rtp.pt - 11 jun. 15:26
Finlândia reforça patrulhas na fronteira com a Rússia perante novas rotas de migrantes
Finlândia reforça patrulhas na fronteira com a Rússia perante novas rotas de migrantes
A Finlândia está a endurecer políticas para dissuadir a passagem de migrantes que atravessem a fronteira com a Rússia. Uma das medidas passa por aumentar o policiamento de áreas remotas de florestas e lagos a leste do país. Os finlandeses acusam Moscovo de estar a canalizar migrantes através da fronteira comum para criar pressão sobre a Europa. A Rússia devolve a acusação, queixando-se de uma "provocação deliberada" ao serviço da NATO para justificar a implementação de áreas militares.
“A Finlândia não pode simplesmente permitir a abertura de uma nova rota (de migrantes) para a Europa”, alegou à Reuters a ministra finlandesa do Interior, Mari Rantanen, do Partido Nacionalista Finlandês.
Até ao verão, o Parlamento finlandês pretende aprovar uma nova legislação que, segundo os críticos, violará os compromissos do país em matéria de Direitos Humanos.
A nova legislação finlandesa prevê que a guarda fronteiriça recorra a milhares de reservistas para ajudarem a patrulhar a fronteira ou detetarem os sinais telefónicos dos migrantes. Entre as medidas está também a possibilidade de enviar os migrantes para centros de detenção e sem ter de aceitar pedidos de asilo. Desta forma, a Finlândia pode empurrá-los de volta para a Rússia.
No final de 2023, a Finlândia fechou indefinidamente todos os pontos de passagem para viajantes ao longo da fronteira com a Rússia, após de cerca de 1.300 migrantes vindos da Síria e Somália terem chegado por essa rota.
Migrantes que chegaram via Rússia à passagem de fronteira de Salla, na Finlândia, a 20 de novembro de 2023 | Guarda de Fronteira Finlandesa via Reuters Com a adesão da Finlândia à NATO, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022, as relações com Moscovo deterioraram-se acentuadamente. Helsínquia acusa agora o país vizinho de canalizar migrantes em direção à Europa via a fronteira comum. “No geral, não se trata de uma rota de migrantes: trata-se de uma situação em que as autoridades de outro país estão a ajudar ou mesmo a pressionar e a empurrar os migrantes para a fronteira da Finlândia”, alega Rantanen.
“Provocação deliberada”, denuncia a Rússia
Helsínquia interpreta este fluxo a norte da Europa como uma estratégia travada pela Rússia contra o Ocidente. Os finlandeses chamam-lhe uma " guerra híbrida” para destabilizar “a paz e a tranquilidade de lugares como Hoilola”. Moscovo já negou tal ideia e devolve as acusações, sugerindo que a própria Finlândia terá fabricado a situação fronteiriça ao convidar os migrantes. Poderá fazer parte de um plano para legitimar a construção de áreas militares ao serviço da NATO, diz a Rússia. "Acreditamos que a provocação deliberada de uma crise migratória na fronteira estatal russo-finlandesa é necessária para que as autoridades finlandesas implementem os planos da NATO e, acima de tudo, dos Estados Unidos, para implantar infraestruturas militares de campo e enviar tropas estrangeiras para o território, inclusive em áreas que fazem fronteira com a Rússia", argumentou o chefe do serviço de fronteira do Serviço Federal de Segurança Russo (FSB), Vladimir Kulishov, à agência de notícias estatal RIA em 28 de maio, citado na Reuters. Rantanen apelidou essa acusação de “absurda”, rejeitando-a.
Caso de Mohammed e Mahmoud
Os dois amigos sírios Mohammed, com 25 anos, e Mahmoud, de 27, chegaram à Finlândia e atravessaram em Salla em novembro passado, enfrentando a neve e temperaturas de 20 graus negativos. Mohammed relata que fugiu primeiro para o Egito para evitar o recrutamento militar sírio e depois pagou 2.500 dólares (2.330 euros) por um visto de estudante para a Rússia. "Entrei legalmente no posto de controlo russo e eles colocaram-me um carimbo de saída. Na Finlândia, mostrei-lhes o carimbo de saída e imediatamente deixaram-me entrar", disse à Reuters, acrescentando que pediu asilo do lado finlandês. O percurso de fuga foi sempre marcado por intermediários e o desembolso de dinheiro. Primeiro pagaram cinco mil dólares (4.700 euros), cada um, a um contrabandista sírio para chegar à Alemanha através da Bielorrússia, mas foram espancados e depois repelidos pelos guardas de fronteira polacos e lituanos. Os dois homens ouviram entretanto notícias de que a fronteira finlandesa com a Rússia tinha sido aberta. “Também estava no Telegram e já havia contrabandistas a divulgar os seus serviços para enviar pessoas para a Finlândia”, lembrou Mahmoud.
Mahmoud acrescentou que as autoridades fronteiriças russas controlaram a sua saída para a Finlândia, permitindo apenas a passagem de um número limitado de migrantes de cada vez. "Se a Rússia quiser afogar a Finlândia com refugiados, ela pode. Pode enviar dezenas de milhares de refugiados", rematou. O vice-comandante da Guarda fronteiriça finlandesa, Samuli Murtonen, sublinha que os procedimentos russos mudaram. Anteriormente, “os guardas de fronteira russos não deixavam ninguém atravessar sem um visto válido para a União Europeia”, mas agora qualquer pessoa que permaneça legalmente na Rússia pode deixar o país.
Entretanto, o Ministério do Interior reconheceu que os pontos da legislação temporária para empurrar os migrantes de volta para a Rússia violam os compromissos internacionais da Finlândia em matéria de Direitos Humanos.
Na segunda-feira, a Amnistia Internacional alertou que as medidas finlandesas para barrar o acesso ao asilo “correm o risco de servir como luz verde para a violência e a resistência na fronteira”.
Os dois amigos sírios ainda aguardam uma decisão das autoridades finlandesas sobre os seus pedidos de asilo.
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