www.publico.ptpublico.pt - 19 abr. 05:20

Cartas ao director

Cartas ao director

Inocentes da guerra

A crescente onda de desentendimento entre os povos faz-nos pensar que nunca o mundo esteve tão perto do alastramento de um conflito global, onde aqueles que se julgam donos da verdade entendem também que podem ser os donos do mundo, achando-se no direito de fazer a guerra quando e onde quiserem.

A guerra entre os povos alimenta a indústria armamentista. Os interesses estratégicos, a visão dos ditadores e a falta de respeito de uns para com os outros não fazem de nenhum dos intervenientes o vencedor de um qualquer conflito, seja na Ucrânia ou em Israel, onde a voz dos inocentes possa ser ouvida e a diplomacia possa dar prioridade à paz.

Américo Lourenço, Sines

“Bendita” guerra

Perante o repúdio geral, ninguém se atreveria, alguma vez, explicitamente, a apontar algo de positivo no “fenómeno” da guerra, que, por definição, é negativo. A guerra destrói pessoas e bens, é certo, mas não deixa de enriquecer muitos. Há quem lucre desmesuradamente com a construção e venda dos armamentos, que, dado o nível de sofisticação tecnológica que atingiram, são produzidos com o recurso a vultuosos capitais, longe das capacidades financeiras das “fabriquetas” de outrora.

Mas há outros “ganhadores” da guerra. Netanyahu, por exemplo, só sobrevive politicamente à custa dela. Abrindo uma nova frente com o Irão, desde logo abençoada pelo Ocidente em geral, capitaliza em seu favor a hostilidade suscitada pelos ayatollahs extremistas, deixando cair no apagamento da memória tudo quanto de cruel praticou e pratica em Gaza. Não será tão cedo que a abertura dos telejornais vai incidir sistematicamente no horror da Palestina, que, à semelhança da Ucrânia, tenderá a diluir-se nos alinhamentos. Não que se deixe de falar do assunto, mas…

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

Não me apetece falar do 25 de Abril

Cinquenta anos depois de Abril, não me apetece falar das alegrias desses dias, nem das desilusões que se foram acumulando ao longo de todo este tempo. Não me apetece falar daqueles que tudo sacrificaram para que durante os longos anos da ditadura não morresse em nós o sentimento da dignidade ofendida e oprimida e que morreram no mais vil dos esquecimentos. Não me apetece falar da angústia dos problemas graves da saúde, do ensino, do emprego, da velhice, que permanecem por resolver e que nalguns casos se têm agravado. Não me apetece falar na demissão actual dos intelectuais e artistas que se esqueceram de que a sua voz e a sua intervenção também tornaram possível aquele dia libertador. Não me apetece falar de uma juventude que esgota as causas por que lutar nos protestos contra as propinas, ignorando as tragédias internas e externas que não teriam deixado indiferentes os seus pais e avós quando jovens. Não me apetece falar em nada disso, neste momento em que sei que tive o privilégio de viver um dos dias mais belos da história deste povo, e em que sinto uma revolta, um nojo imenso, pelos seres que passaram a existir e engordar à sombra desse hoje quase mítico e tão agredido 25 de Abril e que não têm vergonha de o traírem em cada palavra e em cada gesto com que lá vão cantando e rindo, mareando de verdete a nossa pobre existência de país cada vez mais dos subúrbios.

José da Cruz Santos, Porto

Operação Influencer

Não há dúvida de que o recente acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa sobre o processo designado por Influencer vem trazer uma nova luz retrospectiva sobre a demissão de António Costa e a dissolução da Assembleia da República. Quer uma, quer outra mostram-se agora claramente precipitadas e já na altura poderiam ser tidas como tais e evitadas nas suas drásticas consequências políticas. Afinal, o que estaria em causa seria uma suspeita sem consistência, que nem deveria ter dado origem ao famoso parágrafo. <_o3a_p>

António Costa tem agora uma razão acrescida para reclamar celeridade no processo e, sobretudo, para ser ouvido. Não se compreende que se faça subsistir uma suspeita de tão graves consequências para o próprio e para o país por tempo indefinido. Por outro lado, é chocante o facto revelado com este processo de haver escutas telefónicas realizadas ao longo de quatro anos (com a necessária autorização dum juiz de instrução) sem que os visados tenham sido confrontados alguma vez com qualquer suspeita. Tais factos atentam contra princípios básicos da Constituição e do Processo Penal.

<_o3a_p>António Costa, Porto

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