visao.ptFILIPE LUIS - 9 jun. 22:55

Visão | A vitória dos empatas: estes números não dão confiança a Pedro Nuno para deitar abaixo o Governo

Visão | A vitória dos empatas: estes números não dão confiança a Pedro Nuno para deitar abaixo o Governo

O Chega definiu o seu núcleo duro de votantes fixos. Um número similar ao do PCP, durante anos. Mas o PCP estava em erosão, o Chega está a crescer...

Ainda que o PS tenha ficado à frente, ninguém vai querer tirar consequências práticas para uma leitura nacional. O empate técnico, que se mantém estável, na sociologia eleitoral portuguesa, entre a AD e os socialistas, não dá margem a Pedro Nuno Santos para deitar abaixo o Governo e ter a esperança de que dispara, depois, para uma maioria confortável, em legislativas antecipadas. Estes números não lhe dão essa confiança. Pelo contrário: pode ser penalizado por isso. Por exemplo, o seu parceiro tático no Parlamento acaba de ser penalizado pela obstrução ao Governo da AD…

Falamos do Chega, claro. O que justificará a sua perda, tão significativa, em apenas três meses? Será a qualidade do seu cabeça de lista, muito fraco em toda a campanha? Será por votar ao lado do PS – lá está… – em sucessivas vagas de bloqueio à iniciativa do Governo, na Assembleia? Será porque os abstencionistas crónicos que resolveram protestar em março, desta vez, acharam que já não valia a pena? É tudo isto um pouco. Mas afinal, o bi-partidarismo não acabou, em Portugal?

Este resultado, de uma certa forma paradoxal, não é uma péssima notícia para o Chega. Pelo contrário. O partido de Ventura foi a jogo, com um candidato desconhecido, para apurar qual é, hoje, o seu núcleo duro. O seu eleitorado fixo. Aparentemente, fixou-se na casa dos 10 a 12 por cento. É uma razoável base. Estes eleitores, os dos núcleos duros dos partidos, são aqueles que estão dispostos a sair de casa em quaisquer circunstâncias, para votarem não importa em que candidatos. O PS tem esse núcleo duro, hoje em dia, na casa dos 28 a 29%, o PSD anda pelos 24 a 25 por cento. Este núcleo duro do Chega é equivalente ao que foi, durante anos, o do PCP. Sendo que o PCP se encontrava em erosão. E o Chega encontra-se em crescimento. É verdade que André Ventura chegará, terça-feira, ao Parlamento, com a crista bastante mais em baixo, o que será saboroso para muitos dos seus adversários. Mas agora sabe o que realmente vale e o potencial que tem. E poderá pensar, com fundamento, que resultado podia ter tido o partido se apresentasse, por exemplo, Rita Matias, ou, até, Pedro Pinto.

O momento mais surrealista da noite, até agora, foi o da declaração de João Oliveira. Por que razão um cabeça de lista vem fazer uma declaração formal? Será que já sabe que foi eleito e vem congratular-se? Ou que não foi eleito e vem assumir a derrota? Nem uma coisa nem outra. João Olibeira veio fazer um comício, esquecido de que a campanha eleitoral já terminou. O jornalista Carlos Daniel, na RTP, perplexo, perguntou a João Ferreira, que integrava o painel em estúdio: “A declaração do seu camarada João Oliveira é a de quem foi eleito, ou de quem não foi?” Fugindo à questão, João Ferreira considerou que “é preciso ter coragem, hoje em dia, para votar na CDU”. O camarada Ferreira esquece-se de que, ao contrário do que acontece no seu partido, o voto nacional é secreto. Coragem para quê? Foi o segundo momento surrealista da noite. CDU 2, resto do mundo, zero.

Outra pergunta que se impõe, é a seguinte: o cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, foi bem escolhido ou não foi? E a resposta poderá ser: foi uma escolha irrelevante. Nem foi má nem foi boa. Em princípio, a sociologia eleitoral atual indica que o resultado seria sempre o mesmo. E o mesmo é válido para Marta Temido. Está tudo empatado: se os cabeças de lista do PS e da AD tivessem sido dois sacos de batatas, o resultado seria idêntico.

Palavra final para João Cotrim de Figueiredo, que, no momento em que escrevemos, está a disputar o 3.º lugar ao Chega. Nem nos seus melhores sonhos a IL pensaria que tal fosse possível, tão cedo. Bem, aqui, um saco de batatas teria muito menos votos. Em 1987, as eleições legislativas foram no mesmo dia das europeias. O PSD de Cavaco Silva teve mais de 50% e a primeira maioria absoluta. O CDS de Adriano Moreira teve 4% e tornou-se o partido do táxi. Mas isso foi no voto legislativo. Para as europeias, no mesmo dia, à mesma hora e na mesma mesa de voto, os eleitores deram 37% a Santana Lopes, cabeça de lista do PSD, e 15% a Lucas Pires, cabeça de lista do CDS. O eleitor não é estúpido e sabe distinguir entre eleições. Cotrim terá sido o Lucas Pires de 2024.

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