observador.ptObservador - 19 set. 00:17

Educação e tecnologia

Educação e tecnologia

O mantra da tecnologia – de que é possível ensinar, entretendo e diminuindo a agrura associada à aquisição do conhecimento – está por demonstrar e, como se começa a ver, tem efeitos muito perniciosos.

Na sua recente passagem por Lisboa, em entrevista à revista Visão (edição impressa), Catherine L’Ecuyer afirmou sem reservas que “foi um erro dar tecnologia às crianças em idades precoces”, recordando que já em 2014, no seu livro Educar na Curiosidade, alertava para os riscos de uma adoção indiscriminada e precoce da tecnologia na educação, por tal não ter sido nem testado nem validado nas consequências que tal poderia ter junto dos mais novos.

Os últimos anos têm sido de um parolo e preguiçoso deslumbramento tecnológico. Assombrados pelas capacidades das novas ferramentas digitais, temos vindo a deixar que muito rapidamente as tecnologias revolucionem a forma como se ensina e aprende, alinhando em utopias educacionais não validadas e que muitas vezes mais não são do que fórmulas sofisticadas de marketing. E se muitas das inovações são impressionantes e merecem ser valorizadas – não é possível fugir à mudança – o que hoje se verifica é que muitas tecnologias foram integradas nas escolas sem um verdadeiro teste do seu valor – e consequências nefastas – para as crianças. Como bem refere Catherine L’Ecuyer, “estas ferramentas fazem sentido, do ponto de vista educativo? E têm, ou não, efeitos colaterais? (…) Acontece que os estudos sérios e com rigor são dispendiosos e demorados, e só na última década foi possível estabelecer uma correlação entre o consumo de redes sociais e da internet e o impacto que têm na atenção e na saúde mental”.

Vários estudos que começam agora, paulatinamente, a ser divulgados, evidenciam uma ligação preocupante entre a introdução intensiva da tecnologia e o declínio no desempenho académico. No Expresso é-nos dito que nos últimos anos se verifica uma assustadora regressão nas competências de leitura e escrita ligada ao uso excessivo de ecrãs. A Suécia, em face dos resultados do último “Estudo Internacional sobre o Progresso da Literacia em Leitura” (“PIRLS”), decidiu colocar um travão na utilização dos ecrãs enquanto ferramenta pedagógica e repensar a sua abordagem à tecnologia nas salas de aula. Tal ocorre numa altura em que são por demais visíveis inúmeros efeitos colaterais da excessiva exposição das crianças a equipamentos tecnológicos, como smartphones, tablets, e consolas de jogos, bem como das redes sociais que se suportam nestes equipamentos, a saber: ansiedade, redução do autocontrolo, diminuição de recursos vocabulares, e falta de capacidade crítica para compreender o que é ou não relevante na vida real.

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.

NewsItem [
pubDate=2023-09-19 01:17:25.0
, url=https://observador.pt/opiniao/educacao-e-tecnologia/
, host=observador.pt
, wordCount=442
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2023_09_18_339581863_educacao-e-tecnologia
, topics=[educação, tecnologia, opinião, inteligência artificial, redes sociais, inteligência]
, sections=[opiniao, sociedade, ciencia-tecnologia]
, score=0.000000]