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Ministro da Agricultura deve “dar prioridade a medidas que fortaleçam o setor dos vinhos em Portugal”

Ministro da Agricultura deve “dar prioridade a medidas que fortaleçam o setor dos vinhos em Portugal”

O novo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, “deve dar prioridade a medidas que fortaleçam ainda mais o setor dos vinhos em Portugal e impulsionem o seu crescimento e competitividade”, considera o presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) da Beira Interior. Em entrevista à “Vida Económica” para a secção Vinhos do “AgroVida”, Rodolfo Queirós elogia a “região vitivinícola mais alta de Portugal”, cuja altitude e temperaturas médias conferem “ganhos significativos de qualidade”. Apesar da “quebra” de 15% na última vindima, o presidente da CVR da Beira Interior não tem dúvidas: “qualitativamente, o ano foi muito positivo”.

Vida Económica - A Beira Interior é a mais alta região vitivinícola de Portugal. Dizia, numa entrevista publicada há dois anos, que, aí, os vinhedos vão beber o que a altitude tem de melhor. Qual é o grande fator diferenciador dessa região?
Rodolfo Queirós -
Sim, a Beira Interior é conhecida por ser a região vitivinícola mais alta de Portugal. A altitude é um dos fatores diferenciadores mais importantes, o que confere características únicas às uvas e aos vinhos. A altitude faz com que as temperaturas médias desçam cerca de um grau centígrado por cada 150 metros que subimos, o que faz com que tenhamos maturações mais lentas e mais longas das uvas, permitindo um amadurecimento mais equilibrado, o que se traduzirá em ganhos significativos de qualidade dos nossos vinhos, que têm sempre uma frescura marcante precisamente por este fator tão diferenciador. As vinhas plantadas em altitudes mais elevadas enfrentam amplitudes térmicas significativas, uma exposição solar intensa e uma influência direta da altitude nas caraterísticas do solo, o que contribui para a produção de uvas de alta qualidade, com boa acidez, concentração de sabores e aromas distintivos.

VE - Criaram a Rota dos Vinhos da Beira Interior. É fácil passar a mensagem aos consumidores e aos compradores?
RQ -
É incrível ver como a Rota dos Vinhos da Beira Interior se tem desenvolvido nos últimos cinco anos, mesmo com os desafios da pandemia. Os esforços para promover a região e seus produtos endógenos, como vinhos, mel e azeite, são notáveis. A criação de uma loja física e online é uma excelente iniciativa, tornando mais fácil para os enoturistas e apreciadores de vinho explorar o que a região tem para oferecer. Os projetos em parceria com os municípios, restaurantes, hotéis, adegas e as aldeias históricas de Portugal demonstram um esforço conjunto e colaborativo para impulsionar o turismo na região. O Concurso Beira Interior Gourmet e a pós-graduação em Enoturismo em parceria com o Instituto Politécnico da Guarda são exemplos de como estamos a investir, não apenas na promoção dos vinhos, mas na valorização da gastronomia local e na formação de profissionais qualificados.

VE - Como foi a vossa última vindima?
RQ -
É interessante ver como fatores climáticos podem influenciar tanto a produção vitivinícola. A quebra de cerca de 15% na quantidade devido ao excesso de calor durante a vindima certamente representa um desafio para a produção, mas é reconfortante saber que qualitativamente o ano foi muito positivo. É comum que variações climáticas afetem a quantidade e a qualidade das uvas colhidas em determinado ano. O calor excessivo durante a vindima pode acelerar a maturação das uvas, o que pode resultar em uma colheita mais precoce e em menor quantidade. No entanto, a qualidade das uvas pode ser preservada se as condições climáticas permitirem um amadurecimento gradual e equilibrado, sem comprometer os componentes essenciais para a produção de vinhos de qualidade. Neste sentido, é encorajador ouvir que, apesar da redução na quantidade, a qualidade das uvas colhidas foi muito positiva.

