rr.sapo.ptrr.sapo.pt - 17 abr. 08:00

Pinto da Costa: “Sou o único que pode garantir que o FC Porto continuará a ser dos sócios"

Pinto da Costa: “Sou o único que pode garantir que o FC Porto continuará a ser dos sócios"

Em entrevista à Renascença, o candidato à presidência do FC Porto e atual presidente aborda as decisões (e a ausência de decisões) da candidatura de Villas-Boas, os terrenos na Maia, o futebol feminino e o ciclismo, passando ainda pelo clã Pedroto e a certeza de que Conceição está com ele.

É dirigente do FC Porto desde 1962 e presidente desde 1982. Jorge Nuno Pinto da Costa, de 86 anos, garante que este mandato para o qual se candidata agora será o seu último, abrindo a porta depois para Vítor Baía, João Koehler e até António Oliveira, a quem sugeriu sem sucesso suceder-lhe. Em entrevista à Renascença, o candidato à presidência dos dragões explica a ideia do 'anti-nortismo' defendida por Sérgio Conceição e garante que o treinador está com ele e que continuará a ser o treinador do clube.

Ao longo de 35 minutos, Pinto da Costa aborda o regresso do ciclismo e a fundação do futebol feminino, revelando ainda o porquê do afastamento de quatro jogadores da equipa principal de futebol. O dirigente deu também explicações sobre a saúde financeira da entidade (e a eventual consequência da ausência na Liga dos Campeões) e sobre a opção dos terrenos na Maia para a academia, deixando depois uma alfinetada ao clã Pedroto, um desfecho de história que, garante, não belisca a memória de José Maria Pedroto.

O campeonato correu mal ao FC Porto, inclusive viram-se alguns lenços brancos no Dragão após o jogo com o Famalicão. Receia que este insucesso no principal objetivo da época possa ter impacto no resultado das eleições do dia 27?
Não, penso que não. A equipa tem valor, está a atravessar um mau momento devido a fatores estranhos que não vale a pena, mais uma vez, a enumerar. Agora, uma equipa que fez o que fez na Liga dos Campeões com o Arsenal e que venceu o Benfica por 5-0 há pouco mais de um mês não é uma equipa sem qualidade. Tem havido fatores e estamos a mentalizar e a preparar os jogadores para se abstrairem disso e apenas irem para o jogo pelo jogo. Estou convencido que contra o Guimarães, num jogo importantíssimo, que abre as portas da final da Taça e depois estar no estádio de Oeiras, a equipa vai corresponder e mostrar o seu real valor.

Mantém a ideia de que as arbitragens tenderam a cair contra o Porto assim que André Villas-Boas assumiu a candidatura?
Eu não sei se foi quando ele assumiu a candidatura, agora que têm sido infelizes, têm. Afinal, há um caso curioso: eu protestei e puseram-me um inquérito por protestar contra o que se passou no penálti do Estoril, e agora o Conselho de Arbitragem vem dar-me razão, pois o árbitro, depois de marcado, não devia ter revertido o penálti, nem o VAR devia ter intervindo. Portanto, eu tenho um processo por ter dito aquilo que eles estão a dizer. Se calhar eles também vão ter um processo...

O treinador Sérgio Conceição repescou há dias o tema do 'anti-nortismo'. Partilha da ideia de que há um complô para afastar o Porto da Europa?
Eu acho que é tão evidente que, quando não falo nisso, como hoje, desde que me sentei toda a gente me faz essa pergunta. Se me fazem essa pergunta, ninguém me pergunta se penso que os espanhóis estão a atacar o Porto. Agora, que é evidente que há uma luta norte-sul ou Lisboa-Porto e que querem a hegemonia total do futebol português em Lisboa, isso parece-me que é evidente para todos.

Entrando numa área que lhe interessa, a política. O facto de ter agora Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, como líderes do governo e da oposição, ambos do Porto, deixa-o de alguma forma mais tranquilo em relação a tudo isto?
Nem mais, nem menos. Porque todos aqueles que têm sido do FC Porto, foi uma exceção o doutor Manuel Pizarro, que nada tendo a ver com futebol se assumiu sempre como portista e continuou a acompanhar a vida do FC Porto, afastam-se. Parece que têm vergonha de ser do FC Porto. Portanto, nem melhora, nem piora. Não vou interferir em nada.

