expresso.ptPedro Gomes Sanches - 18 set. 08:00

O PS e a arte de parlapatear

O PS e a arte de parlapatear

Ana Catarina Mendes, no papel de voz do dono, atacou Cavaco Silva por alegadamente ter convivido bem com o trabalho infantil. A palavra a reter aqui é infantil. O PS infantiliza quando Cavaco fala

Aníbal Cavaco Silva lançou na passada 6ª feira mais um livro: O primeiro-ministro e a arte de governar. Sem surpresa, o PS esperneou, espumou da boca e parlapateou.

Um parlapatão é "quem engana os outros com as suas conversas intrujonas e mentiras". Um "fanfarrão". Um "impostor". Um "pantomineiro". Um "paparrotão". Eis o retrato do PS de António Costa, que gente como Álvaro Beleza, Francisco Assis ou Sérgio Sousa Pinto terá, num longo e árduo trabalho, que resgatar ao populismo e à irresponsabilidade.

Querem um exemplo? . Num estudo de 2001, levado a cabo pelo Sistema de Informação Estatística sobre o Trabalho Infantil (SIETI), lê-se, logo a abrir, que "com efeito, desde 1988 e após decisão do Governo de conseguir uma quantificação e caracterização do trabalho infantil, verificaram-se um conjunto de medidas cuja dinamização pertenceu ao PEETI e uma intensificação das acções inspectivas da Inspecção-Geral do Trabalho. Correspondeu o ano de 1988 à realização do primeiro inquérito ao trabalho infantil, efectuado primeiro ao nível do Continente Português e posteriormente também nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, inquérito esse realizado conjuntamente com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), através da sua estrutura para o combate ao trabalho infantil, o IPEC." A iniciativa legislativa que desencadeou o descrito foi a Lei n⁰ 53/88, de 13 de Maio. E nem Nossa Senhora de Fátima salvou o PS: a verdade é que não foi Soares nem o PS a iniciarem o combate ao trabalho infantil em Portugal, foi Cavaco. E o facto de, em 2023, o Governo de António Costa reagir desta forma à publicação de um livro de Cavaco Silva, demonstra bem o nível a que a República chegou, e o nível acima do qual o PS teima em não se elevar.

Nuno Fox

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Estou à vontade: nunca fui cavaquista. Mas o tempo e, sobretudo, o contraste com o presente, fizeram deste homem uma voz a escutar, mesmo por quem nunca, ou quase nunca, foi seu apoiante. E se a isso se juntar uma esquerda com tiques autoritários e tão selvagem e torpe nas críticas que lhe faz, então, ouvi-lo tornou-se um imperativo de cidadania.

Sobre o que ali está e o contraste com o presente, José Manuel Durão Barroso, na apresentação que fez do livro no Grémio Literário, encarregou-se de expor o inegável: já nada salva o legado (ou deverei dizer a ausência de legado?) destes anos de Costa e do PS à frente dos destinos do país. E não é só por causa do modus operandi, é sobretudo pela exiguidade de perspectivas futuras e da ausência de subordinação do governo a um módico de bem-comum.

Mas há, ainda, do ponto de vista da salubridade do debate – a poucos meses das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril –, um ponto que merece reflexão e que vai fundo aos alicerces democráticos.

Imagine o estimado leitor que o antigo Presidente da República lançava mais um ataque às políticas do governo, tecendo duras críticas às opções do executivo em áreas fundamentais, como as da Saúde, da Justiça e da Educação, afirmando que "a pérola da democracia esvaziou-se".

Proponho um jogo: qual seria a leitura que tais afirmações mereceriam? A "múmia" devia estar calada? O "líder da seita" voltou? Este é "definitivamente a maior vergonha que o estado de direito democrático acolheu como órgão"? Lá está o "pateta encartado"?

Errado! É certo que as leituras, e os epítetos, se referem a Cavaco, e são apenas alguns exemplos da forma como este tem sido tratado no espaço público nos últimos anos, pelo que não surpreenderiam se fossem usadas, uma vez mais, caso Cavaco fosse o autor das declarações. Mas não foi o caso. O autor das declarações foi Mário Soares e o visado por elas foi o Governo de Pedro Passos Coelho. É claro que, então, palmas e confetes abundaram nos salões.

É este double standard que inquina e inclina o jogo democrático português. Neste plano inclinado, entre aqueles anos de governo de Cavaco e estes anos de governo de Costa, o trabalho infantil já foi praticamente erradicado, é certo, mas a avaliar pelos resultados destes últimos 8 anos na saúde, na educação, na justiça e no poder de compra, a tal "pérola da democracia" jaz agora numa loja de penhores ali no Largo do Rato. Todavia, seguindo a regra da Arte de Parlapatear, a culpa disso é, seguramente, do Passos e do Cavaco.

Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia

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