caracteriza a generalidade dos políticos do main stream é cada vez mais evidente. As posições ao sabor da conveniência de curto prazo descredibilizam a política e constituem a razão para o gradual atraso relativo em que o país, e também o continente, se encontram. Entretanto fiquei sem entender bem o que vão os deputados eleitos por Portugal efetivamente defender, para Portugal e para a Europa. Percebo que na sua maioria estão de acordo com a distribuição de mais um lugar (nessa matéria são completamente experts…) a António Costa na presidência da comissão.

Também aqui fico absolutamente estupefacto com a incoerência displicente com que se tratam temas sérios. A começar por António Costa que se demitiu por considerar que sobre o primeiro-ministro não devem pairar quaisquer desconfianças e que agora sorri ao ser confrontado com a hipótese de vir a ser o próximo presidente da Comissão Europeia. Não me parece a forma mais airosa de tratar o cargo. A dualidade de critérios de António Costa neste domínio é absolutamente imprudente e, acima de tudo, não beneficia Portugal.

Quanto ao primeiro-ministro, Montenegro, também ele mostra uma vez mais a forma como a plasticidade das suas decisões serve essencialmente a tática sem estratégia e, mais grave, sem coerência. Para Montenegro, e até há meia dúzia de dias atrás, Costa era incompetente para primeiro-ministro e Costa estava, enquanto governante e político, profundamente fragilizado por via do resultado das buscas ao seu gabinete e aos dos seus assessores. Esta não é a minha opinião; esta era a opinião, diversas vezes verbalizada, de Montenegro. Ora o primeiro-ministro vem agora apoiar a possibilidade de António Costa ser o próximo presidente da Comissão Europeia. A sua justificação faz-me lembrar os entusiastas dos clubes de futebol que abrem exceções em apoiar as equipas adversárias em competições internacionais… Contudo, conheço vários que, estoicamente, nem nessas circunstâncias admitem alterar a sua convicção. A política e os critérios de distribuição de cargos de gestão dos dossiers europeus em nada se deviam assemelhar à forma como defendemos e apoiamos clubes de futebol. A mudança de critérios que Luís Montenegro e António Costa usam é bem demonstrativa da incoerência e falta de estratégia que caracteriza o estado da política. Falta-lhes o brio pelo fazer bem feito, falta-lhes a capacidade de fazer bem feito, falta-lhes a coerência estadista dos grandes líderes. Um aborrecimento mais na continuação da estagnação a que coletivamente estamos remetidos. Não são boas notícias para os portugueses.

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