Foi tema o afastamento de alguns jogadores do plantel, pelo menos o treinador Sérgio Conceição tê-los-á colocado a trabalhar de outra forma nestes últimos dias, por alegada falta de rendimento. Já se tinha passado um bocadinho o mesmo com David Carmo antes de sair, em janeiro, para o Olympiakos. O senhor é presença assídua no Olival. Alguma vez percebeu que possa haver atletas a quem de facto basta ter contrato com o Porto e depois se empenham pouco nos treinos?
Não vou dizer que haja esse espírito por isso, mas que às vezes acontece com todos e não é uma questão de qualidade. Costuma dizer-se que no melhor pano cai a nódoa, mas às vezes sinto, e o treinador também e quando sente isso age para espicaçar até os próprios jogadores, que há jogadores que se entregam e não lutam para virar as coisas como é preciso.

Há alguns milhões gastos em jogadores que pouco jogam ou nada, como Iván Jaime, o próprio Jorge Sánchez, Toni Martinez. Há algum erro associado a isto? De quem foi o erro? É do treinador, dos jogadores ou de quem os contratou?
O Iván Jaime era um talento no Famalicão, era desejado por todos, e de facto não se adaptou ainda convenientemente e não tem rendido o que nós esperávamos e justifica pelo que custou. O Jorge Sánchez nunca foi contratado na certeza de que ia ser titular, porque o nosso defesa direito é o titular da seleção nacional e temos ainda alternativa que podia ser o melhor defesa direito do futebol português se quisesse fixar-se nesse lugar, que é o Pepê. Agora, quando o Sánchez foi contratado, foi para ser uma opção, uma reserva, é nessa qualidade que ele tem jogado.

E com o rendimento de Toni Martínez, está satisfeito?
Está num período mau, em que anda desanimado, mas tenho a certeza que ainda vai aparecer bem.

É também um dos jogadores que é citado pela imprensa como tendo também sido colocado a trabalhar à parte. Acredito que vá debater este tema com Sérgio Conceição.
Não, já debati o tema. Agora, os jogadores têm de sentir que para estarem a jogar têm de estar no máximo, têm de ser jogadores à Porto. O ser jogador à Porto não é chutar mais alto nem mais baixo, é ter uma entrega total nos 90 minutos de jogo, esteja a ganhar, esteja a perder. Estou convencido de que esses jogadores, que momentaneamente se afastaram desse espírito, vão ser recuperados e seguir o caminho correto.

Após o jogo com o Famalicão, Sérgio Conceição disse que não é um problema para o Porto. Ele chegou a colocar formalmente o lugar à disposição?
A mim, não. O que vi foi nos jornais. Já falei com ele, já falámos de coisas, foi assunto que não me pôs.

Já disse nesta campanha que identifica fragilidades neste plantel, que precisa de retoques. Quer concretizar essa ideia?
Não, isso é uma questão técnica que estou a ver com o treinador. Naturalmente que não vou estar a divulgar, estaria a denunciar quais os nossos pontos que consideramos que temos de melhorar e a dar trunfos aos adversários. Não vou revelar.

Tem trocado impressões com Sérgio Conceição sobre esta matéria?
Obviamente, com quem é que hei de trocar?

Mesmo não sabendo se ele vai ser o treinador do Porto na próxima época.
Eu sei que vai ser.

Mas vai ser ele se for reeleito?
Não lhe posso garantir se um de nós amanhã está vivo.

Mas se Pinto da Costa e Sérgio Conceição estiverem vivos, Sérgio Conceição será treinador do Porto na próxima época?
Estou convencido que sim, espero e estou convencido que sim. E não só na próxima.

A sua intenção é renovar por mais do que um ano. Porque não renovou antes?
Não renovei antes e a outra candidatura diz que não percebe, mas é fácil de perceber: a partir do momento em que há eleições e portanto não se sabe qual vai ser o presidente, o Sérgio Conceição nunca iria renovar sem saber com quem é que ia trabalhar. Isso é óbvio.

