eco.sapo.pteco.sapo.pt - 4 abr. 10:00

Coimbra recebeu 9º debate ECO Local/novobanco

Coimbra recebeu 9º debate ECO Local/novobanco

O nono debate ECO Local/novobanco aconteceu em Coimbra, onde vários especialistas refletiram sobre os diferentes desafios e oportunidades para o crescimento económico da região.

O Master novobanco em Coimbra recebeu na passada terça-feira, dia 2 de abril, o nono debate ECO Local/novobanco. O estado da economia da região e os desafios a enfrentar foram os temas do evento, que contou com a moderação de Shrikesh Laxmidas, diretor adjunto do ECO.

O evento começou às 17 horas e teve como convidados Paulo Barradas Rebelo, presidente do Conselho de Administração da Bluepharma, Vladimiro Silva, diretor executivo da Ferticentro, João Gabriel Silva, presidente do Instituto Pedro Nunes, e Luís Ribeiro, administrador do novobanco.

O debate começou com a apresentação de alguns dados estatísticos da economia e do tecido empresarial da região face ao território nacional. “A região centro como um todo tem cerca de 14% do PIB de Portugal, mais ou menos 34 mil milhões de euros, e há aqui três polos fundamentais – Coimbra, Leiria e Aveiro”, começou por dizer Luís Ribeiro.

“Para um desempenho económico sustentável, há três pilares que são fundamentais: o capital humano, o investimento das empresas, e a produtividade. Mas Coimbra é uma cidade mais envelhecida comparativamente à média nacional – 27,7% da população tem mais de 65 anos, enquanto a média nacional está nos 23%. E, com a agravante adicional de que, comparando os Censos de 2021 com os de 2011, há um decréscimo de cerca de 5% da população, mais do dobro daquilo que foi o decréscimo da população no país. E, se formos ver a população em idade ativa, esse decréscimo ainda é mais significativo. Portanto, um dos desafios que a cidade tem é o de atrair população, que é fundamental, quer para o estudo académico, quer para a atividade económica“, continuou.

No que diz respeito ao tecido empresarial, o administrador do novobanco revelou que Coimbra tem 97% de microempresas e 3% de médias empresas: “Quando vamos ver as quatro maiores empresas da região, três estão ligadas à pasta do papel e a quarta é um dos hospitais da universidade, o que mostra que há que ter aqui uma capacidade de diversificação de investimento distinta daquilo que tem sido conseguido até à data”.

Ainda assim, em termos de autonomia financeira, as empresas de Coimbra têm, em média, 46% de autonomia financeira versus 40% do país. 27% das empresas têm EBITDA negativo, mas, mesmo assim, é inferior àquilo que é a média nacional. A região tem, ainda, um crédito vencido ligeiramente superior à média nacional – 2,4% versus 2%. “Portanto, eu diria que é uma cidade que tem de atrair população, tem de ter capacidade de fixar essa população, tem que fazer uma maior ligação entre aquilo que é o investimento que é feito no ensino público, em particular, e fazer essa ligação ao mundo empresarial”, acrescentou.

Fixação de pessoas é desafio para a região

Por sua vez, e perante os números apresentados por Luís Ribeiro, Paulo Barradas Rebelo afirmou que realmente “as necessidades para recrutar são muito maiores”, mas destacou que “ainda se recruta bem em Coimbra“: “Vivemos num mundo de muita incerteza e estes indicadores deste deserto demográfico que temos são uma questão de escala. Portugal também é o país mais envelhecido da Europa e estamos cá e temos futuro. Portanto, é uma questão de escala e tudo depende de nós arregaçarmos as mangas, termos o sonho, e fazermos o que achamos que deve ser feito. E Coimbra tem muito boas condições para se fazer o que deve ser feito porque vivemos nesta economia do conhecimento, temos uma universidade, temos gente muito qualificada, há que motivá-los e tirar partido dessa realidade“.

Esta opinião foi corroborada por Vladimiro Silva, que deu o exemplo dos processos de recrutamento da Ferticentro para explicar o seu ponto de vista. “Quando nós queremos contratar pessoas recém-licenciadas, que estejam a iniciar a sua carreira, a qualidade dos candidatos em Coimbra é sempre superior. É bastante fácil contratar pessoas com muito boas qualificações. Por outro lado, se quisermos contratar pessoas já formadas, é praticamente impossível. Eu tenho muita dificuldade em conseguir atrair para Coimbra, por exemplo, estrangeiros“, explicou.

Apesar do potencial da região, a capacidade de fixação de pessoas continua aquém do esperado e João Gabriel Silva considera que isso continua a acontecer, não por falta de interesse, mas por “falta de ofertas de empregos em condições”: “Coimbra tem cerca de 100 mil habitantes e cerca de 40 mil estudantes no ensino superior. Isto mostra que nós temos dificuldade na fixação de pessoas. Dos 40 mil estudantes do ensino superior, há uma percentagem significativa de pessoas que ficariam em Coimbra se tivessem um emprego em condições“.

Ainda neste ponto, o presidente do Instituto Pedro Nunes (IPN) ressalvou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo IPN para combater este problema. “As empresas de origem IPN são responsáveis pela criação de cerca de sete mil postos de trabalho, a larga maioria em Coimbra, e o salário médio pago pelas empresas IPN é quase três vezes superior ao salário médio nacional. Não se trata só de ter emprego, trata-se de ter emprego com vencimento suficiente, para que a distância para a Europa não seja tão violenta a ponto de as pessoas qualificadas saírem do país“, alertou.

