Henrique Burnay - 13 fev. 16:35
Donald Trump é um suicida da América e os seus aliados europeus são antiocidentais
Donald Trump é um suicida da América e os seus aliados europeus são antiocidentais
Reagan ou George Bush jamais olhariam para as relações com os aliados com uma calculadora na mão. Estavam ocupados a segurar o Globo
Donald Trump é o mais anti-americano de todos os presidentes dos Estados Unidos da América (EUA) que nos conseguimos lembrar. O seu Make America Great Again, na melhor das hipóteses, reduz um Império moderno a uma grande economia com diminuída influência política e moral. Exactamente o oposto do que fez a América grande nos últimos 100 anos. Trump é um suicida da América, e os seus aliados europeus são anti-ocidentais. Mesmo os que falam dos valores do Ocidente. Sobretudo esses.
Com algum esforço crítico e análise, é possível compreender como é que a América chegou ao desastre político a que chegou. E culpar Trump de explorar os descontentamentos, mentir ou animar ódios e uma quase revolução é justo, pode satisfazer, mas é inconsequente. Pelo contrário, perceber como se chegou aqui pode ter a vantagem de evitar a réplica na Europa. Mas há um exercício mais importante: pensar no que fazer, do lado de cá perante a deriva anti-ocidental da América.
É um mistério como é que alguém alfabetizado pode ser, simultaneamente, entusiasta de Trump e do Ocidente. Como se viu a semana passada, Donald Trump não quer ser o líder do Mundo Livre, como se apresentavam muitos dos seus antecessores. Reagan ou George Bush, o 41º, jamais olhariam para as relações com os aliados com uma máquina calculadora na mão. Estavam ocupados a segurar o Globo.
Em vez de um país que domina o mundo ocidental, Trump quer uma América que divide o mundo com outras potências (a Rússia, que tem contribuído para reabilitar, e a China) enquanto perde aliados em todos os continentes. A América de Trump não é isolacionista, é isolada. O problema não é cobrar as quotas aos membros da NATO, o investimento que devem fazer em defesa, é não perceber por que razão uma potência precisa de ter aliados. Quais as vantagens, mesmo quando isso tem um custo.
A história dos últimos cem anos é a história do mundo americano. Em grande parte, por causa do seu sucesso económico e do seu poder militar. Mas por tudo o resto, também. As ideias americanas, a cultura americana, a confiança na potência americana por parte dos seus aliados. Donald Trump, quando diz, como disse esta semana, que até diria à Rússia para invadir ou fazer “o que raio quisesse” aos aliados que não gastassem 2% em defesa, não é um bárbaro às portas do Império, é um bárbaro dentro de portas, de fósforo na mão. Os aliados, obviamente, afastam-se.
Perante esta tragédia americana, a Europa terá de reavaliar a sua política de segurança e defesa. O mais empedernido defensor da NATO, das relações Transatlânticas e do Ocidente não pode fazer de conta que não ouviu o que Trump disse. Ou que basta aumentar o Orçamento de defesa de cada membro da NATO e vai ficar tudo bem. Esta América quer dividir o Mundo com a Rússia e a China, não quer liderar o Ocidente com a Europa, o Japão, a Austrália e quem mais se possa juntar.
Sobram três hipóteses à Europa: fazer de conta que isto vai passar (não vai); achar que pode competir igualmente com China e EUA, como se fosse tudo igual e indiferente. (não é); ou manter as alianças, a ideia de Ocidente, reforçar o empenho (humano, financeiro e físico) e assumir o que sobra do Ocidente com o que sobrar da América.
Uma Europa preparada para uma América que, como Trump disse há uns anos, considera os europeus “inimigos”, tem de continuar a cultivar a Aliança Atlântica, para lá da Administração, tem de se organizar com o Reino Unido, na NATO, para que a segurança e defesa europeias sejam um assunto nosso e do nosso aliado europeu, e tem de ocupar o espaço que a América está a abandonar e o que a China está a querer ocupar, seja na América Latina, seja em África.
Uma Comissão Geopolítica, como Von der Leyen tinha anunciado, não pode achar que basta exportar o Pacto Ecológico, externalizar as suas consequências ou prometer o alargamento para daqui a umas décadas.
Os próximos anos terão de ser, para a Europa, de reposicionamento global. Por enquanto, a boa notícia é que a Alemanha já o percebeu e está a fazê-lo. Com prudência, mas com convicção. Da economia à estratégia de segurança, o que está a mudar na Alemanha é imenso. A má notícia é que Macron quer fazê-lo também, mas com menos prudência e uma ambição errática.
Portugal tem aqui interesses fundamentais e existenciais. Se desse para falar um pouco disto na campanha eleitoral, era útil. Até porque, sem surpresa, o grande centro, que vai da esquerda moderada à direita moderada, estará de acordo em muito do que é essencial