Certamente já fez algumas contas e chegou a algumas conclusões relativamente ao impacto que a ausência na Liga dos Campeões pode ter na próxima época. Como está a encarar esse cenário?
O cenário claro que tem impacto, mas indo à Liga Europa também recebemos dinheiro, que será mais do que costume. E para compensar temos o que nunca tivemos, nem prevíamos: os 50 milhões que vamos receber por estar no Campeonato do Mundo de Clubes. É uma verba extra que vai tapar o buraco de uma verba normal que não entra.

A Porto SAD já veio desmentir que esteja de novo a incumprir financeiramente com o fair-play financeiro da UEFA...
Já, já.

Em todo o caso há uma dúvida que me ficou relativamente a essa notícia: o Porto pagou ou não uma multa de dois milhões de euros para aceder às licenças que lhe permitem estar nas competições europeias na próxima época.
Não pagou nada, não senhora. O FC Porto, conforme se diz no comunicado, no dia 31 de março, na avaliação das condições de licenciamento para a participação nas competições, cumpria todos os requisitos, pelo que já recebeu a licença para participar nas provas europeias da próxima temporada. Nunca falaram em multa. Olhe, hoje por acaso quando cheguei ao carro tinha uma multa [risos], por mau estacionamento.

Gostaria de ver o Benfica ganhar a Liga Europa, até porque abriria uma janela de oportunidade ao Porto na Liga dos Campeões?
Independentemente de abrir ou não abrir, gostava sempre que qualquer equipa portuguesa ganhasse uma prova internacional. Naturalmente que não vou ser hipócrita: em Portugal, quero que o Benfica perca sempre. Mas, quando qualquer equipa nacional está a jogar no estrangeiro, quero que ganhe. Obviamente queria que ganhasse.

Mas aqui teria esse significado redobrado por abrir uma possibilidade para o Porto.
Não redobrava, o FC Porto não está à espera disso. Agora, se isso vier por acréscimo, muito bem. O que desejo é que todas as equipas que estejam em provas internacionais vão o mais longe possível e, se puderem vencê-las, ótimo, não só para o clube, como para o futebol português.

Entrando aqui um pouco no que têm sido os temas desta campanha para as eleições no FC Porto, os 250 milhões de euros para o chamado refinanciamento, que vão entrar se vencer as eleições, vão exclusivamente para o futebol?
Não, não. Fundamentalmente, vão para pagar a dívida que temos, juros mais altos do que vamos pagar, portanto será um benefício. Depois, será para pagamentos, naturalmente que também será para o futebol. Se queremos reforçar a equipa de futebol e evitar ao máximo vender qualquer jogador, esse dinheiro também é necessário para isso.

Ninguém dá ou empresta 250 milhões de euros de borla. Que garantias vai a Porto SAD dar em troca desse financiamento?
Dá as garantias normais em qualquer financiamento que as pessoas têm. Nem lhe posso dizer agora concretamente. Sei que o financiamento, ainda na segunda-feira assinei o acordo, está feito, mas não posso estar a pormenorizar porque quem está a tratar disso é a parte administrativa.

Pode garantir em absoluto que o FC Porto continuará a ser dos sócios no futuro?
Eu acho que sou o único que pode garantir isso, porque, quando o FC Porto teve a SAD e eu era presidente, o FC Porto tinha 40% das ações. Hoje, fomos paulatinamente comprando, temos 74,5%. Se for reeleito, vamos continuar a comprar dentro das nossas possibilidades. Há uma coisa que foi definida há muito tempo por mim: já tivemos gente interessada em comprar, os mesmos até que compraram parte do Sporting de Braga, e eu determinei que não vendia nem uma ação. Portanto, o FC Porto será sempre o dono da SAD e cada vez mais, porque cada vez mais teremos uma percentagem maior.

Fernando Gomes saiu da SAD por iniciativa própria?
Sim, foi uma decisão dele. Há 13 meses comunicou que tinha de sair por motivos que não interessam aqui ao caso. Na altura, queria sair logo, eu pedi-lhe para chegar ao fim do mandato para não dar a ideia de que podia haver qualquer desavença, que nunca houve.

