expresso.ptHenrique Raposo - 14 mai. 10:10

Ricardo Araújo Pereira não tem de entrevistar os minions do Ventura

Ricardo Araújo Pereira não tem de entrevistar os minions do Ventura

Ao recusar entrevistar pessoas do Chega, Ricardo Araújo Pereira está a dizer uma coisa óbvia: os cheganos não estão a jogar o jogo democrático. Não querem jogar à bola como os outros, querem ficar com a bola

Vivemos de facto uma época em que as pessoas confundem conceitos e campos com demasiada facilidade. É uma das marcas da infantilização do espaço público. Pessoas que, de manhã, veem numa palavra uma “microagressão” intolerável estão à tarde a comemorar o massacre de judeus ao lado de outras pessoas que são a negação total do que defenderam de manhã. Como é que as palavras doem mais do que ações mortais? E onde é que está a mais pequena coerência conceptual e política? Se é pró feminismo e pró LGBT, como é que o “ativista” de esquerda pode estar sempre ao lado – mas sempre mesmo – da entidade mais misógina e homofóbica (o patriarcado muçulmano)? Se é pró vida e pró família, como é que o “ativistas” de direita pode estar contra casais homossexuais que geram e adaptam vidas e como é que muitas vezes namora com a pena de morte?

Todos nós temos um pouco de incoerência, mas o nosso trabalho intelectual e cívico passa sempre por tentar fechar essas incoerências. Mas hoje em dia esse trabalho é visto como uma violação dos “safe spaces” a que alegadamente as pessoas têm direito.

A confusão continua. As pessoas que se queixam da intromissão dos outros na sua vida são as mesmas que expõem por completo a sua vida nas redes. Há pessoas ainda que não compreendem a diferença entre factos e narrativa, pois só aceitam a vigência da sua narrativa. Acham mesmo que os factos são ofensivos. E depois há pessoas que não compreendem o que é o humor, como já aqui descrevi. O que me leva ao ponto desta coluna: exigir a presença de pessoas do Chega no programa de humor de Ricardo Araújo Pereira é um absurdo. Ricardo Araújo Pereira não é jornalista, é humorista, logo não tem o dever de convidar pessoas do Chega para o seu programa de entretenimento. Não há aqui quotas, porque isso interfere diretamente com a liberdade criativa. Ademais, o humorista não tem de ser parcial ou neutral. Aliás, não deve.

Para lá do riso ou debaixo do riso, devemos muito ao trabalho coerente de Ricardo Araújo Pereira: de manhã, critica intelectualmente o fanatismo woke e à noite critica politicamente o fanatismo do Chega. , o que é bastante diferente. Ventura é aquele puto que agarra na bola para dizer “a bola é minha, a bola é minha”. E, quando os outros reagem, este puto vai fazer queixinhas e vestir-se de mártir. Já expliquei isto às minhas filhas. É um pouco estranho ter de explicar mesma coisa a adultos vacinados, sobretudo adultos vacinados de instituições que dão vazão às queixinhas. Porque é que a ERC e a CNE estão a ser perfeitos idiotas úteis do Chega?

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