expresso.pt - 4 abr. 09:55
Mark Rutte tem caminho aberto para liderança da NATO, mas ainda tem de convencer Hungria, Turquia, Roménia e Eslováquia
Mark Rutte tem caminho aberto para liderança da NATO, mas ainda tem de convencer Hungria, Turquia, Roménia e Eslováquia
O sucessor de Jens Stoltenberg será conhecido na cimeira de junho, em Washington D.C., e já só sobram dois candidatos. Hungria, Eslováquia, Roménia e Turquia, por razões diferentes, são obstáculos no caminho do atual primeiro-ministro neerlandês, que tem de obter unanimidade para chegar ao cargo
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO têm chegado a Bruxelas nos últimos dois dias para as celebrações do aniversário da aliança, mas o futuro da sua liderança, numa altura de guerra e de incerteza sobre o seu principal fundador, os EUA, tem sido o assunto mais abordado nos últimos dias. Mark Rutte, o (ainda) primeiro-ministro dos Países Baixos, é o favorito para assumir o cargo de secretário-geral no outono, substituindo Jens Stoltenberg, mas até lá ainda terá de convencer quatro Governos.
Rutte, o liberal conservador que liderou o Governo neerlandês durante quase 14 anos, já convenceu 28 dos 32 países da NATO a apoiar a sua candidatura, incluindo os maiores par, como os EUA, a França, a Alemanha e o Reino Unido. Mas quatro países - Hungria, Eslováquia, Turquia e Roménia - mantêm-se céticos e a decisão exige unanimidade.
A Hungria é talvez o caso mais difícil de gerir para o futuro líder da aliança. Há muito que o Governo iliberal e ultraconservador de Viktor Orbán tem causado problemas diplomáticos na Europa e na NATO, seja pelo avanço de medidas antidemocráticas contra a liberdade de imprensa, os tribunais e a comunidade LGBTI+, seja pela oposição a sanções mais fortes contra a Rússia. Orbán tem ainda menos razões para apoiar Rutte depois de o neerlandês ter dito, em 2021, que a União Europeia devia “pôr a Hungria de joelhos” devido à opressão de pessoas queer no país.
Na altura, a reação do líder populista húngaro foi severa, afirmando que o homólogo no Norte da Europa “considera-se moralmente superior” e atacou o seu “passado esclavagista”.
Quanto à Turquia, ela própria outra fonte de dores de cabeça para a NATO (demorou 20 meses a ratificar a entrada da Suécia, por Estocolmo defender os direitos humanos dos curdos), o Presidente Erdogan avisou a 31 de março que o país preferia outro candidato, que atenda aos interesses dos países fora da União Europeia.
A Roménia, por sua vez, tem de dispensar primeiro o seu próprio candidato, já que o atual Presidente do país, Klaus Iohannis, ainda está na corrida e é o único a fazer frente a Rutte, defendendo que a NATO beneficiaria de um líder do Leste europeu.
Julianne Smith com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg (ao centro) em Bruxelas, na sede da organização Omar Havana NATO aos 75: Aliança “preparada” para uma guerra, mas não há “sinais” que esteja “iminente” em “alguma região”Finalmente, a Eslováquia atravessa um período complexo nas suas chefias. Robert Fico, o chefe do executivo, é há muito um dos mais empedernidos defensores de Vladimir Putin e do Kremlin a partir do seio da União Europeia, argumentando várias vezes que Kiev devia desistir da guerra. Contudo, no passado dia 23 de março, o ex-ministro pró-UE Ivan Korcok venceu a primeira volta das eleições presidenciais e vai disputar a segunda volta a 6 de abril contra Peter Pellegrini, que é apoiado por Fico.
Além de Rutte, outro nome que foi sendo apontado para liderar da NATO era o de Kaja Kallas, a primeira-ministra da Estónia que assumiu um protagonismo maior dada a proximidade do país com a Rússia e as crescentes ameaças do Kremlin. Mas Kallas optou por ficar em Tallinn por agora, após tornar-se na primeira mulher a governar a antiga república soviética em janeiro de 2021 e vencer as eleições de 2023, anunciando que Rutte deve ser o próximo secretário-geral.
“Para uma NATO forte, precisamos de ser claros sobre a Rússia, promover a dissuasão e a despesa em defesa, apoiar a adesão da Ucrânia e o equilíbrio geográfico. Discuti isto com Mark Rutte e ele comprometeu-se com estas prioridades. A Estónia pode apoiá-lo para secretário-geral da NATO”, disse Kallas, num comunicado partilhado nas redes sociais.
Krišjānis Kariņš, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, chegou a candidatar-se ao cargo, mas acabou por se demitir do Governo do seu país devido a um escândalo sobre o uso de jatos privados para reuniões oficiais.
Rutte procura substituir o norueguês Jens Stoltenberg como chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte, numa altura em que a guerra vai ficando cada vez mais difícil para os ucranianos. Com o número de baixas a aumentar consideravelmente, a Europa e os EUA a hesitar em enviar mais armas para Kiev e com grandes dificuldades em pressionar as linhas defensivas russas, o presidente Volodymyr Zelensky e o seu Governo estão a soar os alarmes todos os dias, pedindo constantemente apoio à NATO e mudando vários cargos no topo da hierarquia militar.
Nos últimos meses como secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg terá de lidar com a pressão cada vez maior de Trump Jonathan Ernst/REUTERS Contributo de 2% de aliado com PIB baixo “não vai resolver o problema”: as críticas à meta de investimento da NATO em DefesaAlém disso, o próximo secretário-geral poderá ter de lidar com um mundo político completamente diferente.
Este ano, além das eleições europeias – também elas serão decisivas para o futuro da resposta europeia às ameaças externas –, Estados Unidos e, ao que tudo indica, o Reino Unido vão a votos. Se em Londres o apoio à aliança é incontestável, nos EUA tal não é tão claro. Donald Trump, o antigo Presidente que está à frente na maioria das sondagens, tem sido muito crítico da aliança e do baixo investimento em defesa militar dos outros países em relação aos EUA, lançando recentemente a hipótese de abandonar a organização se voltar à Casa Branca.
A próxima cimeira da NATO, onde vai ser decidido quem será o próximo secretário-geral, será precisamente em Washington D.C., entre os dias 9 e 11 de julho deste ano.