expresso.ptRicardo Costa - 11 jun. 17:49

Os 'invisíveis da saúde': a realidade dos técnicos auxiliares de saúde em Portugal

Os 'invisíveis da saúde': a realidade dos técnicos auxiliares de saúde em Portugal

No cenário da saúde em Portugal, há um grupo de profissionais que, apesar da sua importância crucial, permanece à margem do reconhecimento e das discussões públicas. Estes são os Técnicos Auxiliares de Saúde (TAS), frequentemente chamados de "os invisíveis da saúde". Com um número aproximado de 150 mil, estes profissionais estão distribuídos pelo Serviço Nacional de Saúde (cerca de 25 mil e aos quais se aplica a transição de carreira mencionada neste texto), sector privado e social, desempenhando um papel fundamental no cuidado dos doentes

Desde sempre considerados os "parentes pobres da saúde", os TAS são tratados como "outros", "formigas", "indispensáveis invisíveis". É lamentável, mas não surpreendente, que os média optem por se focar exclusivamente em médicos e enfermeiros, ignorando a opinião e o contributo destes profissionais para o sistema de saúde.

Recebi recentemente um testemunho de um Técnico Auxiliar de Saúde que revela a profundidade do desprezo que este grupo enfrenta. No dia 31 de janeiro de 2008, ao entrar para um turno noturno, ele era um Auxiliar de Ação Médica, e no dia seguinte saiu como Assistente Operacional, despojado de uma categoria e carreira profissional que existia há mais de 50 anos. Em vez de descansar após 24 horas de trabalho, passou a refletir sobre como reverter esta situação inadmissível.

A sua luta não parou aí. Após a rejeição de uma primeira petição política, ele não desistiu. Na segunda tentativa, começou a mexer com a situação de desrespeito e desvalorização dos TAS em Portugal, uma realidade que não se verifica em outros países da Europa.

Os TAS trabalham em equipas multiprofissionais e multidisciplinares, realizando funções que vão desde a alimentação e higienização dos doentes até à preparação de salas de cirurgia e gestão de materiais clínicos. São também os responsáveis pela preparação de pacientes para exames e cirurgias, além de cuidar dos óbitos. Mesmo com tamanha responsabilidade, continuam a ser mal remunerados e a trabalhar sob condições extremas, frequentemente enfrentando exaustão e burnout.

Apesar do seu papel vital, estes profissionais são remunerados com o salário mínimo nacional e não têm vida além do trabalho. Não passam tempo com as suas famílias e enfrentam um desgaste emocional significativo, especialmente ao lidar com situações de morte e contaminação hospitalar.

É alarmante que o estado permita que pessoas sem qualquer formação específica trabalhem nesta área, ignorando a exigência de qualificação definida pela portaria 1041/2010. Após 16 anos de luta, foi finalmente criada uma nova categoria e carreira especial para os TAS. No entanto, a implementação foi desastrosa, com várias Unidades Locais de Saúde (ULS) incluindo profissionais de outras áreas que não têm contacto direto com doentes.

Esta situação resultou num grupo profissional com uma média de idades elevada, que foi o mais afetado pela pandemia em termos de infeções, mas que nunca recebeu o devido reconhecimento dos média. Recentemente, o plano de emergência da saúde em Portugal não ouviu este grupo, privando-se da sua valiosa experiência no terreno.

É imperativo que o governo e a sociedade reconheçam o papel insubstituível dos Técnicos Auxiliares de Saúde e lhes concedam o respeito, a valorização e as condições de trabalho que merecem. Eles são o braço direito e esquerdo do sistema de saúde, e a sua contribuição não pode continuar a ser ignorada.

Em nome destes profissionais, faço um apelo aos decisores políticos e à sociedade para que prestem a devida atenção a estes trabalhadores incansáveis que, apesar da sua invisibilidade, são o alicerce do nosso sistema de saúde.

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