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O cinema faz perguntas ao Portugal democrático. Entrevista com Mário Laginha e Pedro Burmester

O cinema faz perguntas ao Portugal democrático. Entrevista com Mário Laginha e Pedro Burmester

Filmes, discos, livros, exposições e mais. Cultura escreve-se com Ípsilon.

De Pedro Costa a João Salaviza e Catarina Vasconcelos, o cinema português sabe ser político sem ser panfletário. Com todas as contradições de um Portugal democrático que, talvez inevitavelmente, desilude. Catarina Vasconcelos cristalina: "Todos os sonhos foram colocados no 25 de Abril e se calhar o 25 de Abril não aguenta com tantos sonhos".

E, com a direita radical instalada em peso no Parlamento e um certo cansaço com a democracia (ainda assim, sublinhe-se, o regime que a maioria deseja), há pesadelos – ou "coisas à espera de nos devorar", como avisa José Filipe Costa. Nos 50 anos do 25 de Abril, está a terminar um filme sobre Salazar: O Presidente.

Durante a rodagem, chegou a ouvir: "Vê lá se estás a humanizar o Salazar!..." "Mas é preciso humanizar...", disse ele a Vasco Câmara, que assina o tema de capa desta edição. "Os políticos populistas não são desumanos. Têm, aliás, um conhecimento muito humano das pessoas e instrumentalizam-nas para matarem a racionalidade que existe nelas. Veja-se como André Ventura manipula as emoções das pessoas: não usa sequer uma linguagem institucional, mas aquela que o povo utiliza. Porque o povo acha que a política é uma coisa má."

A política está em todo o lado e o cinema português não a esquece, mesmo que nem sempre da forma mais explícita. Catarina, outra vez: "Os realizadores entram nestas almas e iluminam o sofrimento. O político também é isso: iluminar parte dos corpos onde há luz."

Tocam, param, repetem; trocam notas, graças e improvisos. Mário Laginha e Pedro Burmester têm uma amizade e uma cumplicidade artística de décadas.

Laginha queixa-se de uma tecla desafinada no novo Yamaha da ESMAE; Burmester explica, no velho Steinway, um truque aprendido com o seu mestre Sequeira Costa. Encontrámos os dois pianistas na escola de música do Porto, a ensaiar canções associadas ao 25 de Abril e aos ventos de liberdade, de Eh companheiro a Grândola, vila morena. Vão levá-las em digressão, que começa esta sexta-feira em Águeda e terminará no final do ano nos Coliseus. Uma longa entrevista com dois amigos, conduzida por Sérgio C. Andrade, com fotografias de Nelson Garrido.

Cristina não ouve música experimental em casa. "Mas gera-se ali naquela sala" algo que "permite entrar num subterrâneo da nossa mente", confessa a espectadora de um dos concertos Microvolumes, organizados pela associação portuense Sonoscopia (onde milita Gustavo Costa, que tem um novo disco). Ali, a música experimental não é um bicho-de-sete-cabeças, desconfortável ou impenetrável; ali, é "coisa familiar" – com jantar incluído.

Depois do Pulitzer em 2018, com Less, Andrew Sean Greer está de volta com sátira americana a partir da sátira pessoal de um homem trágico-cómico. Em Less Perdeu-se, o escritor Arthur Less vive a crise de meia-idade no Sul profundo dos EUA. Isabel Lucas entrevistou o autor. Que provoca: "E se a América foi uma má ideia?"

Também neste Ípsilon:

➢ Cinema: O Rapto, Em Nome da Terra, De Cor (ações), Guerra Civil e A E I O U: Um Breve Alfabeto do Amor;

➢ O concerto teatral Quis Saber Quem Sou junta Pedro Penim e Filipe Sambado;

➢ Música: Butthole Surfers, nome fundamental do rock independente americano, alvo de três reedições. E os novos discos de Pearl Jam e Caveira;

➢ Livros: a biografia de Maria Teresa Horta por Patrícia Reis e Advento de Gunnar Gunnarsson;

➢ O arranque do festival Dias da Dança, com Zona Franca (texto ainda só disponível na edição impressa);

➢ A invenção da pintura em Cabo Verde fez-se com o fim do colonialismo (reportagem no Mindelo, ainda só disponível na edição impressa).

Boas leituras!

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