expresso.ptLuís Correia - 23 abr. 07:33

“Somos mais loucos do que vocês imaginam” – ataque fracassado ou aviso oculto?

“Somos mais loucos do que vocês imaginam” – ataque fracassado ou aviso oculto?

Há décadas que o Irão e Israel se têm envolvido em atos de agressão e de hostilidade. O programa nuclear do Irão e as ações militares de Israel contra grupos proxy iranianos aumentaram as tensões entre os dois países, prejudicando ainda mais a sua relação. O ataque do Irão a Israel e a retaliação israelita tornaram-se temas de preocupação para a comunidade internacional, com potenciais implicações para a estabilidade regional e a segurança global
Os antecedentes

A história das relações Irão-Israel é complexa e multifacetada, com ambos os países a terem uma animosidade de longa data entre si. Foi inicialmente cordial nas décadas de 1950 e 1960, com Israel a fornecer ajuda militar ao Irão durante a guerra com o Iraque.

No entanto, a relação deteriorou-se após a Revolução Iraniana em 1979, que viu a ascensão de um regime antiocidental e anti-israelita.

Azedou ainda mais na década de 2000, com o programa nuclear do Irão a tornar-se um importante ponto de discórdia. Israel expressou repetidamente preocupações sobre as capacidades nucleares do Irão, vendo-as como uma ameaça à sua segurança, enquanto o Irão acusava Israel de tentar sabotar o seu programa nuclear através de operações secretas.

Para além disso, o historial que o Irão tem de apoio a grupos como o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza fez com que Israel tomasse medidas militares e políticas, incluindo ataques aéreos contra alvos iranianos na Síria, nomeadamente o consulado iraniano. O ataque lançado pelo Irão a Israel utilizando drones e mísseis em Abril de 2022 foi amplamente visto como uma represália e marcou uma escalada significativa neste conflito. O ataque teria sido coreografado entre os EUA e o Irão através de canais ocultos, com o Irão a tentar demonstrar a sua capacidade de reagir à agressão israelita.

No rescaldo do ataque, o Hezbollah, um grupo militante libanês apoiado pelo Irão, prometeu procurar “punição e vingança” contra Israel.

Israel, por outro lado, tomou medidas militares contra alvos iranianos na Síria, com o membro do Gabinete de Guerra israelita, Benny Gantz, a alertar que o Irão “pagará no devido tempo” pelo ataque. O conflito entre o Irão e Israel tem implicações abrangentes para a estabilidade da região, com ambos os países a procurarem exercer influência e controlo sobre os estados vizinhos.

O ataque e a retaliação

Recentemente, o Irão lançou um ataque sem precedentes contra Israel, utilizando mais de trezentos drones, mísseis balísticos e de cruzeiro para atingir bases militares, aeroportos e portos em todo o país. O ataque teria sido em resposta a um suposto ataque israelita ao consulado iraniano em Damasco, Síria.

A resposta internacional ao ataque foi rápida, com os EUA, por exemplo, a enviarem caças. O presidente do Irão saudou o ataque como “uma lição contra o inimigo sionista”, alertando Tel Aviv que qualquer nova agressão teria uma resposta semelhante. As autoridades israelitas prometeram retaliação pelo ataque.

No entanto, o ministro israelita Benny Gantz também falou sobre o fortalecimento da “aliança estratégica e cooperação regional” em resposta ao ataque.

A retaliação por parte de Israel não tardou, acreditando que poderá enfraquecer o Irão e as organizações terroristas por si apoiadas, garantindo uma segurança israelita preciosa.

Possíveis motivações dos ataques
  1. Desejo de Israel em manter a sua hegemonia na região
  2. Desejo do Irão em dominar a região – o Irão há muito que se considera uma potência regional e tem procurado aumentar a sua influência no Médio Oriente. Um ataque a Israel poderia ser visto como uma forma de afirmar o seu domínio e mostrar a sua força.
  3. Retaliação por ações anteriores de Israel, como o assassinato de cientistas nucleares iranianos ou as ações militares de Israel contra grupos proxy iranianos.
Implicações e potenciais desenvolvimentos futuros

O ataque do Irão a Israel poderá ter implicações muito significativas no futuro:

  • Desestabilização regional, com outros países da região a serem arrastados para o conflito
  • Escalada do conflito, com Israel a responder com força militar, conduzindo potencialmente a uma guerra mais ampla na região
  • Intervenção direta dos EUA na defesa de Israel
  • Intervenção da Rússia e da China na defesa do Irão
  • Imposição de sanções ao Irão por parte da ONU

A Comunidade Internacional já veio condenar o ataque do Irão, nomeadamente com a UE a qualifica-lo de “grave ameaça à estabilidade regional”, alertando para o potencial aumento de violência na região, com consequências impactantes que afetarão o Médio Oriente e a geopolítica global.

Restam apelos ao cessar-fogo e a esforços diplomáticos para acalmar um conflito com rivalidades religiosas e políticas. No entanto, a situação permanece volátil e imprevisível, especialmente com uma história tão complicada de confrontos e antagonismos que moldaram profundamente as relações entre os dois países.

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