sol.sapo.ptJoana Andrade - 10 jun. 13:33

Qual Europa, qual quê

Qual Europa, qual quê

Sobre os resultados nacionais, ganhou a abstenção. E apenas por causa disso, perdeu em votos o Chega.

Constatação: ouviram algum político português ontem ao findar a noite de eleições, terminar o seu discurso com um “viva a Europa”? Não. Terminaram no máximo, com vivas a Portugal. E é assim. Não que Portugal deva contar menos que a Europa, mas quando elegemos os nossos representantes para uma Europa que nos salva anualmente da miséria, é feio. Feio, porque demonstra com clareza a razão por que continuamos na União, por simples interesse. Pelo menos nisso, não foram hipócritas.  

Falta-nos a todos esse desígnio europeu, que mobilizou o surgimento da união, para através do diálogo garantirmos a paz, evitando novas guerras no continente. Falta-nos o sonho, o orgulho, sentirmos a beleza de nos olharmos como europeus, porque nos mantemos ignorantes com diplomas emoldurados nas paredes.

Quanto ao quantos são e quantos somos, ao elegermos apenas 21 por entre a totalidade dos 720 deputados europeus, poderá parecer-nos pouco, quando na realidade são manifestamente demasiados, sabendo que em teoria, somente somos 10 dos 370 milhões de cidadãos (aptos a votar) nos 27 países da União Europeia. 

Tenhamos em conta que oficialmente os 50 milhões de eleitores franceses, elegeram 81 eurodeputados, enquanto os 10 milhões de votantes portugueses, elegeram 21 políticos para idênticos cargos, em primeira análise comparativa, Portugal é favorecido. 

Em Espanha são 38 milhões de possíveis votos, para 61 eleitos. Ou seja, quase 4 vezes mais cidadãos nuestros hermanos, para 3 vezes mais deputados.  Vantagem nossa, de novo.  

Contentemo-nos então, e não façamos alarde disso, senão ainda nos cortam alguns. 

Porque nas legislativas aquele partido foi buscar 10% dos seus votos, aos eleitores que normalmente se abstêm, e desta feita regressaram ao seu tradicional mutismo, como resposta à pequena arrogância do André, que preferiu pagar favores internos, ao invés de apresentar um cabeça de lista mais forte e jovem. Que porventura, se poderia transformar no futuro, como oponente ao Ventura. Um mês e meio atrás, escrevi a avisar disso. O falhanço é ainda maior, porque ao ganharem 2 eleitos, poderiam ter elegido o dobro e desse modo com a mesma machadada, terem eliminado os deputados da CDU e do BE. 

O partido do Ventura ontem, falhou muito mais, do que aquilo que se pensa. Teriam confirmado uma base de votos na casa dos 20%, e com isso, tinham arrumado com a extrema-esquerda. Assobiem agora para o lado, que os cravos vermelhos agradecem, sem sequer se aperceberem (e admitirem) do desastre ao qual escaparam. A democracia agradece, pois a pluralidade é um fator positivo.

Perdeu o PAN e perderam todos eles deputados, exceto o IL que duplicou em votos. 

Se a AD foi constituída para aumentar o seu espectro político, não consegue subir dos 30%, onde tal como o PS, se cristalizaram. A diferença reside no eleitorado conservador, que vota sim, mas não vota na AD. Montenegro sabe-o.

O paradigma alterou-se, porque quem controla as eleições, são os 10 a 20% dos abstencionistas, claramente à direita e agora radicalizado. Muitos deles, são jovens. Os políticos deveriam refletir sobre isto, quando não pensam nos bolsos deles próprios. Ou seja, nunca. Mas deveriam…

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