SARA SANTOS - 2 abr. 17:25
Visão | Obesidade: Orgulho e preconceito
Visão | Obesidade: Orgulho e preconceito
Numa sociedade que valoriza a silhueta magra como padrão de beleza, a aceitação do corpo com obesidade pode ser um caminho repleto de desafios, onde o orgulho individual choca com o preconceito social
Para algumas pessoas, a aceitação do próprio corpo é um sinal de resistência aos estereótipos de beleza impostos pela sociedade. Encontrar a sua beleza interior e a sua afirmação pessoal num corpo em conflito com os padrões sociais é um ato de autodeterminação e coragem.
O preconceito contra pessoas com obesidade é enraizado em estereótipos que perpetuam a ideia de que esta doença é resultado de gula, preguiça, falta de força de vontade ou descontrolo. Este estigma é reforçado pela comunicação social, pelas indústrias do entretenimento e da moda e, até mesmo, por profissionais de saúde, criando um ambiente hostil para aqueles que lutam contra o excesso de peso. Esse preconceito marca a personalidade das pessoas com obesidade, compromete a sua autoconfiança e enraíza-lhes um sentimento de culpa; mas também lhes dificulta o acesso a oportunidades profissionais, a interações sociais igualitárias e a cuidados médicos adequados.
No entanto, é necessário compreender que não discriminar é diferente de promover. Os movimentos de body acceptance, de normalização do estado de obesidade e com orgulho num corpo “plus size”, são tão deletérios à luta contra a obesidade como os preconceitos opostos. A normalização da obesidade impede o reconhecimento da doença e a procura de cuidados médicos diferenciados. A obesidade é, em si mesmo, uma doença com aumento da mortalidade precoce e com incremento do risco ou de complicações de um sem número de outras doenças (do foro cardiovascular, endócrino, metabólico, respiratório, osteoarticular ou oncológico).
A dicotomia entre a aceitação do corpo com obesidade e o preconceito social reflete um conflito interno entre o desejo de autoestima e a pressão da sociedade para nos encaixarmos no padrão desejado. Enquanto alguns são constantemente confrontados com hostilidade e discriminação, outros reagem com o empoderamento do seu corpo obeso e com a normalização da doença.
É fundamental compreender que a obesidade é uma doença complexa, influenciada por múltiplos fatores genéticos, hormonais, ambientais e sociais.
Rotular as pessoas com obesidade como gulosas e preguiçosas, não só é injusto e imoral, como factualmente errado. Ignorar o seu problema de saúde, aceitando a condição natural de uma doença é também perverso e perigoso.
A luta contra a obesidade obriga a uma abordagem global da saúde, na sua interpretação de bem-estar físico, psicológico e social. Culpabilizar o doente e ignorar a doença são duas faces da mesma moeda que urge combater. É caso para dizer que é tão mau o orgulho como o preconceito!
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