Francisco Louçã - 19 set. 11:00
O melhor é deixar Cavaco no seu sossego
O melhor é deixar Cavaco no seu sossego
No calor do elogio, os cavaquistas deram-nos uma certeza sobre o livro oracular do ex-primeiro-ministro e ex-Presidente: não tem nada para dizer, salvo um recado salvífico sobre o segredo nas remodelações. De resto, é um manual de costumes que nem aos seus apoiantes interessa
Enquanto há famílias que vão acampar para Carcavelos por não poderem pagar a casa ou uma rádio faz uma reportagem sobre quartos para duas pessoas partilharem a 700 euros, fomos servidos pelo episódio de um livro de Cavaco e a tinta inundou o país. Aconteceu o que sempre acontece, foi lembrada a recusa da condecoração a Salgueiro Maia e da que homenageou pides, o azedume contra Saramago e as circunstâncias de um autoritarismo da forma irrepetível: uma única televisão cujo noticiário era alinhado pelo governo, que não ia ao parlamento e que juntou uma equipa de ministros que fez falar de si pelas décadas seguintes, pelas razões mais escabrosas. Tudo certo. Os que, do outro lado, incenseiam o homem que se tornou a figura histórica da direita não podem certamente ignorar que, na comunicação de hoje, um tal personagem não duraria um ano. Assim foi demonizado e santificado, como se a questão tivesse a menor pertinência para Portugal. O problema é que não tem, pois Cavaco Silva já não existe politicamente a não ser para afogar em mágoas da memória a incapacidade da direita atual. Por isso, a minha sugestão é a contrária da dos que o lembraram pelos seus feitos e defeitos: deixem-no em paz, oxalá escreva muito mais e se vá abalançando a interromper o frenesim da nossa vida com estes rompantes de oráculo celestial.
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