Paulo Santos - 11 jun. 12:18
O que se passa nas Forças de Segurança?
O que se passa nas Forças de Segurança?
Será tão difícil entender que não se trata de uma mera questão apenas sócio profissional, mas uma questão de dignidade dos profissionais e da sobrevivência das Instituições?
Uma pergunta que se coloca e que o governo não sabe, ou parece não saber responder.
Desde o início do processo negocial sobre o suplemento de condição policial, foi transmitido à MAI, da importância de imprimir a máxima sensibilidade, no contexto em que este processo assentava.
Não por a questão específica e objetiva do suplemento de condição policial, como sendo o único problema das forças de segurança, mas por este ter um significado diferente, uma vez que o enquadramento em que surgia, relevava o culminar de anos e anos de desvalorização e irresponsabilidade dos governos e também a gritante desmotivação e saturação dos profissionais das forças de segurança.
Naturalmente que todos percebemos que deveria existir, aí sim, uma preocupação pelas tabelas remuneratórias, da mesma forma, sabemos que questões como a reestruturação dos demais suplementos e a resolução de outros tantos problemas, como por exemplo o respeito pela pré-aposentação, estão há muito por resolver.
A questão não é essa, a questão é outra, vejamos, a consagração de um suplemento de missão aos profissionais da PJ e a outros que nem tão pouco possuem a condição policial, deixando de fora os profissionais da PSP e GNR na dignificação e valorização do seu suplemento de condição policial, esses, os tais que se deparam há muitos anos com a ausência de uma dignificação nas suas carreiras, colocando-os num patamar de inferiorização, que não se pode permitir por todas as razões que julgo os portugueses reconhecem, colocam naturalmente a discussão noutros termos e evidentemente foi este facto o despoletar da ira.
São missões abarcadas e alargadas, são ocorrências cada vez mais exigentes, complexas e arriscadas, é disponibilidade cada vez mais permanente, são cortes de folgas e férias por mais e diversas razões, são policiamentos privados com recurso a serviço público, é tabela remuneratória de carreira especial, mas tratada como geral, são suplementos por reestruturar desde 2009, são condições de trabalho débeis, é fadiga, burnout, desgaste, é incumprimento doentio da pré-aposentação, são reconhecimentos, promessas e anúncios que soam a constante populismo e provocação.
No mesmo sentido, do que falamos são instituições sem capacidade operacional, policiamentos e resultados assentes nos cortes de direitos dos polícias, são concursos e cursos sem candidatos, são mapas e resultados operacionais de sustentação duvidosa, são esquadras sem policias, são policias sem viaturas, são serviços sem meios, são mantas de retalhos, são problemas e problemas, sem que ninguém se aperceba que eles existem e estão aí.
Estas duas nuances, uma polícia que está ligada às máquinas e que ninguém pretende desligar e muito menos a salvar e um quadro de desmotivação gritante que se alarga a todos os profissionais, nas suas variadas dimensões, estão, ou deveriam estar intrinsecamente ligados ao processo negocial em curso, mas não estão.
Quando se afirma que não existe mais disponibilidade orçamental, quando se invoca à pressa e oportunisticamente outras soluções de resolução do impasse, quando se recorre à argumentação de que o governo anterior foi o causador do problema, quando se comunica de forma pouco rigorosa e principalmente, quando se "encosta os polícias às cordas" com a estocada final de, "ou é isto ou é nada", após meses de luta tão intensos, constantes, transversais e agudos, perdoem-me, mas uma vez mais, é não entender nada do que se passou, passa e passará.
Posto isto, a matéria é extremamente sensível para, por um lado, ser tratada de forma irresponsável e populista por uns, mas por outro lado, ser tratada de forma leviana e surda por outros, mas uma coisa parece evidente, não pode caber aos representantes legítimos dos polícias, depois dos alertas, sinais, contributos sérios e construtivos deixados, o ónus de preservar a estabilidade nas forças de segurança, mas esse ónus ficará na responsabilidade do poder governativo que, ao não perceber o contexto, está a patrocinar o caos, a desordem e ainda o mais grave, a falência das FS.
E assim, não poderão recorrer uma vez mais à prática do passado, pois o passado já lá vai, e hoje, bem ou mal, os polícias não são só os tais profissionais de excelência que Sua Santidade, responsáveis políticos e demais enaltecem, aquando dos famigerados reconhecimentos pontuais ou populistas, estes profissionais são também a demonstração da não aceitação de tratamentos passados, ou seja, está mal, mas cumpre e cala.
Ainda vamos a tempo de resolver os problemas dos polícias? Eu diria, ainda vamos a tempo de salvar "as Forças de Segurança".