Na altura pediu-lhe para ele continuar?
Pedi, pedi para continuar, pelo menos até ao fim do mandato. Ele, no princípio, não estava com muita vontade, mas depois compreendeu que ia dar uma ideia de não haver boa ligação entre nós e tenho com ele até uma relação de amizade, e ele acedeu a ficar até ao final da época.

Tem resumido a candidatura de Villas-Boas a um conjunto de pessoas muito em torno de Joaquim Oliveira, da Olivedesportos, e a outras pessoas que estarão com intenções de entrar no capital da SAD, já os classificou como inimigos do FC Porto. Se ganhar as eleições do próximo dia 27, tenciona propor que esses sócios sejam excluídos do Porto?
Não, eu acho que eles nem são sócios. Muitos não são sócios.

André Villas-Boas é sócio e acionista.
Mas o André Villas-Boas não está nesse número dos inimigos. O André Villas-Boas poderá estar a ser levado numa orientação errada por eles. Aliás, basta ver quando ele apresentou o seu programa, para além de ter um papel escrito à frente, tinha um teleponto para ler o que lhe escreveram. Não foi ele que escreveu de maneira nenhuma.

O senhor também há de ter no seu programa coisas que não escreveu.
Quem fez o meu programa, escreveu o meu programa. Mas o que digo é dito por mim, pensado por mim, não vou ler o que ninguém escreveu. Nem sequer escrevo o que digo, porque gosto de quando falo dizer o que penso, não é dizer o que me dizem para dizer. No dia 28 de abril, a minha primeira preocupação será unir os sócios e adeptos do FC Porto.

Incluindo André Villas-Boas?
Todos. Agora, sei definir os adeptos do FC Porto e quem não o é. O senhor Joaquim Oliveira não é adepto do FC Porto. O senhor Joaquim Oliveira, que eu conheço bem, já tivemos relações de amizade, é de coração sportinguista, toda a família tem camarote em Alvalade, portanto pode às vezes estar interessado, pelos negócios, a que ao Porto corra bem, mas não é uma pessoa do FC Porto. Nessa união de sócios, ele para mim não conta. É a mesma coisa com as redes sociais, não têm rosto. As redes sociais, na maior parte dos casos, é gente que quer dizer [algo] no anonimato, porque não tem coragem de o dizer cara a cara. Podem continuar a dizer que isso a mim não me incomoda. Agora, os que são sócios do FC Porto, votem no Villas-Boas ou no doutor Nuno Lobo, ou não votem, ou votem em branco, eu quero-os todos unidos pelo FC Porto.

Já que falou em famílias, antecipo uma pergunta: como é que olha para o acolhimento que a candidatura do seu principal rival teve na família Pedroto? Pergunto isto porque, no nosso imaginário, tínhamos Pedroto e Pinto da Costa como duas figuras muito próximas. Houve um divórcio entre a família e o atual presidente? O que se passou?
Não, não houve divórcio nenhum. Toda a gente sabe a minha ligação ao Pedroto. Depois de morrer, o Pedroto deixou a indicação de que o relógio que ele usava me fosse entregue a mim. Foi-me entregue pela sua viúva. Tivemos sempre uma ótima relação. Compreendi que havia uma mudança quando a família Pedroto, a viúva e a filha, que não eram sócias do FC Porto, no ano passado, em novembro, se lembraram de entrar para sócias do FC Porto. É evidente que isso levanta um bocadinho o véu, porque não é aos 80 anos que uma pessoa se lembra de ser sócia de um clube.

Mas tem esse direito.
Tem, até morrer. Já entreguei uma roseta dos 50 anos a uma senhora que queria recebê-la antes de morrer. Entreguei no dia seguinte e menos de 24 horas depois ela morreu. Até morrer, qualquer pessoa pode entrar para sócio do FC Porto. Compreendi tudo com a candidatura do filho do Pedroto para vice-presidente. Ele nunca teve ligação ao FC Porto, nunca teve nenhuma participação na vida do FC Porto. Ele aparece na lista como o filho do Pedroto. Tem todo o direito e não é isso que vai manchar a memória do pai.

