ionline.sapo.ptJosé Paulo do Carmo - 19 set. 09:11

A noite de quatro

A noite de quatro

Com a democratização da noite, as pessoas sentiram novamente necessidade de se juntar em comunidades, onde o bom serviço e as bebidas de qualidade chutam para canto os copos de plástico e os líquidos manhosos.

O entretenimento noturno, tal como tudo na vida, vai ganhando novos formatos, abandonando outros e adaptando uns quantos que se tiveram que limar à conta dos gostos das pessoas, do aparecimento das novas gerações e da falta de paciência que se vai ganhando à medida que o tempo cresce em nós. Já por aqui falei da grande dificuldade por que passam as discotecas que fizeram as delícias de tanta gente, sobretudo desde os anos 70. A loucura das grandes noites que nos fazem inevitavelmente transportar para um mágico Studio 54 em Nova Iorque, onde a imaginação, o luxo e o inacessível, criaram tendências que vieram a desaguar num sem número de espaços, um pouco por todo o mundo, na expectativa da libertação de emoções, num tempo em que ainda se podiam trocar olhares e se podia meter com alguém sem que se pudesse ir preso só por tamanha ousadia.

Essa noite do antigamente mudou substancialmente, as pessoas convivem menos, aproximam-se pouco e qualquer toque mais físico exige uma ida ao VAR. É o tempo da troca de mensagens, de aplicações de encontros numa escolha por catálogo sem olhar a químicas. Época do visual por troca com o sensorial. Fala-se muito por aí de energias mas numa saída à noite o que mais sentimos é a falta delas e quando existem é tudo depravado, com pouco respeito ou nível. A noite está por isso dividida em quatro tipos de produtos que enchem as medidas de nichos e deixaram de lado as misturas. À excepção dos festivais claro está. Os restaurantes dançantes vieram para ficar, onde se pode jantar, beber um copo a seguir e dançar, não até muito tarde. Aqui faz-se tudo no mesmo sítio, o que beneficia a deslocação de um lado para o outro com tantas operações stop que inviabilizam uma ida de carro próprio.

A segunda das fórmulas de sucesso são os bares/clubes à porta fechada, que voltam a ter uma adesão muito própria. Felizmente, para quem desenha produtos bons, há hoje em dia quem pague por eles, muito à conta da horda de estrangeiros que invadiu o nosso país e que escolhe topos de edifícios, boas decorações e cocktails saborosos em detrimento das ladies night e do pague dois leve três. A terceira são as dezenas de produtoras de eventos que de um momento para o outro encheram o país de festas, em sítios diferentes, localizações inovadoras e sempre em movimento. Um dia num sítio outro dia no outro, tal qual a velocidade da vida está a escolha dos clientes que cada vez mais querem coisas diferentes a cada momento.

Por último a praia e os fins de tarde. Cada vez é mais utilizada o ano inteiro, talvez pela vontade que as pessoas têm de sentir o cheiro a mar ou a sensação de liberdade que nos traz essa proximidade. A verdade é que os apoios de praia são cada vez mais uma escolha natural, seja para jantar ou para um final de tarde que se estende pela noite mas que permite dançar ao pôr do sol, com os pés na areia e o vento pelo cabelo. Por aqui passarão cada vez mais as saídas pelas capitais desse mundo, à excepção de algumas localizações como Ibiza onde tudo se vai mantendo igual. Veremos em Lisboa o que este Inverno nos reserva…

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