visao.ptvisao.pt - 13 fev. 09:00

Visão | Porque doem os maxilares? A explicação de um especialista

Visão | Porque doem os maxilares? A explicação de um especialista

É espantoso constatar a importância do incorreto articulado dentário nos problemas de postura. O problema dos dentes acarreta, muitas vezes, a dor nas costas

É cada vez mais frequente ter pacientes em consulta devido a dores na face por razões inexplicáveis. Queixam-se de dores difusas na mandíbula, enxaquecas persistentes, dores de cabeça, rigidez e dores cervicais, sensação de ouvido obstruído e ruídos nos ouvidos. Muitos consultaram especialistas que não encontraram soluções para os seus problemas.

Um interrogatório mais específico informa o médico que o paciente não só apresenta dores como toma muitos medicamentos, assim como apresenta “clicks” ou crepitações a nível de articulações temporomandibulares. A anamnese informa-nos, geralmente, que o paciente apresenta dores nas costas, nos joelhos e sofre de sucessivas entorses. Há vários anos que se sabe que estas manifestações podem ter a sua origem em deficientes contactos dentários.

Para que ocorra o esmagamento do bolo alimentar, os dentes devem estar em contacto de forma equilibrada. Deste modo, assegura-se uma preparação eficaz do bolo alimentar e a sua perfeita digestão. Os dentes entram em contacto por elevação da mandíbula que gira em torno das articulações temporomandibulares. Estas últimas são movimentadas pelos músculos mastigatórios que permitem o encerramento das arcadas dentárias, um fenómeno denominado oclusão dentária.

Os dentes só contactam realmente 30 minutos em 24 horas, essencialmente aquando da deglutição. No resto do tempo, sob as forças da gravidade, a mandíbula descai um pouco. Existe uma posição de repouso fisiológico que se manifesta por uma ausência de contactos dentários e de contrações musculares.

A ocorrência da patologia pode ter várias origens. Quando um dente é extraído, os dentes adjacentes inclinam-se para compensar o espaço criado pelo dente em falta. A seu termo, estes contactos deixam de ser simultâneos por extrusão dos dentes e então ocorrem interferências dento-dentárias que provocam desvios da mandíbula.

Este desvio da mandíbula não deixa que os músculos mastigatórios tenham uma contração de forma equilibrada e provoca disfunções musculares. Estas manifestam-se por cãibras, com as consequentes dores. Mais tarde, as articulações temporomandibulares serão também atingidas.

Para compreender tudo isto, imagine-se um indivíduo a caminhar com um só sapato, ou seja, com um pé descalço e o outro não. O seu andar encontrar-se-á modificado e alterado, e o coxear levá-lo-á a dores dos músculos responsáveis pela marcha. A termo, o funcionamento das ancas será também perturbado.

A disfunção das articulações temporomandibulares tem também outras causas, em que as mais importantes são as causas acidentais. Um acidente de viação pode provocar lesões cervicais –  nestas circunstâncias há uma luxação da mandíbula em que o disco se desloca para a frente.

Como os dentes ocluem apenas 30 minutos por dia, se as articulações só funcionassem neste período verificar-se-ia a recuperação fisiológica de alguma lesão existente. No entanto, tal não se verifica, pois o fator stresse leva a que um indivíduo muitas vezes cerre os dentes –  e este hábito denomina-se bruxismo. Quanto maior é o período de bruxismo, mais nocivo se revela.

Um paciente, que visite o seu dentista apresentando problemas da esfera orofacial deste tipo, refere muitas vezes que os sintomas aparecem em períodos de stresse exacerbado. Uns e outros são indissociáveis. É então, do foro médico-dentário encontrar uma solução para o problema dentário, mas no que respeita ao stresse cabe ao paciente controlá-lo e geri-lo.

Os contactos dentários incorretos levam a problemas mais gerais, como os problemas de postura. Com efeito, um deficiente articulado dentário posiciona a mandíbula diferentemente e de maneira falsa no espaço. Os músculos mastigatórios deixam de funcionar de maneira simétrica. Com o tempo, devido ao bruxismo, eles tornam-se contraídos e espasmódicos.

É fácil compreender como um problema de postura originário pode levar à disfunção mandibular.

A consulta deve permitir ao dentista ver os desejos e as necessidades do seu paciente. A análise da postura evidencia a báscula dos ombros, chamadas cintura escapular e a da bacia, ou cintura pélvica, em correção ou não com a articulação dentária. É espantoso constatar neste estádio a importância do incorreto articulado dentário nos problemas de postura. O problema dos dentes acarreta, muitas vezes, a dor nas costas.

Por fim, a radiografia confirma a presença ou não de artrose a nível das articulações temporomandibulares. Isto informa-nos então sobre o prognóstico a longo termo.

Um diagnóstico preciso é necessário para colocar em prática um tratamento apropriado.

O tratamento consiste, antes de mais, na colocação de um plano ortopédico denominado “goteira oclusal”. A forma desta depende do diagnóstico. A sua conceção necessita do registo por impressões das arcadas dentárias e a utilização de um simulador de movimentos ou articulador. A goteira deve ser usada, 24 sobre 24 horas, em situações graves, ou só utilização noturna como goteira de descompressão.

Se o problema é puramente muscular, ela pode ser retirada aquando das refeições; se o problema é articular, ela deve ser colocada sem descontinuidade, até para comer.

Para as pessoas particularmente stressadas, o recurso a sessão de relaxamento ou a consultas no psicólogo é de grande importância.

A patologia da disfunção das articulações temporomandibulares é, infelizmente, ainda mal conhecida. Certos médicos ignoram mesmo a sua existência. As dores são atribuídas às nevralgias ou problemas emocionais, e os pacientes, não obtendo melhoras, ficam muitas das vezes desanimados e desorientados. E há solução!

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