A questão dos terrenos da Maia está resolvida. É um xeque-mate no projeto de Villas-Boas para o Olival?
Ó, isso do projeto do Villas-Boas... Se o senhor for lá ao terreno, até se ri. Quando se quiser rir vá lá e veja os acessos e como é que lá podia haver alguma coisa.

Ainda sobre os terrenos da Maia, imagina alguma possibilidade de acontecer mesmo não sendo eleito Pinto da Costa? Não há possibilidade de reversão dos terrenos da Maia? A finalidade terá de ser aquela?
A finalidade é aquela e, seja quem for eleito ou quem vier a ser eleito, não há nenhum louco mesmo louco que fosse capaz de não querer fazer aquilo que está lá projetado, já autorizado. As obras de limpeza estão a decorrer e as obras com presença dos arqueólogos, tudo, se não começam nesta semana, é na próxima semana.

Futebol feminino. O seu objetivo é a entrada direta na 1.ª Divisão. Já tem um pré-acordo com o Valadares?
Não, temos em estudo um pré-acordo com dois clubes, que não posso estar a revelar, eles pediram.

Mas pode dizer de que associações de futebol são?
[gargalhada]

Para levantar um pouco o véu, não estou a pedir muito.
Não está a pedir muito. Há dois clubes da 1.ª Divisão que querem que o FC Porto tome conta desse projeto e que façamos uma ligação para poder jogar na 1.ª Divisão.

Não é um bocadinho, perdoe-me a expressão, o conceito de “fast food” do chegar e comprar e já estamos na 1.ª Divisão? Não é um trabalho demasiado fácil? Não gostaria de ver o Porto começar mais de baixo nessa caminhada?
Não, eu gosto de ver o Porto é em cima.

Mas começar de baixo...
Começar de cima é melhor, porque não precisa de estar em baixo.

Isso significa, por outro lado, quase que liquidar um clube que possa ter algum historial ou peso no futebol feminino.
Não, não, preservaremos isso.

Essa identidade será preservada?
Sim, sim, é evidente.

Fará parte da imagem do futebol feminino do FC Porto essa parceria?
Exato.

Ciclismo. Já disse que tenciona retomar a prazo a modalidade. No processo do doping sentiu-se de alguma forma traído?
Senti-me traído como se sentiram os responsáveis. O FC Porto tinha uma parceria com a W52, onde toda a atividade e gestão desportiva pertencia à W52. O FC Porto dava a autorização para as camisolas e isso levou a que uma multidão, mesmo multidão, passasse a acompanhar os ciclistas. Mas não tivemos nunca qualquer intervenção em nada. E os responsáveis da W52 também não. Agora, foram apanhados alguns ciclistas que tinham tomado substâncias proibidas pelo antidoping. Foram apanhados, foram suspensos.

Foram ciclistas e diretores envolvidos.
Foi o treinador. Duvido muito que, se fizessem as mesmas análises e as mesmas coisas ao pelotão, a maioria não estivesse [dopada], porque era um mau hábito que todos de um modo geral tinham, de tomar substâncias que, não sendo propriamente doping, estavam proibidas.

O FC Porto foi um alvo escolhido, é o que está a dizer?
O FC Porto foi um alvo escolhido por alguma comunicação social. Por exemplo, toda a gente sabe que o FC Porto não tem nada a ver, quem escolhe treinador, médico, ciclistas, tudo, não interferimos em nada. Portanto, não interferimos se o ciclista come frango, batatas ou bacalhau. Não temos nada com isso. Mas, mesmo sabendo isso, há televisões que quando punham W52, aparecia a minha fotografia, como se eu fosse ciclista.

Mas a imagem do Porto estava associada à W52.
Associavam-na, mas não era nesse aspeto. O FC Porto marca estava associado, digamos, mas não estava associada à gestão da secção.

Retirou lições para o futuro?
É evidente. Um dia que esteja tudo esclarecido, e espero que sim, e os ciclistas já reconheceram e confessaram os seus erros, portanto estarão banidos da equipa, vamos voltar a ter ciclismo, naturalmente com muito mais rigor, com um médico especializado que os acompanhará diariamente.

É quase como uma monitorização diária? Uma fiscalização.
Um controlo diário, exatamente.

