sol.sapo.ptFabio Sousa - 14 jun. 15:37

Virar a página das guerras

Virar a página das guerras

É tempo de virar a página das atuais guerras. Dar alguma esperança à paz e à diplomacia política. O recente “Índice Global da Paz de 2024” agora divulgado, já reflete em boa verdade esta dura realidade dos conflitos na Europa e no Mundo.


A Europa, os Estados Unidos e outros países aliados, comemoraram em 06 de junho de 2024, os 80 anos do desembarque aliado nas praias da costa da Normandia. As praias designadas na Operação Neptuno e Overlord pelos códigos de Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword, foram campo de batalha inicial de mais de 156 mil militares que lutaram pelas “Forças Expedicionárias Aliadas” neste “Dia D” da guerra na Europa. Foram muitos milhares as baixas (mortos, feridos e desaparecidos) de ambos os lados desta Guerra. A “Muralha do Atlântico” alemã defendida por essa altura por Rommel, deixava romper as primeiras brechas que haveriam de destruir o regime ditatorial e expansionista da Alemanha nazi em toda a Europa. Nos discursos comemorativos em plena Normandia, numa cerimónia sempre muito emotiva, reafirmou-se o sentido de gratidão com todos aqueles que deram as suas vidas pela liberdade na Europa. A “Liberdade não é gratuita” como referiu o Presidente Joe Biden “ … se querem saber o preço da liberdade venham à Normandia e vejam os cemitérios…” aludindo em especial ao cemitério americano de Colleville-sur-mer onde se encontram sepultados 9388 militares americanos, entre muitos outros cemitérios.

As recentes eleições para o Parlamento Europeu mostraram por sua vez que o projeto europeu da União está vivo e corresponde aos anseios dos Estados e dos povos e cidadãos europeus. Um modelo único no mundo. Ficam no entanto os avisos e as ameaças de que os extremismos, de todas as matizes, estão vivos e necessitam de ser combatidos todos os dias. As grandes e decisivas potências da geopolítica europeia da União, França e Alemanha, deverão manter-se sempre de sobreaviso no difícil caminho da preservação da liberdade e democracia.

Tudo isto no meio de duas guerras que incendeiam o caminho do progresso e da paz na Europa.  A atual “Muralha Russa do Donbas” relembra de novo, como há 80 anos, o projeto do expansionismo militar de uma potência, agora na versão da Rússia autocrática de Putin, sobre a Ucrânia, e de algum modo sobre uma Europa sempre fragilizada e expetante. Mas a Europa já percebeu que a estratégia do passado recente em termos de passividade, nas políticas de segurança e defesa, não conduzem necessariamente à paz. Os desenvolvimentos do sistema internacional e os interesses geopolíticos dos principais atores internacionais sobrepõem-se muitas vezes às políticas de “alheamento” nestas matérias.

Também a Guerra de Gaza no Médio Oriente após o 07 de outubro condiciona a Europa. Se a questão humanitária em Gaza e da Palestina em geral urgem ser resolvidas, as ameaças e ações militares do Irão e dos seus aliados diretos o Hamas, Hezbollah, Houthis e outros grupos Jihadistas radicais aos Estados Unidos e à Europa, para além é claro de Israel, são uma realidade de há muito. Tudo isso está bem espelhado no alargado conflito do Médio Oriente. Também aqui o histórico europeu ou o caminhar mais atual sobre a “perceção mediática do conflito” não contribuirão certamente para a segurança regional.

Esta semana de junho e nas próximas, a dança diplomática sobre o tema das guerras será muito intensa: a Conferência para a reconstrução da Ucrânia; a Cimeira do G7 na Itália; o Grupo de Contacto da NATO para a Ucrânia; a Cimeira da Paz para a Ucrânia na Suíça; a Cimeira de doadores para Gaza (Urgent Humanitarian Response for Gaza); a preparação da Cimeira da NATO de julho em Washington e também a reunião das diplomacias dos BRICS realizada na Rússia. Falar em reconstrução implica necessariamente falar em paz e exigir determinação na obtenção da mesma, garantindo assim que a segurança e a soberania dos Estados não devem, nem podem ser questionadas. Tudo parece estar em cima da mesa, incluindo também a previsível continuação das guerras.

Tal como há 80 anos os Estados Unidos continuam a assumir, ainda que em modo de maior dificuldade, a liderança do espaço geopolítico ocidental nestas regiões. A perseverança que a atual administração americana tem demonstrado, inclusive agora na enésima tentativa renovada de acordo para um cessar-fogo em Gaza, é disso exemplo. Até ao final de 2024 os desenvolvimentos das guerras em curso, provavelmente pouco mudarão. Mas o cansaço e a exaustão é patente em todos os intervenientes. Contudo a paz só será possível no cenário internacional, garantindo sem equívocos a segurança regional. É assim na Europa, mas terá de ser assim no Médio Oriente. Estabelecer um caminho ajustado para os conflitos em curso é uma prioridade das diplomacias mundiais. Daí a responsabilidade das próximas

 lideranças na Europa. Uma Europa mais assertiva precisa-se. A página das guerras precisa também ela de ser virada.

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