expresso.pt - 16 mai. 20:00
A amizade sem limites de Xi e Putin e o tudo ou nada em Kharkiv: o dia 813 em guerra
A amizade sem limites de Xi e Putin e o tudo ou nada em Kharkiv: o dia 813 em guerra
O Presidente russo, em visita de Estado à China, uniu a sua voz à de Xi Jinping: “Somos bons exemplos para garantir a paz, estabilidade e prosperidade no mundo”. Entretanto, em Kharkiv, continua a violenta ofensiva russa: já há denuncias de crimes de guerra e Zelensky foi visitar (e moralizar) as tropas
Recebido com salvas de canhão, guarda de honra e uma banda militar a tocar o hino russo, Putin chegou esta quinta-feira a Pequim e por lá continuará até sexta-feira em visita de Estado — agora que foi de novo empossado Presidente.
Em 2022, pouco antes da invasão russa da Ucrânia, estiveram os dois também juntos em Pequim e de lá proclamaram “uma amizade sem limites”. A Ucrânia foi invadida em seguida, a comunidade internacional vem acusando Xi Jinping de ambiguidade — porque o gigante asiático nunca condenou a operação militar russa e apela à paz e ao diálogo mantendo laços militares com Moscovo —, mas a verdade é que permanecem amigos e repetem-no para quem quiser ouvir. Fizeram-no hoje.
Enquanto recordava que manteve encontros deste tipo com Putin “mais de quarenta vezes”, o Presidente chinês afirmou que os dois países “vão continuar a consolidar esta amizade e a defender e preservar a justiça no mundo”. E ainda falou de amizade uma segunda vez, Xi Jinping: Pequim e Moscovo devem continuar a trabalhar para serem “bons vizinhos, bons amigos e bons parceiros”.
Considerando-se, os dois, “bons exemplos para garantir a paz, estabilidade e prosperidade no mundo”, o conflito na Ucrânia foi assunto no encontro e a busca por um acordo de paz também.
Numa declaração conjunta, Xi e Putin falam da necessidade de uma “solução política”, que é a “direção certa”, para esta guerra que dura já há dois anos. Putin agradeceu a Xi a sua “iniciativa para resolver este problema”, Xi devolveu que a posição chinesa é “consistente e clara”.
Ambos defendem a realização de uma conferência internacional, "reconhecida tanto pela Rússia como pela Ucrânia", para retomar o diálogo.
Enquanto se apela ao diálogo — e Putin já havia dito de véspera que procurava uma “solução abrangente, sustentável” —, a verdade é que a Rússia avança já há uma semana sem piedade sobre a região de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, a incursão fronteiriça mais significativa desde o início da invasão em grande escala.
Volodymyr Zelenskyy já afirmou e repetiu que só haverá acordo se se garantir a restauração da integridade territorial da Ucrânia, a retirada das tropas russas, a libertação de todos os prisioneiros e a criação de um tribunal independente que julgue os responsáveis pela agressão.
A incursão sobre Kharkiv é considerada tanto mais crítica quanto mais falham as defesas ucranianas, atrasado que tem estado o fornecimento de mísseis antiaéreos e cartuchos de artilharia. Ainda assim, o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken anunciou na véspera da visita de Putin à China um montante adicional de €1,83 mil milhões para ajudar a Ucrânia a adquirir armas e a aumentar a capacidade de produção da sua própria indústria militar.
Mais ou menos armado, o exército ucraniano vai travando como pode esta incursão de Moscovo e o porta-voz das forças ucranianas na região, Nazar Voloshin, descreveu assim o cenário no local: “A situação na zona de Kharkiv continua complicada. As nossas forças de defesa conseguiram estabilizar parcialmente a situação. O avanço do inimigo em algumas áreas e localidades foi interrompido, mas [a Rússia] ainda está a tentar criar as condições para novos avanços”.
Num tentativa de moralizar as trompas, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e membros do Governo deslocaram-se hoje a Kharkiv. A visão de Zelensky é, apesar de tudo, menos preocupante.
“Até agora, a situação na região de Kharkiv está geralmente sob controlo. Estamos a reforçar as nossas unidades”, garantiu Zelensky, ele que j�� esta semana ordenou o envio de reforços para Kharkiv, cancelou todos os compromissos no estrangeiro nos próximos dias — incluindo deslocações a Espanha e a Portugal — e pediu aos EUA mais dois sistemas de mísseis "Patriot" para defender Kharkiv.
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA⇒ Esta quinta-feira Kiev acusou o exército russo de fazer detenções arbitrárias e executar civis na cidade de Vovchansk, precisamente na região de Kharkiv. "Os soldados russos, que estão a tentar entrar na cidade, não permitem a saída dos habitantes: começaram a raptar pessoas e a levá-las para as caves", declarou o Ministério do Interior ucraniano. Não é a primeira acusação ucraniana ao Kremlin de crimes de guerra, somando-se ao massacre de Butcha, subúrbio de Kiev, e à deportação de crianças ucranianas — crime pelo qual Putin é objeto de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional.