observador.ptObservador - 11 fev. 00:05

11 de fevereiro, Dia Mundial do Doente: um dia de todos nós

11 de fevereiro, Dia Mundial do Doente: um dia de todos nós

As doenças purificam o nosso olhar. Não que Deus as deseje, mas são aquilo que nos recorda verdadeiramente quem somos: criaturas, não deuses.

O mote da arquidiocese de Braga, na pessoa de sua Excelência Reverendíssima, o Sr. D. José Manuel Garcia Cordeiro, “Juntos no Caminho de Páscoa (2023-2033)”, tem por missão, o sempiterno objetivo da Igreja: “Levar Jesus a todos e todos a Jesus”. Nesse sentido, a presente comunicação/reflexão – em tom mais coloquial -, comporta, visceralmente, o compromisso da Igreja Católica que se faz solícita, do Amor que emana de Jesus – como fonte que jorra inesgotável-, junto de todos e todas, na medida em que a Igreja existe para todos (como tão bem frisou o Santo Padre, nas JMJ 2023) e está ao serviço de todos, de sobremaneira, de quem mais precisa. Esta é a essência da Igreja Católica! Neste dia, temo-nos a todos presentes em Cristo, que sara as nossas feridas, mormente, quantos passam por momentos delicados em termos de saúde, seja católico ou não, pois a Igreja existe para continuar a ação libertadora e curativa de Cristo.

1. Um dia de todos nós

O leproso ainda que vivo, não vivia. Era um homem isolado de Deus, dos demais e de si próprio, pois estava desfigurado.

Adiante, após a cura, Jesus ordenou-lhe que não contasse este mesmo episódio a ninguém, mas este homem não foi capaz de conter em si aquilo que a graça de Deus nele operou. Este homem não foi capaz de conter em si o que é sentir o Toque da mão de Deus em si. Depois de nos sentirmos, assim, curados, sobretudo, na relação com Ele e com os irmãos, a nossa vida não pode voltar a ser a mesma. É nova! Jesus disse-lhe que a ninguém o dissesse, apenas, para se mostrar ao sacerdote, pois assim estava previsto no livro do Levítico, para que a sua cura fosse comprovada pela sociedade e, assim, reintegrado na sociedade e no culto.

No entanto, este homem não foi capaz de esperar até chegar ao sacerdote. Depois de sentir a graça de Deus, o Amor que lhe Tocou, foi incapaz de conter a alegria de ser um homem novo em Cristo Jesus. É um homem novo, é um homem renovado, é um homem todo ele cheio de Deus, cheio da sua graça (cf. Ef 4, 22-24).

A cura é um renascer! Quando estamos doentes e, agora, já não falo só no sentido físico, falo no sentido espiritual, do pecado – que é essa a primeira doença da qual Deus nos vem resgatar -, nós vivemos desfigurados, não somos nós. Mas quando Deus entra em nós, faz-nos novas criaturas e, então, a nossa vida reluz, passámos a ser quem somos e a pele daquele homem voltou a ser o que era, e as relações daquele homem em sociedade voltaram a ser o que eram. E, mais importante que tudo, a relação deste homem com Deus passou a ser totalmente outra, ou melhor, nova!

8. Oração: com Deus tudo, sem Deus nada; Jesus Reza!

Não obstante tudo isto, assim o texto encerra- Jesus “retirava-se para lugares solitários e se entregava a oração”. E nós podemo-nos perguntar, retoricamente.: mas então Jesus, com tanta gente que a ele acorria, tanta gente que precisava da sua intervenção curativa, em vez de estar sempre a curar “em série”, vai rezar… Que desperdício na gestão de agenda…

Sim, Jesus tira tempo para rezar, porque Jesus só é capaz de curar, só é capaz de anunciar a Boa Nova do Pai, num enlace vital com o Pai! Jesus só cura, porque é Deus que cura através d’Ele. Portanto, mais ninguém cura, só Deus cura e salva. Jesus, mesmo sendo filho de Deus e sendo Deus na Trindade, ainda assim, tira tempo para a oração. Por isso, neste dia mundial do doente – que é nosso – , dediquemos, em família, tempo à oração!

Estou em crer que uma outra “lepra” pandémica que grassa celeremente é a da solidão, onde não nos podemos relacionar, mas, mas talvez, ainda grassa uma pandemia maior, que é a da ausência da relação com Deus. Se calhar, esta é a maior pandemia atualmente. Talvez, nos falte tempo para a oração. Mais do que estarmos logo a pedir – feitos “pedinchas” (desculpem-se a expressão) -, “Senhor cura-me, a minha família, aquela situação, aquela pessoa familiar ou amiga…”; já muito devemos antes! Oração!

9. «Senhor, ensina-nos a rezar» (Lc 11, 1)

Em primeiro lugar, dar graças ao Senhor pelo dom da vida, pelo dom da saúde que eu tenho, ainda que seja pouca.

Dar graças ao Senhor, pela família, pelas pessoas que Deus nos concede e são continuidade do braço estendido de Jesus que Toca e renova.

Reconhecermos que em tudo, d’Ele somos devedores e, depois, sim pedirmos-lhe com fé, “Senhor, se quiseres, eu sei que Tu podes tudo, que me podes curar”. É essa sempre a sua vontade. No entanto, uma ressalva: mesmo que peçamos com fé, às vezes pedimos mal. Não raras vezes, pedimos mal e, se pedimos mal e pedirmos o mal ou pedirmos com maldade (cf. Sto. Agostinho), Deus não nos concede o que pedimos.

Se pedirmos algo que não serve para a nossa salvação eterna, Deus não nos concede. Mas se for para nossa salvação e se for uma coisa boa, Deus certamente no-la concederá. Com efeito, rezar “seja feita à vossa vontade” (Pai Nosso) – nem tudo o que acontece é vontade d’Ele, a começar pelo nosso pecado-, não é rezar para que seja feita a minha vontade. É ao contrário. Eu é que plenamente libérrimo, conformo a minha vontade com a de Deus, tal qual Jesus no Getsémani (cf. Mt 26, 39-46). Portanto, não se trata de anular-me, mas de entregar-me! É justamente o oposto! Temos é de ter consciência de que a doença é o meio natural de partir…. Por isso, é certo que há de haver, na divina providência, uma doença que nos conduzirá para Deus.

Isso não quer dizer que devamos deixar de rezar. Nada mais errado! «Senhor curai- me!», mas pode não ser da vontade d’Ele; mas também pode ser, porque a cura que Deus quer é da nossa relação com Ele e, por conseguinte, virão as curas sociais e, por último, as das nossas doenças físicas e mentais. Tantos são os relatos de curas físicas, mentais e espirituais, ao longo dos evangelhos. Portanto, Jesus não curou apenas há 2000 anos atrás! Sabemos, verosivelmente, por vida de tantos santos, de milhares de milagres que vão acontecendo a “olho nu”, mas sobretudo dos milagres quotidianos que acontecem e do qual nós nem sequer nos apercebemos e Deus, como sempre, continua agindo, subtilmente, como na brisa suave (cf. 1 Rs 19, 10-15).

10. Um dia de todos nós: um sempiterno dia da predileção de Jesus.

Encaremos este dia mundial do doente como sendo um dia em que Deus olha para toda a humanidade (todos, todos, todos) com um amor predileto, porque Deus, em Jesus e Jesus, na sua Igreja, olha para todos os doentes com um olhar que “Toca na alma”!

Que neste mesmo dia, dia de Nossa Senhora de Lourdes – ao qual a liturgia dominical tem precedência-, pudéssemos todos formar uma cadeia de oração, com e em Maria, para que, cada um nas suas casas, com as suas famílias rezássemos pelo fim da pandemia do pecado, das fraturas sociais e belicistas e pela nossa saúde e dos que amamos.

Rezemos, com especial solicitude, pelos nossos profissionais de saúde e todos quantos têm intervenção direta. No contexto atual das várias pandemias que vivemos, sobretudo, rezemos por todos nós, pois todos nós somos doentes – é o nosso dia-, quando muito, somos todos carentes da graça de Deus, da sua graça curativa e libertadora que Ele nos dá.

11. Em suma, este dia, como já o afirmei, é-o de todos nós:

– É dia de agradecer o inaudito da encarnação, que só foi possível pelo Sim generoso de Maria (hoje invocada como Nossa Senhora de Lourdes), pelo qual temos Jesus, nas nossas cidades, que cura, liberta e redime.

– É dia de reconhecermos, ainda que não queiramos, a nossa condição de pecadores, no que diz respeito ao pecado pessoal e social.

– É dia de agradecer o dom da vida e da saúde (mesmo que seja pouca).

– É dia de dizer Sim à Vida e Não à morte (aborto e eutanásia 3 ).

– É dia de não fecharmos os olhos, mas vermos a realidade com clarividência.

– É dia de recordarmo-nos quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

– É dia de recordarmo-nos que hoje somos sãos, amanhã poderemos não ser.

– É dia de restaurar as fraturas sociais (perdão)… E são tantas!

– É dia de quantos mais sãos, contribuírem, caridosamente, pelos mais enfermos.

– É dia de visitar os doentes (uma das obras de misericórdia).

– É dia de rezar por todos os profissionais de saúde (de ajuda direta e indireta).

– É dia de rezar por todos os enfermos (não somente os “nossos”).

– É dia de ousar rezar com fé: “Senhor, se quiseres, podes curar-me”!

– É o dia em que nos descobrimos humanos (criaturas), na relação com o transcendente (Criador).

– É, na verdade, dia de levar Quem cura: “todos a Jesus e Jesus a todos”!

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