expresso.ptexpresso.pt - 19 set. 16:21

Antigo representante português do secretário-geral da ONU adverte para “a necessidade de reforçar as Nações Unidas em vez de as fragmentar”

Antigo representante português do secretário-geral da ONU adverte para “a necessidade de reforçar as Nações Unidas em vez de as fragmentar”

No arranque da semana de alto nível da 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, Victor Ângelo diz que “seria importante se muitos líderes falassem de questões fundamentais” como a guerra na Ucrânia, as alterações climáticas, o combate à pobreza ou a cooperação internacional. Quanto à atuação de António Guterres como secretário-geral da ONU, diz ao Expresso: “Tenho de fazer um balanço positivo. Se eu, enquanto português, não fizer um balanço positivo, quem é que vai fazer?”. Relativamente à reforma da organização – e sobretudo do Conselho de Segurança –, destaca que “as objeções que existiam no final da Guerra Fria não desapareceram”

Victor Ângelo foi representante especial do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para as operações de paz nos mandatos de Kofi Annan e Ban Ki-moon, tendo chegado a secretário-geral adjunto num percurso de 32 anos como funcionário da ONU. Em entrevista ao Expresso, comenta as ausências ao mais alto nível de quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. Prevê que alguns países venham “pôr em causa a eficiência das Nações Unidas nas missões de manutenção de paz”. Quanto às alterações climáticas, lamenta que “a vontade política da resposta” seja “extremamente lenta”. E alerta ainda para a importância de se debater a inteligência artificial, “uma questão fundamental” que “tem sido totalmente ignorada pelos diferentes países”.

A Assembleia-Geral das Nações Unidas é um momento capital da organização. Este ano, há a particularidade de, dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, apenas os Estados Unidos se fazerem representar ao mais alto nível – no caso, pelo Presidente Joe Biden. Que leitura faz da ausência dos chefes de Estado ou de Governo dos outros quatro?
O calendário da Assembleia-Geral é conhecido desde o ano passado, por isso os problemas de agenda só se justificarão se, de facto, tiverem surgido acontecimentos nesses quatro países que, de repente, expliquem a ausência do chefe de Estado ou de Governo. Não vejo nem no Reino Unido nem em França razões especiais que possam justificar uma ausência repentina do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e do Presidente francês, Emmanuel Macron. No caso russo, a questão é óbvia. É evidente que Vladimir Putin não iria, aí não há nenhuma surpresa. É normal que não vá e cada vez será mais difícil ao Presidente da Federação Russa qualquer tipo de deslocação ao estrangeiro. No caso chinês, não sabemos exatamente qual é a situação interna. Além das dificuldades económicas que existem, não sabemos que tipo de problemas urgentes Xi Jinping tem em mãos. Muito provavelmente o Presidente chinês não irá porque esteve em várias cimeiras recentemente e encontrou-se com os chefes de Estado e de Governo com que lhe interessava encontrar-se. Não vê a deslocação neste momento aos Estados Unidos como necessária, sobretudo porque isso implicaria depois participar na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que vai discutir a situação na Ucrânia, e é evidente que o Presidente chinês não está neste momento preparado para discuti-la. A outra razão é que muito provavelmente vai haver uma cimeira em novembro em São Francisco com os países asiáticos em que se pensa que estará presente e, nessa altura, encontrar-se-á com o Presidente americano, que é quem lhe interessa de facto. Já assistimos este fim de semana ao começo da preparação desse encontro e, por isso, ir agora a Nova Iorque seria um pouco ir não só ainda não totalmente preparado – ou seja, sem as reuniões preparatórias terem sido concluídas, por um lado – e, por outro lado, ser obrigado a discutir a questão ucraniana.

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