visao.ptvisao.pt - 27 abr. 08:00

Visão | "Challengers", de Luca Guadagnino: Jogar ao amor num court de ténis

Visão | "Challengers", de Luca Guadagnino: Jogar ao amor num court de ténis

O ténis como metáfora para a vida no empolgante novo filme de Luca Guadagnino sobre um trio amoroso. "Challengers" já se estreou nos cinemas

O ténis é o mais mediático dos desportos individuais (também se pode jogar a pares) e, nos últimos anos, tem chegado às salas de cinema com objetos interessantes, como o extraordinário Borg vs McEnroe, de Janus Metz Pedersen, ou King Richard, de Reinaldo Marcus Green, sobre as irmãs Williams e o seu pai.

Em Challengers, o italiano Luca Guadagnino faz algo diferente, ao desenhar uma obra ficcional de raiz, não indo buscar nenhum desportista em concreto, mas tendo o ténis como pano de fundo. Nesse sentido, está mais próximo de um Match Point (2005), a obra de referência de Woody Allen nos últimos 20 anos, que se serve do ténis sobretudo enquanto universo semântico e metafórico.

Em Guadagnino o centro é mesmo o ténis, mas o ténis vale tanto como a vida. Numa cena de cama, Tisha diz a Patrick que ganhou o primeiro set, mas não ganhou o jogo. Patrick fica incomodado e pergunta-lhe se ela está a falar de ténis ou de outra coisa. Ela responde-lhe que é sempre tudo sobre ténis.

O truque de Guadagnino é precisamente o de transportar para o court decisões que têm a ver com muito mais do que o jogo em si ou o seu prize money. Naqueles desafios joga-se a própria vida. A partir daí resta-lhe tirar todo o gozo da forma livre como filma o próprio jogo, com as emoções à flor da pele. Ao mesmo tempo, opta por um dinamismo de montagem e uma banda sonora eletrónica, que costumamos ver, por exemplo, nos filmes de Mia Hansen-Løve ou Sofia Coppola.

Em Challengers, Guadagnino conta a história de um triângulo amoroso em permanente luta por um dos vértices, nos limites da toxicidade e da perversidade moral e ética. No centro, a deslumbrante Zendaya, a atriz que aqui faz a diferença, com uma beleza não estereotipada, que crivelmente causa fascínio.

O guião é criado numa estrutura arriscada, cheia de analepses e prolepses, com o tempo a andar para a frente e para trás, mas que acaba por resultar bem, em parte graças a um trabalho minucioso e delicado de caracterização.

Ganhe quem ganhar, Challengers é um grande filme de um grande realizador que já nos tinha dado obras maiores como Eu Sou o Amor (2009) e Chama-me pelo Teu Nome (2017).

Challengers > De Luca Guadagnino, com Zendaya, Mike Faist, Josh O’Connor, Darnell Appling > 121 min

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