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Em Estremoz, o centenário café Águias d´Ouro fecha por falta de segurança do edifício

Em Estremoz, o centenário café Águias d´Ouro fecha por falta de segurança do edifício

“Por iniciativa do proprietário encontra-se a decorrer o desenvolvimento de um projecto de intervenção profunda do imóvel”, classificado como de interesse público, esclareceu a autarquia.

O Café Restaurante Águias d´Ouro, em Estremoz, um dos ex-líbris da cidade, instalado num edifico classificado de interesse público, encerrou por decisão da câmara municipal, devido à falta de condições de segurança do imóvel, revelou o município.

Em comunicado, a autarquia indicou que, na sequência de uma vistoria, decidiu o "encerramento imediato" do estabelecimento pelo "risco que o edifício representa, tanto para funcionários, como para os clientes do interior e da esplanada, bem como para os transeuntes que passam em frente ao mesmo".

O café restaurante fechou esta quarta-feira e, no exterior, constatou a agência Lusa no local, a empresa que o explora afixou uma informação que indica que o município, de acordo com um ofício de 5 de Junho, decretou o seu "encerramento imediato, sem direito a audiência prévia".

Foto Uma foto de interior, partilhada nas redes sociais do café Águias d'Ouro

O fecho deve-se ao "facto de se tratar de uma situação de elevado grau de perigosidade, uma vez que há risco iminente de desmoronamento do edifício", pode ler-se na informação da empresa, que acrescenta que "as obras são da responsabilidade do proprietário do edifício".

No comunicado, a Câmara de Estremoz explicou que acompanha esta situação desde 2021, tendo, desde essa altura, "determinado uma série de trabalhos a realizar pelo proprietário".

"Por iniciativa do proprietário encontra-se a decorrer o desenvolvimento de um projecto de intervenção profunda do imóvel", disse.

Águias d'Ouro aguarda

"Fomos obrigados a encerrar o café restaurante Águias de Ouro por despacho do Município de Estremoz", refere-se em nota publicada no Facebook oficial do local, onde se refere o ofício que decreta o encerramento, "sem direito a audiência prévia". "Iremos por isso acatar a decisão", sublinha-se, indicando-se: "Não nos foram dadas alternativas". Há, porém, uma estranheza destacada no texto:"Estranhamos o timing desta súbita decisão já que a situação era já acompanhada pelo Município de Estremoz há mais de dois anos e tudo mudou de repente agora no Verão com esta rápida decisão, no Inverno quando choveu grandes quantidades de água, pelos vistos não existia risco nenhum." Na mesma nota, indica-se que as ""obras são da responsabilidade da empresa proprietária do edifício, a AROMATIS - Inversiones imobiliárias SA, e não da empresa que explora o espaço para restauração". 

Como se trata de um imóvel de interesse público, "qualquer intervenção no edifício tem obrigatoriamente de ter o prévio parecer favorável da administração do património cultural competente", neste caso, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo - Unidade de Cultura, frisou.

Segundo a câmara, em Abril deste ano, o proprietário informou que existia "um agravamento da situação da estabilidade do 2.º e 3.º piso (por verificação do projectista)", continuando o imóvel "ocupado e aberto ao público", pelo que deveriam ser "tomadas medidas urgentes e necessárias" para garantir a segurança.

O proprietário deu conhecimento desta mesma exposição à Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, de acordo com o comunicado camarário.

Em 15 de Maio, explicou o município, foi realizada ao imóvel uma "vistoria conjunta com o Gabinete Municipal de Protecção Civil".

Foto Uma foto da icónica fachada iluminada, partilhada nas redes sociais do café Águias d'Ouro

"Foi constatado o agravamento da situação de estabilidade e identificado que as condições do edifício se degradaram muito, existindo vários riscos de segurança relativamente à utilização do mesmo", argumentou a câmara, resumindo que a conclusão foi a de que "o prédio não apresenta condições de segurança para a sua utilização".

Em resultado desta vistoria "foram impostas" várias medidas, como o encerramento imediato do estabelecimento e da esplanada e a colocação de tapume ao longo da fachada, entre outras.

A autarquia revelou ainda que, posteriormente, foram comunicados, quer ao proprietário, quer à empresa exploradora do café restaurante, o teor do auto de vistoria e as medidas a adoptar.

Posteriormente, a fiscalização municipal verificou o "incumprimento do preconizado nas medidas imediatas", tendo o município ordenado "o despejo administrativo" do edifício.

"Ao município apenas cabe acautelar e zelar pela segurança de pessoas e bens, não se imiscuindo em situações entre particulares, pelo que continuará a monitorizar a situação neste edifício, ex-líbris da cidade, encetando todas as diligências necessárias para garantir a segurança de pessoas e bens", vincou.

Mais de um século de Águias d'Ouro

"Raro sobrevivente dos antigos cafés de tertúlia portugueses de início do século XX", como é apresentado pela autarquia de Estremoz na lista de atracções locais, é considerado uma "referência sociológica importante e um marco da memória colectiva de quem por aqui conviveu e convive". No imóvel é admirada a "arquitectura ecléctica, especialmente visível na linguagem decorativa da fachada", com "notória" "influência da Arte Nova". Assinalam-se a "platibanda decorada com flores-de-lis", "a propositada diferença dos sete vãos", "a utilização de vários materiais diferentes (cantaria, vitral, ferro forjado e azulejos) e a decoração com motivos geométricos, naturalistas e exóticos".

O imóvel foi construído entre 1908 e 1909, aponta-se, tendo sido inaugurado como café a 4 de Abril de 1909. "O seu proprietário inicial era Francisco Rosado, da firma Rosado & Carreço e o estabelecimento funcionava também como buffet e sala de bilhar". Após obras após nos anos de 1930 (projecto do arquitecto Jorge Santos Costa), foram feitas algumas alterações, particularmente "a transformação de uma das portas exteriores numa montra-janela e a remodelação da fachada térrea, ao gosto modernista da altura". "Em 1964, sob responsabilidade de José Manuel Pinheiro Rocha, transformou-se o primeiro piso em restaurante, destituindo o edifício de alguns elementos originais". Em 1997, assinala a câmara, foi declarado Imóvel de Interesse Público depois de "abaixo-assinado de moradores de Estremoz". 

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