expresso.ptexpresso.pt - 4 abr. 15:43

Há décadas que não se falava tanto de serviço militar obrigatório: é sinal de uma nova Guerra Fria?

Há décadas que não se falava tanto de serviço militar obrigatório: é sinal de uma nova Guerra Fria?

"A discussão é uma consequência natural da invasão russa da Ucrânia", diz um dos especialistas ouvidos pelo Expresso. É uma das respostas a tensões crescentes em todo o mundo, bem como o reconhecimento de que militares bem treinados são fundamentais para dissuadir e, se necessário, travar guerras terrestres de alto nível. Analistas de defesa ouvidos pelo Expresso consideram, no entanto, que a imposição desta medida faz mais sentido em países mais pequenos e com ameaças próximas

“O aumento dos orçamentos de defesa e a expansão da narrativa do serviço militar obrigatório refletem o desejo de aumentar a preparação militar numa época de crescentes tensões globais”, considera o conselheiro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank sediado em Washington. Por todo o mundo, da Dinamarca e Sérvia a Taiwan e Myanmar, o serviço militar obrigatório voltou à senda do debate. “Muitos pensadores dizem que já estamos numa nova Guerra Fria”, admite o antigo conselheiro do Departamento de Defesa norte-americano Mark Cancian.

Muitos países desenvolvidos têm hoje dificuldade em recrutar pessoas para as Forças Armadas: a guerra na Ucrânia fez soar alarmes, depois de, em 1999, no Kosovo, já ter ficado patente a limitação das tropas dos países europeus. “A Alemanha está em dificuldades, França também, o que não acontecia até recentemente”, diz ao Expresso Michael Shurkin, diretor de programas da organização 14 North Strategies, que avalia riscos e ameaças. “Sei que o Reino Unido não consegue recrutar pessoas suficientes para tripular os seus navios de guerra. O Japão tem escassez... Pode ser que o serviço militar obrigatório seja a única forma de fornecer a mão de obra necessária.”

Nos anos 2000, as Bundeswehr, forças armadas alemãs, estavam reduzidas a metade do tamanho que tinham durante a Guerra Fria. No Afeganistão, a presença britânica teve de ser limitada, devido à quantidade de tropas disponíveis ser a menor desde as guerras travadas por Napoleão. Em Itália, todos os anos é notória a dificuldade em recrutar os 8000 militares necessários. Mas há vários países na Europa em que o serviço é obrigatório: Noruega, Finlândia, Letónia e Grécia são alguns desses exemplos, e os analistas tendem a concordar que é mais vantajoso implementar o regime de obrigatoriedade em Estados de pequena dimensão demográfica.

“Para países maiores, o recrutamento, se for justo, implica um grande número de jovens homens – e talvez mulheres. Treino, roupa, alimentação e habitação para muitas pessoas são caros”, lembra Michael Shurkin, perito em estratégias de defesa europeias e norte-americanas, que já foi analista da CIA. Além disso, a guerra moderna exige frequentemente proficiência técnica e formação, muito mais do que no passado, quando o serviço obrigatório era a norma. Isso significa que os militares não beneficiam do mesmo, exceto se o período de serviço for longo. Longos recrutamentos – como o de três anos, em Israel - aumentam o número de pessoas que têm de ser vestidas e alimentadas.”

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