www.sabado.ptCatarina Caria - 10 jun. 18:19

Vai Mafalda, Vai!

Vai Mafalda, Vai!

Opinião de Catarina Caria

Falar de deficiência é ainda um tema tabu em Portugal, revestido de delicadezas e de "politicamente corretos", entre o certo e o errado, o inclusivo e o discriminador.

A Associação Portuguesa dos Deficientes refere que há cerca de um milhão de pessoas que sofrem de deficiência e/ou incapacidades várias, mas o Estado português sabe muito pouco acerca desses cidadãos.

Para Mafalda Ribeiro, consultora de diversidade e inclusão, autora e public speaker, a deficiência faz parte do seu vocabulário, mas não a define.

Conheci a Mafalda em Bruxelas aquando da aprovação do cartão europeu de deficiência e o cartão europeu de estacionamento para pessoas com deficiência, na companhia do eurodeputado João Albuquerque. A Mafalda, Mafi, para os amigos, é mesmo uma mulher de fé e boa energia sem limites. Noventa e sete centímetros de humor, confiança e bom gosto, capazes de preencher qualquer sala em que entre.

É que a vida corre-lhe mesmo sobre rodas e não é mulher de fortes queixumes - "Sou muito pouco ativista, gosto pouco de reclamar. O preconceito vem de um lugar de desconhecimento, e do medo de errar; é a ausência de conceito que pode resvalar facilmente para a discriminação. Por isso sei que o caminho a percorrer para desconstruir certas ideias requer humildade e trabalho em equipa. A cultura dos ‘achismos’ e do ‘não poder dizer nada’ é contraproducente. Sou sempre pela pedagogia."

Ainda assim, Mafalda ressalva que a deficiência não é só solidariedade e caridade barata. "Quando metes uma rampa num estabelecimento, não me estás a fazer um favor. É um direito meu. A pessoa com deficiência também paga impostos, também é cidadão."

Há 41 anos que convive com a doença rara congénita - Osteogénese Imperfeita (apelidada de "doença dos ossos de vidro") – e, embora adore falar, é com poucas palavras que Mafalda vai quebrando o estereótipo condescendente da mulher com deficiência, com mantinha pelas pernas, sem unha feita e jamais com sapatos presunçosos. "A Mafalda é muito vaidosa, não é?" - pergunta recorrente a que responde sempre "Não, sou mulher."

Jornalista de formação, a autora de "Mafaldisses – Crónicas sobre rodas" e do mais recente livro Gotas no Charco encara a escrita e as inúmeras palestras que dinamiza como uma extensão das suas ideias, "Eu não tenho um guião, nem uma palestra igual. Preciso de sentir e saber o público, entender a sua linguagem. Gosto de usar muito o improviso. Ter vinte mil pessoas a olharem para mim não me assusta."

Foi no Cristianismo evangélico que Mafalda encontrou a sua identidade e fé. "Andar numa cadeira de rodas não foi uma decisão minha, converter-me foi. Não há Mafalda sem Deus."

Mafalda reconhece que aquilo que, para alguns, possa ser um produto estragado, é, para ela, uma obra de arte, e admite ser prudente na narrativa que usa para não incorrer em moralismos.

"Não podemos cair nos extremos do ‘deficiente desgraçadinho’ ou do ‘deficiente super-herói’. Não posso entregar mais nada a ninguém do que esperança, mas isso não quer dizer que vá correr tudo bem, porque não vai. Estou cansada de as pessoas virem com pezinhos de lã que só criam elefantes na sala."

A palavra preferida da Mafalda é mesa, porque "à mesa somos todos do mesmo tamanho" e de todos os verbos, é o "ir" que a define. "Eu tenho uma intencionalidade em ir - disse-me Mafi - "Talvez fizesse mais sentido que esperasse que viessem ter comigo, tendo em conta a minha mobilidade reduzida. Mas não. E o ir nem sempre implica que vá a algum lado. O simples facto de escrever faz com que eu vá."

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