sol.sapo.ptJoana Andrade - 24 abr. 12:30

Enfadonhos alhos e disruptivos bugalhos

Enfadonhos alhos e disruptivos bugalhos

Aí tal como um herói de cinema da Marvel, apregoamos a pílula Bugalho, que é só para engolir em seco e será vista enquanto um mal menor.

Caiu que nem uma bomba, o nome de Sebastião Bugalho, catapultado para cabeça de lista da AD às eleições europeias. O Zé Povinho não está habituado a isto, ninguém estava preparado para isto, nem sobretudo, o betinho partido social-democrata. 

Mas onde vai ele buscar estas ideias? Clama de braços abertos, o pasmado Pedro Nuno Santos.

Temos de admitir que o Montenegro, os tem no sítio, ao planear sair da caixa em casca de laranja, equivalente ao labirinto do Minotauro. Percebeu que só tem futuro, se tiver no presente, a arte e engenho de criar o seu próprio espaço político. Não só no seio do partido, como na praia política em geral. Deve ser um bom jogador de xadrez, daqueles que preveem as suas jogadas, com uns movimentos de avanço. São riscos, mas ficar-se pela zona de conforto, será para ele, um risco bem maior.

Ou então, é o oposto e assim à primeira vista, esta parece ser uma escolha de sofá. Nascida em um daqueles vagarosos serões de inverno, onde constantemente são apertados os botões do comando da televisão, e o desfile de canais se interrompe por uns momentos, ao escutar o jovem jornalista. Subitamente exclama-se eureka! traduzido numa ideia peregrina: e se convidássemos este tipo? 

Pronto. Olhando em redor e perante os olhos e bocas em forma de ó, alguém assoma desde logo a seguinte pergunta, “e como faríamos engolir uma pílula destas, aos militantes?”… um hábil político, tem sempre uma carta na manga, “é fácil, mostramos uma seringa para eles terem medo.

Anunciando o incontrolável Rui Moreira nas 48 horas anteriores, e incentivando diversas críticas públicas ao presidente da câmara do Porto, colocamos os focos no monstro criando um infundado receio, e antes de entrar tudo em estado de choque, pimba! Joga-se outra carta!

De qualquer das formas, sendo assumidamente uma escolha pessoal do líder Montenegro, fica rematada a decisão. Ou segundo eu creio, terá sido esta, uma ideia da esposa dele? Conhecem aquela frase que por detrás de um grande homem, está sempre uma grande mulher? Ilustra momentos felizes, como este.

É uma opção arrojada e arejada, para a AD. Corajosa, porque os tachos europeus são graúdos e por isso mesmo apetecíveis. Impor surpresas de ovos Kinder à máquina partidária, é sempre um enorme risco, que ao mais pequeno deslize, será eternamente lembrada. Arejada, inversamente pelas mesmas razões.

O filho de jornalistas formado em ciências políticas, tem tudo a seu favor. E para o governo que iniciou funções, esta decisão apenas tem um único ponto negativo, o de perderem na televisão portuguesa, um destemido comentador em prol da AD. Pode parecer um pormenor, mas a vida é feita de pormenores. 

O sucesso de Sebastião Bugalho no pequeno ecrã, deve-se ao seu pragmatismo político. Talvez todos nós tenhamos no futuro ganho um excelente político, contudo o Luís Montenegro perde assim, um dos poucos trunfos mediáticos, que seguramente tinha em mãos.

Engraçado foi vermos aquele rasgado sorriso e a linguagem gestual que o atual primeiro-ministro evidenciou, quando da apresentação pública do nome de Bugalho, assemelhando-se a um miúdo que nervosamente gesticula de felicidade, dificilmente escondendo a sua alegria pela genial ideia que teve. Como diria o cego, “a ver vamos”. 