VE - Exportar é obrigatório para qualquer marca de vinho de referência. Quanto valem as vossas exportações?
RQ -
É notável ver o impacto significativo que as exportações têm nas vendas de vinhos da Beira Interior, representando cerca de 28% do total. Os mercados de exportação mais relevantes para os vinhos da Beira Interior são: o Brasil, com uma longa tradição de apreciação de vinhos portugueses, é um mercado-chave para os produtores da Beira Interior. Os Estados Unidos são um dos maiores mercados de vinho do mundo e têm demonstrado um crescente interesse nos vinhos portugueses. Assim como os Estados Unidos, o Canadá é um mercado importante para os vinhos portugueses. A reputação crescente dos vinhos da região da Beira Interior tem impulsionado as vendas neste mercado. A União Europeia representa uma parte significativa das exportações de vinhos da Beira Interior.

VE - O Programa de Apoio à Reestruturação e Reconversão da Vinha (VITIS) dispõe de 80 milhões de euros até 2025. Como tem sido a vossa adesão ao VITIS?
RQ -
É fantástico ver o interesse e a adesão da Beira Interior ao VITIS. O facto de a procura ter excedido as expectativas nos últimos anos é um claro indicador da dinâmica e atratividade do setor vitivinícola na região. Com cerca de 130 hectares de vinha elegíveis para novas plantações, o que representa aproximadamente 1% da área total de vinha na região (13.100 hectares), a Beira Interior tem aproveitado essa oportunidade para impulsionar o seu desenvolvimento vitivinícola.

VE – Já é conhecido o novo Governo. Que medidas o novo ministro da Agricultura [José Manuel Fernandes] deve tomar para alavancar os vinhos em Portugal?
RQ –
O novo ministro da Agricultura deve dar prioridade a medidas que fortaleçam ainda mais o setor dos vinhos em Portugal e impulsionem o seu crescimento e competitividade, como o apoio à modernização e inovação na vinha, incentivando a adoção de tecnologias avançadas, práticas sustentáveis e métodos de cultivo inovadores.
Na promoção das denominações de origem e indicações geográficas [DO e IG], [o novo ministro] deve continuar a apoiar e promovê-las, tanto no mercado interno quanto nos mercados externos. Nos incentivos à exportação e internacionalização, deve implementar apoios específicos para ajudar os produtores de vinho a expandir as exportações e a internacionalizar as marcas. Deve também investir em programas de formação e capacitação para os profissionais do setor vitivinícola, incluindo produtores, enólogos, gestores de vinícolas e pessoal de marketing.
Na regulamentação e fiscalização, [o novo ministro] deve garantir que as regulamentações relacionadas com a produção, rotulagem e comercialização de vinhos sejam cumpridas de forma rigorosa, promovendo a transparência e a confiança dos consumidores. Isso pode envolver o reforço das medidas de fiscalização e o aprimoramento das leis e normas do setor.

Beira Interior: 13.100 hectares de vinha em altitude
A região da Beira Interior é uma área vitivinícola única em Portugal, localizada no centro-norte do país, próxima à fronteira com Espanha. Abrange 20 concelhos e possui uma extensão total de 13.100 hectares de vinha. Anualmente, produz mais de 20 milhões de litros de vinho e conta com mais de 70 associados. Caracteriza-se por ser a região dos vinhos de altitude em Portugal, com vinhas situadas entre os 300 e os 750 metros acima do nível do mar.  O clima é marcado por invernos muito frios e rigorosos, com temperaturas negativas, e verões quentes e secos. Os solos são graníticos e xistosos. As condições climáticas, aliadas à baixa pluviosidade, confere-lhe um enorme potencial para a produção de vinhos biológicos. Possui, aliás, mais de 1000 hectares de vinha neste modo de produção.
Nos vinhos brancos, as principais castas são a Síria, Fonte Cal e Arinto. Nos tintos, a Rufete, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Marufo, Trincadeira, Jaen e Alfrocheiro.
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