Falta pouco mais de uma semana para as eleições no Porto. Uma campanha deste género foi uma novidade para si, imagino que tenha até estranhado o ritmo. Que balanço faz da campanha eleitoral?
Tem sido interessante porque tenho sentido um entusiasmo. A nossa dificuldade é escolher onde vamos, porque toda a gente quer que eu vá aos mais diversos pontos. Vou dar um exemplo do que me aconteceu no domingo: no dia do descanso, às 14h fui a Argoncilhe, saí de Argoncilhe, fui para Seia, de Seia saí às 19h para Viseu, cheguei a casa às 2h da manhã. Isto no domingo. Na segunda-feira fomos para Albergaria, por azar meu na terça-feira, às 9h, tinha de estar na câmara da Maia, tive de dormir a correr. Costuma dizer-se que quem corre por gosto não cansa.

Não se sente cansado?
Não, porque cada vez que vou a uma casa e vejo a vontade das pessoas, o carinho, o reconhecimento, eu sinto-me com mais força cada vez mais.

Os seus rivais fazem o mesmo discurso, sentem-se muito impulsionados, principalmente o seu principal rival, André Villas-Boas, que diz que tem sido muito acolhido e que está em crescimento na campanha dele.
Ele é que sabe, eu não sei. Acompanho a minha, a dele não faço ideia.

Ele disse aqui na Renascença que para ele era agora ou nunca, e que não será candidato daqui a quatro anos. O senhor também já disse que não será candidato e que, se for eleito, é o seu último mandato. Quem vê na sua linha de sucessão no FC Porto?
Não compreendo, porque dá força à minha tese de quem está por trás e o que quer, porque um indivíduo que hoje quer ser presidente do FC Porto não pode dizer, sendo uma pessoa nova, que daqui a quatro anos já não quer. Ou seja, ou faço o negócio ou desisto disto. O FC Porto não é um negócio, o FC Porto é uma paixão.

Eu não sou aqui advogado de André Villas-Boas, mas ele defende que preparou a candidatura durante quatro anos e que esta é a oportunidade para mudar o FC Porto. E ele diz que daqui a quatro anos o Porto estará diferente para pior e que esse não será o momento para ele. É a justificação.
Para mim, seria o contrário. Ele diz isso porque sabe que daqui a quatro anos, se nós lá estivermos, o FC Porto não estará pior, estará muito melhor, mas muito melhor. Mas, mesmo que me dissessem que daqui a quatro anos o FC Porto estaria pior, era quando mais eu sentia necessidade de o pôr melhor. Paixões por clubes a prazo não entendo. Sou dirigente do FC Porto desde 1962, sou presidente desde 1982, portanto é perfeitamente normal que eu diga que este é o meu último mandato, mas é o meu último mandato porque também tenho a certeza que no final do mandato o FC Porto estará muito melhor do que estará hoje.

Não respondeu à parte da pergunta sobre a linha de sucessão. Quem é que imagina?
Não faço ideia.

Mas imagino que alguém na sua linha de pensamento.
Ainda não se iniciou este mandato, como posso saber? É o que digo sempre: o FC Porto não é uma monarquia, não há uma sucessão, os sócios é que têm de escolher. Naturalmente, tenho na minha equipa gente capaz de me suceder.

Vítor Baía? João Koehler?
Vítor Baía, João Koehler, António Oliveira. O António Oliveira neste momento, se quisesse, é uma pessoa preparadíssima. Não quis, entendia que devia ser eu.

Chegaram a trocar impressões sobre essa possibilidade?
Cheguei a pôr-lhe a hipótese de, se eu não me candidatasse, ele me suceder, ele disse que não, porque achava que o Porto ainda precisava de mim, que estaria à minha disposição para ajudar no que eu quisesse, no lugar que eu destinasse, mas entendia que eu devia ser o presidente mais um mandato.

Se perder, tenciona manter-se como acionista da SAD?
Claro. Claro. E sócio, sou o sócio 587, sou sócio honorário, sou presidente honorário, porque não haveria de me manter?

É uma paixão para a vida toda?
Claro, não é a prazo. Não tem data marcada para servir o FC Porto. Data está marcada por Deus, é quando eu morrer.

