www.sabado.ptDavid Erlich - 15 mai. 20:53

O smartphone na escola: um esboço restritivo pragmático

O smartphone na escola: um esboço restritivo pragmático

Opinião de David Erlich

Seria esta a última crónica de um trio com soluções para resolver o problema da falta de professores. Mas, na vida como na escrita, o ímpeto planificador vê-se desafiado pelas surpresas com que o quotidiano nos vai brindando. Penso que antecipas já, caro leitor, o que agora te confesso: a finalização desse trio de crónicas ficará para a próxima semana.

É que, se por um lado ainda estou a refletir sobre o desafio a que me propus (como melhorar a eficiência do próprio sistema), por outro, recebi um desafiante email. Numa iniciativa de louvar, quis a direção do agrupamento em que trabalho auscultar a comunidade sobre medidas a adotar quanto ao uso de telemóveis nas escolas.

Entusiasmado por tal possibilidade, enviei um esboço de princípios orientadores. Partilho aqui, portanto, uma versão revista de tal esboço. Sublinho que se trata de uma proposta pensada para um processo restritivo, ou seja, de diminuição da permissividade no uso do telemóvel. Havendo escolas que tenham modelos mais restritivos do que este, parece-me muito bem que o mantenham.

A palavra hipótese designa algo que está abaixo – hypo – da tese. Assim deve ser entendida esta partilha: como zona reflexiva em que a dúvida e a convicção coabitam. Uma exploração, em suma.

Desde logo, parece-me importante distinguir problemas que são, efetivamente, diferentes, apesar de interligados. Um deles é o problema geral do ecrã: se queremos, por exemplo, substituir livros e cadernos por tablets. Esse não é o foco desta crónica. Outro problema, que sim é o tema sobre o qual aqui me debruço, concerne a um tipo específico de ecrã: o que fazer ao telemóvel, entendido, hoje em dia, como smartphone.

Neste problema, por sua vez, há que distinguir entre dois tipos de utilização. Frequentemente o debate público sobre este tema não tem em conta esta distinção essencial. É que uma coisa é a utilização pedagógica do telemóvel, outra é a utilização livre. Por utilização pedagógica, podemos entender o uso estruturado do telemóvel em contexto de aula, com monitorização do docente e o objetivo de levar a cabo atividades didáticas. Por utilização livre, podemos entender o uso não monitorizado do telemóvel durante os intervalos, como meio de comunicação, nomeadamente com a família, ou como ferramenta lúdica, para jogos ou redes sociais, por exemplo.

Ora, o problema do uso do smartphone coloca-se sobretudo a partir do segundo ciclo. É que – parece-me – a generalidade das escolas de primeiro ciclo simplesmente inibe, e bem, o uso do smartphone.

No segundo ciclo, a minha proposta é que a utilização livre, normalmente permitida, seja, pelo menos, parcialmente limitada. O aluno não poderá usar o telemóvel na escola – essa será a regra. No entanto, o primeiro e o último intervalo do dia serão exceções: o telemóvel poderá ser usado tanto como meio de comunicação, como para efeitos lúdicos. Ou seja, o telemóvel tem de se manter desligado e dentro da mochila, mas no primeiro e no último intervalo, o aluno tem liberdade para interagir livremente com o telemóvel. A lógica é que, ao permitir, aí, que o aluno comunique com a família para articular questões logísticas – nomeadamente se chegou bem para aqueles que se deslocam sozinhos ou que membro da família o irá buscar – se permita também a utilização lúdica (já que, não havendo a figura do professor titular, é tarefa impossível distinguir entre ambas as utilizações no contexto do intervalo escolar). Quanto à utilização pedagógica, parece-me que as aulas no segundo ciclo não deverão assentar de modo rotineiro no uso de telemóvel.

No terceiro ciclo e ensino secundário, a utilização pedagógica deve ser permitida e a utilização livre também, embora deva ser regulada. Uma ideia, por exemplo, é inibir o seu uso na hora de almoço; promover junto da comunidade escolar - até pode haver um lema, como "almoço olhos nos olhos" - o convívio sem ecrãs.

Este esboço é um mínimo restritivo. Havendo oportunidade para aplicar modelos mais restritivos da utilização livre do telemóvel em contexto escolar, penso que devem ser aplicados. Porquê? Isso ficará para outra crónica.

Ora bolas! Já tenho dois TPC. Mais crónicas do autor 19:53 O smartphone na escola: um esboço restritivo pragmático

Uma coisa é a utilização pedagógica do telemóvel, outra é a utilização livre. Por utilização pedagógica, podemos entender o uso estruturado do telemóvel em contexto de aula, com monitorização do docente e o objetivo de levar a cabo atividades didáticas.

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