Tal qual dois velocistas na linha de partida, o PS apressou-se na mesma noite, a lançar o nome de Marta Temido para liderar a sua lista europeia. Ora a antiga ministra da saúde, é uma espécie de Dr. Jekyl e Mr. Hyde das hostes socialistas. 

Deambulou por três governos do Costa e sobretudo pelo agitado mar do Covid19, amparando diariamente os disparates da desgraçada Graça da DGS, quando ela lançada aos bichos e à comunicação social. Com o seu ar frágil e jovem, tanto conseguia comover a opinião pública, como demovê-la pela sua arrogante frigidez e quando decidia vestir e pentear-se igual às tias da linha. Nunca se sabe como vai surgir, no entanto ela tem garra e tem tudo a ganhar, sobretudo quando mantém uma certa jovialidade. A esse propósito, os dentes da frente poderiam ser arranjados, por amor da Santa! Porque até me parece, que a senhora pode auferir de futuro político, se souber geri-lo e sobrepor-se aos seus camaradas de partido. Ir ao dentista, será mais fácil.

De resto, de notar a ligeireza com que Pedro Nuno Santos fez uma razia completa na lista às europeias, não recandidatando absolutamente ninguém! Nem mesmo Carlos Zorrinho. Será uma prova de força? Ou de insegurança? O problema dos quadros socialistas, é que os há em demasia, e ao contrário dos sociais-democratas, onde os poucos andam sempre bicos dos pés, no PS quedam-se sisudos, em fila e em pé de senha na mão à espera da sua vez, do seu habitual tacho.

Quem mais?

O André Ventura assemelha-se a um Di Maria cansado, por carregar a equipa toda ao fim de tanto tempo de jogo. Mas tal como o argentino, recusa-se a ser substituído, dando alguns tiros no pé. O seu candidato às eleições, António Tanger, apesar de ser um antigo diplomata, parece tê-lo ido buscar ao governo do Marcello Caetano, num filme a preto e branco, do “antes” do 25 de abril. Não havia “nechexidade” André! O seu partido precisa de confirmar o resultado das legislativas, ainda nunca teve deputados europeus, e esta foi uma escolha com aromas de naftalina. O João Contrim do IL, esfrega as mãos e fará mossa no eleitorado jovem. Uma escolha que mais parece ter sido um agradecimento, um retribuir de favores. O jovem partido antissistema, começa perigosamente a ficar igual ao sistema que tanto critica.

Retribuir de favores e de tachos, é aquilo que o BE fez, ao trazer a Marisa Matias de volta à Assembleia e enviar para o parlamento europeu, a ex-líder Catarina Martins. Vão trocando entre elas os tachos, já que a paridade e diversidade ali no bloco, são uma conceção oca. Ou compensatória, quem sabe. Cada dia que passa o BE se assemelha mais a uma família, do que a um partido, e nesse sentido vai ficando estéril como a CDU, que também baralha e volta a dar as mesmas cartas. O eborense João Oliveira não se refez do desaire eleitoral na sua cidade (que jamais reelegeu deputados comunistas) e mudou-se para Azeitão, para dali rumar agora a Estrasburgo. Um perfeito quadro de funcionários, a trocarem de repartições.     

Pelas minhas contas a CDU e o Livre conseguirão eleger 1 deputado, o BE e o IL ficarão com 2, e os restantes serão divididos entre os, agora chamados três maiores partidos, sabendo que pela escolha que fez, o Chega poderá ter uma triste surpresa. Mas será estritamente, por culpa sua, porque ao invés de se abrir à sociedade, se está a fechar.  

Esqueci-me de mencionar o PAN. Aliás não me esqueci. Francisco Guerreiro, alguém conhece o nome do deputado eleito pelo PAN, nas últimas eleições europeias? Eleito em 2019, abandonou o partido em 2020, por divergências com a direção, passando a partir desse momento a ser deputado independente. Belo serviço. Desconfio que a Inês S.R. ainda esteja a considerar a possibilidade, de vir a se ela, a candidata. Orgulhosamente só.   

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