Um resultado bom nas eleições, imagino, é ganhar nem que seja por mais um voto, não é?
Numas eleições ou se ganha ou se perde. Se ganhar por um voto, é ganhar.

Como imagina o Porto sem Pinto da Costa?
Não faço ideia, não sou vidente.

Certamente, já colocou esse cenário de não ganhar estas eleições e, enfim, o clube assumir a viragem para um rumo que não é o seu?
Claro, isso não tem a mínima dúvida. Basta ver o que as pessoas que estão por trás disto fizeram no Sporting de Braga. Venderam, creio, a maioria aos árabes, o senhor Joaquim Oliveira aproveitou a onda e vendeu as ações que ele que tinha no Sporting Braga para encaixar uns milhões.

Tem falado muito no Braga ultimamente, tem falado com António Salvador?
Sou amigo do António Salvador.

E ele não se mostrou incomodado com estas alusões frequentes ao Braga?
Não, ele sabe que é assim. Quando sair, vai deixar uma obra fantástica. Com vitórias no futebol, com uma academia magnífica, portanto ele não tem de se incomodar com nada, é a vida. Se aparecem compradores a quem não pode evitar vender, não pode fazer nada. Agora, uma coisa volto a repetir: comigo, podem trazer o dinheiro que quiserem, o FC Porto não vende nada da sua posição na SAD.

Voltando ao futebol e caminhando para o final. Havia uma ideia à partida de que Sérgio Conceição não seria um nome presente na campanha, mas tem sido muito falado e também por si. É importante ter o treinador consigo nesta fase?
Para mim, é importante ter o Sérgio Conceição como treinador. Toda a gente sabe que ele está comigo. Alguém tem dúvida que ele está comigo? Aquele abraço que ele me foi dar na minha apresentação de candidatura quer dizer o quê? Estava-se a despedir? Não me pareceu.

Vê em Sérgio Conceição um aliado nestas eleições?
Vejo um treinador que é meu amigo, que está comigo e que tenho a certeza vai continuar comigo. Agora, não o quero envolvido nas eleições. E acho uma grande irresponsabilidade, porque a escolha do treinador é a decisão principal, acho extraordinário que as outras candidaturas ainda não tenham um treinador. O candidato Villas-Boas, ainda há dias, disse que não tinha falado com nenhum treinador, que está à espera para ser eleito para se sentar com o Sérgio Conceição. Acho isto uma irresponsabilidade.

Não estaria à espera que falasse com ele agora, não é? Até seria uma deslealdade para consigo.
Não, para comigo não. Se ele quisesse falar com ele, tenho a certeza que o Sérgio mo diria. Se calhar não falaria e vamos ver se falará um dia. Acho uma irresponsabilidade não ter a garantia de que, se fosse eleito, o Sérgio ficaria ou não ter uma alternativa a menos de 15 dias das eleições. É uma irresponsabilidade.

Já disse que vai continuar como acionista da SAD, ainda que perca, faço a mesma pergunta relativamente às suas presenças como sócio do FC Porto no Estádio do Dragão. Continuará a ser presença nos jogos, sendo derrotado nas eleições?
Não é nos jogos de casa, é em todos. Desde os meus 16 anos que, em toda a vida, perdi dois ou três jogos do FC Porto por doença. Perdi dois quando fui operado ao coração e perdi um quando fui operado à vesícula.

É uma paixão para a vida que não terminará com o fim da presidência do FC Porto.
Não tem data marcada. Acho, por exemplo, que é uma decisão bizarra escolher para diretor desportivo, que é um lugar importantíssimo, e não é conhecer o mercado que toda a gente conhece, mas conhecer jogadores e futebol português, os treinadores portugueses, um estrangeiro que não tem o mínimo conhecimento do futebol português.

Em 30 segundos, quer dirigir alguma mensagem aos sócios do FC Porto?
Quero dirigir a mensagem para dia 27 irem votar e que antes de porem a cruz pensem se o “Correio da Manhã”, se o “Record”, se “A Bola” querem que o FC Porto ganhe. Se acharem que o “Record”, “A Bola”, e o “Correio da Manhã” não querem que o FC Porto ganhe, então não votem em quem esses apoiam.

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