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Israel ataca Irão: teste de águas ou fim de capítulo?

Israel ataca Irão: teste de águas ou fim de capítulo?

Ataque atribuído ao Estado hebraico não é confirmado – nem pelo Irão, o que pode deixar à República islâmica uma via para não retaliar.

A cidade de Isfahan, onde há uma base aérea e uma central de enriquecimento de urânio, foi alvo de um ataque atribuído a Israel que, como acontece na maior parte das operações no estrangeiro, não confirmou (nem desmentiu) a autoria.

A analista Holly Dagres, do Atlantic Council, vê um paralelo nos ataques israelita desta sexta-feira e iraniano de sábado passado, apesar das grandes diferenças de meios e de capacidade defensiva: “A base de Nevatim, onde Israel tem os seus caças furtivos F-35, foi o alvo do Irão. [A base aérea] TAB 8 perto de Isfahan, onde o Irão tem os seus antiquados caças F-14, pode ter sido o alvo de Israel.”

O facto de os media iranianos estarem a desvalorizar a acção e a mostrar que a vida continuava normal em Isfahan, e de o Irão não ter também apontado o dedo a Israel, faz com que várias análises vejam um grande potencial de este ter sido “o fim do capítulo” actual.

Este capítulo foi aberto com o ataque israelita que matou um importante comandante dos Guardas da Revolução do Irão num complexo diplomático em Damasco, que foi encarado pela República Islâmica como um ataque directo e o ultrapassar de uma linha vermelha. O Irão respondeu com um ataque sem precedentes sobre Israel, com centenas de mísseis e drones que foram interceptados graças às defesas de Israel (e à grande coordenação com os EUA e ajuda de países árabes), não causando praticamente danos (houve uma vítima, uma criança beduína que ficou em estado grave).

Dana Stroul, do Washington Institute, sublinha que Israel “atacou uma instalação militar, a liderança de Teerão irá notar que as suas defesas áreas não foram eficazes, o questionamento de como o ataque foi levado a cabo reforça a dissuasão israelita”, e ainda que o facto de ninguém ter dito quem é responsável permite a diminuição da escalada.

No Haaretz, o analista de questões militares e defesa Amos Harel, escreveu que “se o ataque israelita atingiu de facto um local em Isfahan que não esteja directamente ligado ao programa nuclear, parece ser mais uma demonstração de capacidades, assim como uma mensagem para o regime: conseguimos provocar-vos danos”.

Tal como o ataque do Irão contra Israel foi também um modo de comunicar que o próximo poderia ser pior, o ataque israelita pode ter sido sobretudo uma demonstração de poder das suas capacidades. E feito de um modo que, como dizia Harel, “deixa espaço ao Irão para não ter de retaliar”.

Hamidreza Azizi, do instituto alemão de assuntos internacionais e de segurança SWP, disse no mesmo sentido à Al Jazeera que o ataque envia uma mensagem ao Irão sobre a vulnerabilidade das suas defesas e sobre a capacidade de um inimigo atingir mesmo o interior profundo do país.

Israel comunica também outra coisa, escreveu Stroul na rede social X (antigo Twitter): “Teerão não vai poder mudar unilateralmente as regras do jogo”.

Mas Ali Vaez, director do programa iraniano do think tank International Crisis Group, sublinhou a fragilidade da situação: “O momento mais perigoso em qualquer rivalidade geoestratégica é quando as partes mudam as regras.”

As reacções do Irão pareciam confirmar as razões para optimismo. Mehdi Toghyani, deputado de Isfahan, disse que Israel, “com a ajuda de agentes locais”, tinha “falhado”, cita a Al Jazeera. A referência aos agentes tem como base o facto de não ser claro de onde os drones usados no ataque tinham sido lançados mas especula-se que tenham sido de território iraniano.

Havia, no entanto, alertas para algumas hipóteses de este capítulo não estar fechado.

A primeira é que este ataque não tenha sido a totalidade da resposta israelita. Foi o que disseram vários responsáveis ocidentais citados pela jornalista do serviço em farsi da BBC Nafiseh Kohnavard​.

“A estratégia é: um ataque pequeno para fazer o Irão reagir para depois ter uma grande resposta nas instalações nucleares”, disse um diplomata ocidental no Líbano à jornalista. Pode ainda ser um primeiro “testar de águas”.

Israel não tem capacidade para atacar as instalações nucleares iranianas mais sensíveis sozinho – para isso precisaria das bombas de perfuração (“bunker busting”) dos Estados Unidos, e os EUA deixaram rapidamente claro que não participariam num ataque de retaliação israelita contra o Irão depois do ataque da República Islâmica de sábado.

Assim, se o Irão respondesse a este ataque limitado, Israel conseguiria apoio para um ataque maior e mais eficaz contra o programa nuclear do Irão.

Mas mesmo que este seja só o primeiro de outros ataques israelitas, Andreas Krieg, do King's College, põe ainda a hipótese de que esses sejam “dispersos no tempo, não lineares, e de baixa intensidade, causando dano mas não levando a uma resposta directa” do Irão. Ou seja, seria um regresso à situação anterior.

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