sol.sapo.ptFabio Sousa - 13 jun. 19:30

Um drama no Porto

Um drama no Porto

Sérgio Conceição acabou por mostrar que não é muito diferente do célebre ‘Macaco’, ex-líder da claque portista, que também envolveu a mulher e a filha nas guerras do clube. Afinal, no FC Porto de Pinto da Costa, eram todos iguais, partilhavam a mesma cultura.

OFC Porto está em guerra.  O clube sofreria sempre um período de crise pronunciada depois da saída de Pinto da Costa.                           

Faz parte dos livros. O presidente agora derrotado esteve 42 anos no seu posto. Pegou num clube quase de província e ganhou tudo o que havia para ganhar a nível nacional e mundial. Não era um líder forte: era um líder fortíssimo. Adorado como um semideus. Podia fazer e dizer quase tudo o que lhe vinha à cabeça e continuava a ser idolatrado. Criou uma mística.

Tinha uma guarda pretoriana, uma espécie de máfia, que intimidava os seus opositores, zelava pela sua proteção, e o defendia até à morte. Estavam dispostos a morrer por ele.

A sua personalidade era tão forte que se prolongava pelo braço do treinador e chegava até aos jogadores, dizendo-se que poderia contratar o porteiro como treinador da equipa principal de futebol e seria na mesma campeão. O responsável pelos sucessos tinha um único nome: o dele.

Os árbitros eram sensíveis aos seus ‘argumentos’ e os tribunais temiam-no: o Apito Dourado foi exemplo disso.

Ora, a saída de um homem com este currículo e esta personalidade seria sempre traumática para o FC Porto. A um líder forte raramente sucede um líder duradouro, por mais qualidades que tenha. A um longo mandato, seguem-se sempre mandatos curtos – até ao dia em que surja uma nova figura carismática que agarre no clube e o reerga – com outra filosofia, outros princípios, outros métodos e outra personalidade.

É assim no futebol, na política ou nas empresas.

É quase uma lei universal.

Portanto, Villas-Boas, por muitas qualidades que tenha – e já se percebeu que tem –, muito dificilmente deixará de ser um líder passageiro. E o FC Porto levará algum tempo a recompor-se do abalo sofrido.

Mas se a força das coisas tornaria sempre este momento traumático, alguns protagonistas estão a torná-lo ainda mais devastador para o clube.

Sérgio Conceição está no centro do palco. A dois dias das eleições, assinou um contrato com Pinto da Costa que prolongava por 4 anos a sua presença como treinador. Era uma cartada desesperada de Pinto da Costa, quando percebeu que ia perder as eleições. E Conceição não pôde, não soube ou não quis dizer-lhe que não. A sua relação com ele, aquilo que lhe devia, talvez não o permitissem.

E, além disso, não tinha nada a perder. Sérgio Conceição só poderia ficar no Porto se Pinto da Costa ganhasse as eleições. Se fosse André Villas-Boas a vencê-las, Conceição nunca ficaria no clube. O novo presidente quereria mandar, quereria ser ele a dispor as pedras no tabuleiro, e Conceição não se sujeitaria às suas ordens. Nem Villas-Boas quereria a continuidade de Conceição, que se transformaria inevitavelmente numa fonte de problemas.

Até aqui, tudo é claro e compreensível.

O problema veio depois.

O adjunto de Sérgio Conceição, de nome Vítor Bruno, anunciou que queria seguir uma carreira a solo – o que era perfeitamente legítimo –, só que veio a saber-se que essa carreira poderia iniciar-se… no FC Porto. Por outras palavras, Bruno poderia ser o sucessor de Sérgio Conceição.

E aí o caldo entornou-se.

Conceição, que sempre se tinha dado com Vítor Bruno às mil-maravilhas, veio a público acusá-lo de «traição». Lançou a suspeita de que as conversas dele com o novo presidente já viriam de longe e eram feitas nas suas costas. E não contente com isto, meteu a mulher e um filho ao barulho, a atacarem Vítor Bruno. Alguns jogadores e técnicos entraram então na dança, montando no Dragão uma gigantesca peixeirada.

Já não bastava o presidente sair: também a saída do treinador se transformou num enorme drama, com lavagem de roupa suja e insultos na praça pública.

Vítor Bruno até pode não ter sido leal com Conceição. Mas este acabou por mostrar que não é muito diferente do célebre ‘Macaco’, ex-líder da claque portista, que também envolveu a mulher e a filha nas guerras do clube. Afinal, no FC Porto de Pinto da Costa, eram todos iguais, partilhavam a mesma cultura.

Por isso, tudo no clube vai ter de mudar. Será uma razia de alto a baixo. Depois de um reinado absoluto de 42 anos, era difícil as coisas serem diferentes.

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