www.publico.ptpublico.pt - 4 abr. 14:37

Na Noruega, uma linha eléctrica pode acabar com pastagens das renas

Na Noruega, uma linha eléctrica pode acabar com pastagens das renas

O Governo norueguês quer construir uma linha eléctrica de 54 quilómetros para abastecer a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental numa zona de pastagem de Verão de renas.

A neve continua a cair e o frio ainda se sente na Noruega. Por lá, alguns pastores indígenas Sami levam as renas para pastar, no planalto de Finmark, em Jergul. São cerca de 30 pastores, com um total de 1500 renas. Actualmente têm sentido cada vez mais dificuldades em alimentar os animais, devido às alterações climáticas. Agora, surge um novo problema: a construção de uma linha eléctrica no território de pastagem de Verão.

O Governo norueguês quer construir uma linha eléctrica de 54 quilómetros para abastecer a maior fábrica de gás natural liquefeito da Europa ocidental, a Hammerfest LNG. O projecto tem como objectivo cumprir a missão de reduzir as emissões de dióxido de carbono. A Noruega tem o compromisso de reduzir em 55% as emissões do país até 2030.

Através desta linha, a Hammerfest LNG passaria a usar electricidade gerada através de energia hidroeléctrica e reduziria a utilização de gás, que faz funcionar cinco turbinas. Além disso, esta iniciativa ajudaria a exportar mais gás para os mercados. Actualmente, a fábrica é responsável por 2% das emissões anuais de CO2 da Noruega.

Ao mesmo tempo que a decisão quer ajudar o país a tornar-se mais verde, também interfere directamente com os pastores de renas da região. Além da linha eléctrica, existem projectos para se construírem parques eólicos em territórios de pasto de Verão. Vários grupos de pastores juntam-se para lançar uma acção legal para impedir a construção da linha, uma vez que esta afectará o comportamento e o pasto natural dos animais.

John Isak Eira é dono de algumas das renas. À Reuters, conta que as “estruturas lhes metem medo e elas não gostam dos sons que fazem”, evitando essas zonas. Assim que as temperaturas sobem, levam os animais para os campos de Verão, perto da cidade de Hammerfest, de Maio a Outubro. A construção da linha está prevista para este Verão e os pastores estão receosos. Defendem que as terras que utilizam já foram invadidas por diferentes infra-estruturas e que é “uma idiotice destruir a natureza por causa do clima”.

A vice-ministra da Energia, Elisabeth Sæ​ther, defende que o projecto é necessário para “criar novos postos de trabalhos e permitir uma maior actividade económica”. Acredita que o futuro depende das energias renováveis e que a construção da linha eléctrica é um ponto fulcral desse mesmo objectivo. Para além disso, afirma que o projecto pode funcionar em conformidade com o artigo 27.º de um tratado das Nações Unidas que tem como objectivo proteger os direitos e as práticas culturais de populações indígenas. “Não se trata de um obstáculo tão grande que impeça os pastores de praticarem a sua cultura”, adiciona.

Responsáveis pela construção e operação da linha eléctrica afirmam que o projecto será conseguido da forma mais sustentável possível, tendo em conta “tanto as pessoas como a natureza”. As dúvidas e os protestos dos pastores são respeitados, mas asseguram que a linha eléctrica só afecta as renas “de forma limitada”.

A Equinor, responsável pela fábrica e pelo projecto de electrificação, assegura que estenderá o cabo eléctrico num túnel subterrâneo nos terrenos que lhes pertencem, para não afectar as pastagens de Verão. Ainda assim, o assunto terá de ser discutido: “Estamos confiantes de que é possível desenvolver a rede da região em bom diálogo com as partes afectadas.”

Texto editado por Ana Maria Henriques

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