rr.sapo.ptOpinião de Francisco Sarsfield Cabral - 13 fev. 19:17

Lições políticas do passado

Lições políticas do passado

Há um século a democracia liberal era vista como um regime ultrapassado. Modernos eram então o comunismo, o fascismo e o nazismo. Mas a democracia voltou a afirmar-se em força na segunda metade do séc. XX. Hoje, só nas democracias liberais existem condições para reformar o capitalismo.
Multiplicam-se as lamentações sobre a incapacidade da direita democrática travar a ascensão da extrema-direita. De facto, por vezes a direita democrática não apenas não defende com energia os seus valores como toma para si certas bandeiras da extrema-direita, caso da hostilidade à imigração. Veja-se, por exemplo, que a França e os Países Baixos defendem a detenção de crianças migrantes nas fronteiras. É útil olhar o que se passou na primeira metade do século XX, quando o comunismo soviético, o fascismo e o nazismo pareciam ter conquistado o mundo. Nessa altura muita gente via uma manifestação de modernidade nesses regimes autocráticos da União Soviética, da Alemanha e da Itália, enquanto considerava a democracia liberal como uma relíquia do passado, um regime político que já não servia para o século XX. Mas esses regimes alegadamente “modernos” iriam desaparecer do mapa ainda no séc. XX – o fascismo e o nazismo com a segunda guerra mundial e o comunismo trinta anos depois, quando implodiu na União Soviética. Viveram-se depois da segunda guerra mundial trinta gloriosos anos de expansão da democracia liberal. Nesses anos o capitalismo tornou-se menos selvagem, dadas as preocupações sociais das democracias europeias. Mas a partir de certa altura acentuaram-se os traços menos civilizados do capitalismo, como é o caso do crescimento das desigualdades, por vezes atingindo níveis dramáticos. O que exige sérias reformas no capitalismo. Se é certo que as democracias liberais ainda não encararam a sério essas reformas, também é verdade que só em liberdade – ou seja, só nas democracias liberais – existem condições para reformar o capitalismo. As autocracias que a extrema-direita oferece são alérgicas a tal coisa, acolhendo o capitalismo atual como se de uma ordem natural se tratasse.
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