Observador - 11 fev. 00:02
Não fazer da renda uma segunda propina
Não fazer da renda uma segunda propina
Respeito e compromisso, os próximos anos têm de ser fulcrais, para não fazer da renda uma segunda propina.
Desde 2015 que as vagas para o ensino superior têm vindo a aumentar. No último ano letivo eram 433.217 alunos matriculados.
A tendência de mais alunos traduziu-se, também, no aumento de estudantes deslocados, contudo a oferta de habitação/camas a preços acessíveis para estudantes pouco mudou. Só na Área Metropolitana de Lisboa 30% dos estudantes estavam deslocados, mas apenas 9,2% tinham vagas em residências universitárias.
Hoje, a cidade de Lisboa é a mais cara no que toca ao arrendamento, comparada com cidades como Braga, ou até mesmo o Porto. Ser um estudante deslocado, já é dispendioso, agora, ser um estudante deslocado em Lisboa, é “dispendioso ao quadrado”.
O último ano, como todos os anos nesta última década, caracterizou-se pela subida das prestações de renda, o que naturalmente levou ao aumento dos preços das casas. Ora, se um aluno já tinha dificuldades em ter um quarto ou uma renda, essa dificuldade agravou-se, e hoje são cada vez mais os casos em que estudantes têm de abandonar o ensino superior.
Não pode haver estudantes de segunda, um estudante deslocado paga de renda o equivalente a uma propina do ensino superior privado, tendo o Estado o propósito de salvaguardar um ensino equitativo em que todos os alunos estão em pé de igualdade, uma das primeiras prioridades é nivelar as condições de um estudante deslocado com um local, a começar por aumentar o parque habitacional de alojamento estudantil, como os respetivos apoios.
As rendas sobem, e o rendimento das famílias pouco acompanha estes valores. Não podemos acabar com os sonhos dos nossos jovens. Um jovem natural de Évora, que pretenda exercer advocacia, é obrigado a deslocar-se a Lisboa para frequentar o curso de direito, o que automaticamente o força a ter despesas extras. Seguindo a premissa inicial, é crucial garantir que um jovem de Évora tenha as mesmas condições que um jovem lisboeta que frequente o curso de direito.
É preciso um compromisso para 2024-2028, com mais medidas e menos anúncios vazios. Atualmente são cerca de 120 mil estudantes deslocados, e apenas 15 mil camas, números muitos semelhantes aos de 2018. Até 2021, o PNAES iria salvaguardar cerca de 3000 vagas, que não se concretizaram, o que perante o aumento de alunos nas IES (Instituições do Ensino Superior) desregula ainda mais a lei da procura e da oferta.
Respeito e compromisso por estes estudantes, a curto prazo, é importante que as entradas nas IES sejam afixadas mais cedo, com o objetivo que os estudantes deslocados programem a sua vida com maior antecedência. Quanto a este primeiro ponto, de sublinhar que a relação entre as IES e as autarquias têm de ser cooperativa, dando sempre a conhecer, com antecedência, a oferta de quartos/rendas para estes alunos.
Programas como o que a Universidade NOVA quer iniciar para o próximo ano letivo, servem de exemplo para as restantes Universidades. Ter estudantes deslocados a partilhar casa com as pessoas que vivem sozinhas, com quartos disponíveis.
“Plantar verde, para colher maduro”, não chega só definir os projetos e ter programas de preenchimento, a médio/longo prazo, é essencial metê-los em prática, o aumento de quartos a preços acessíveis é uma prioridade, e só com um PNAES fortalecido é que damos uma resposta a estes jovens.
Portugal tem hoje a geração mais qualificada de sempre. Mas a tão aclamada renovação geracional tarda a acontecer. Seja pela emigração, falta de oportunidades, uma realidade do interior, ou falta de condições verificadas nas áreas metropolitanas, cavamos hoje um fosso inter e intrageracional, um jovem de Portalegre tem de ser igual a um jovem do Porto, e só com um ensino igual, respondendo a problemas como o da habitação estudantil, é que podemos dar um passo em frente.