1 / 5 Quais os fatores de sucesso das empresas?

Quando questionados sobre os fatores de sucesso das suas empresas, os vários gestores presentes no debate destacaram o capital humano e a localização, bem como o investimento, a inovação e a internacionalização como peças chave de um percurso bem-sucedido.

“O sucesso da minha empresa, em particular, foi muito influenciado pelo talento e pela localização. Nós temos os olhos postos no mundo, exportamos para todo o mundo, portanto o local onde estamos é decisivo porque permite fazer uma boa empresa com capacidade de exportar e de se desenvolver lá fora. E, para isso, contribui o talento que temos aqui e a dimensão da cidade, a facilidade de comunicação entre todos, a facilidade de mobilizar e de motivar as pessoas“, disse Paulo Barradas Rebelo.

O presidente do Conselho de Administração da Bluepharma acrescentou ainda que a empresa também aposta na estratégia dos três I´s – “investir para inovar e inovar para internacionalizar” -, mas não só: “A primeira coisa que a Bluepharma fez foi investir para dar futuro à empresa. E investimos para inovar. E inovar é ter a capacidade de surpreender e internacionalizar. Tivemos a capacidade de entrar nas cadeias globais de fornecimento e fizemo-lo em parceria, que é outro dos valores da Bluepharma. Portanto, a nossa estratégia foram os três I´s, o P de parceria e de partilhar, e a obsessão pela qualidade“.

Já Vladimiro Silva explicou que, no caso da Ferticentro, o sucesso “tem muito a ver com as características das pessoas, que gostavam de trabalhar, com a capacidade de criar um ambiente positivo para a evolução e para o conhecimento. Tivemos capacidade de ousar e, ao mesmo tempo, de tentar conseguir crescer a equipa, com pessoas talentosas, com potencial. Acho, essencialmente, que, neste mundo global em que vivemos, a localização já não é assim tão importante, isto porque se conseguirmos criar um espaço onde as pessoas saibam que vão ter as melhores tecnologias, aplicadas de uma forma honesta e transparente, em linha com o que de melhor se faz a nível mundial, elas vêm cá“.

A falta de investimento e o obstáculo burocrático

Coimbra tem fatores que eu acho que a podem potenciar como mais nenhuma região do país. Está a menos de uma hora do Porto e a menos de duas horas de Lisboa. Depois tem duas coisas que são fundamentais – tem dos melhores hospitais, que é uma das coisas que as pessoas mais valorizam para se fixarem; e tem das melhores universidades, que é a segunda coisa mais valorizada. Portanto, em termos de condições endógenas, a cidade de Coimbra tem condições ímpares no país. E são esses fatores que têm de se potenciar e tem, depois, de se conseguir capitalizar esses fatores e fixar a população”, explicou Luís Ribeiro.

No entanto, apesar de as empresas de Coimbra, em média, serem “mais rentáveis, estarem melhor capitalizadas e serem mais saudáveis”, a verdade é que “o crédito na região está reduzido”, o que, de acordo com o administrador do novobanco, “pode levar a algum adiar de alguns investimentos“. Ainda assim, destacou que as áreas que mais têm feito investimento são a investigação e a agricultura.

Contudo, a burocracia exigida para se desenvolverem alguns projetos e ideias não ajuda a que este investimento se concretize, de acordo com alguns dos especialistas presentes. João Gabriel Silva disse mesmo que é importante “criar condições para as pessoas que têm iniciativa terem condições de a desenvolver, seja em que área for”: “Se me perguntassem qual é o principal obstáculo que nós temos ao desenvolvimento em Portugal, nomeadamente no campo da inovação, eu responderia, sem hesitar, que é a complexidade burocrática de tudo e mais alguma coisa. De facto, em termos de comparação internacional, eu diria que somos mesmo muito maus“.

Por sua vez, Paulo também abordou a dificuldade que a burocracia traz à internacionalização das empresas. “Quando entramos no processo de internacionalização, é tudo super difícil. Já nem falo da carga fiscal, que, como sabemos, é elevada, mas deixando essa questão à parte, todo o aspeto burocrático pelo qual nós temos de passar, é um autêntico pesadelo. Eu acho que era importante ter um governo que facilitasse a vida às empresas em tudo o que sejam estes milhões que nós gastamos em consultores porque é absolutamente impossível uma pessoa movimentar-se neste percurso sozinho. Há pequenas ratoeiras quase em cada passo. E, portanto, para quem quer investir e fazer projetos, em conjunto com empresas noutros pontos do país e no estrangeiro, é super difícil”.

Ainda assim, Luís Ribeiro sugeriu que as empresas da região aproveitassem os apoios financeiros do Estado para apostar no investimento do tecido empresarial. “O PRR aqui são cerca de 500 milhões de euros. 21% já está desembolsado, portanto faltam os outros 80%, mais ou menos a média nacional. E acho que é fundamental aproveitar esta onda de investimento, que é necessário fazer, para ajudar a cidade e a região a ter as bases para poder crescer. Eu não diria que é um tema de qualidade, provavelmente é um tema de escala, que é conseguir criar um ecossistema que permita às empresas crescer como um todo“, concluiu.

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