Observador - 18 set. 00:22
O livro
O livro
A esquerda esgota-se no sarcasmo; a direita toma nota; e a direita a quem a esquerda consente o direito de cidade exibe um embaraço constrangido. Não tem importância. O que fica é o que Cavaco fez.
1 É um tique compulsivo: em se tratando de Cavaco Silva, a esquerda, desunida, toca em uníssono a rebate e dispara. O toque perdeu potência, as armas enferrujaram, as munições estão fora do prazo, mas a esquerda é sobretudo isto: um descolamento da realidade como se pode ter da retina.
Apetece recomendar novo argumentário, mas é lá com eles. Um dia, a realidade que nunca deixa os seus créditos por mãos alheias, volta ao de cima (“elle revient au galop”) e impõe-se de vez.
2 Eu não sei se Cavaco Silva conhece uma frase de Ruben A que a lucidez do escritor transformaria numa descoberta: “em Portugal o óbvio é que é difícil”, (há muito que dei em fazer disto um mandamento). É verdade, o “óbvio” é-nos “difícil”, uma empreitada ciclópica, só arrancada a ferros. Claro que o ex-Primeiro Ministro e ex-Presidente não precisa de ler Ruben A, nem de como eu se ter apropriado da frase. Bastou-lhe olhar para o que está por aí politicamente e por isso me lembrei do Ruben. Talvez algo desapropriadamente, reconheço, mas foi-me irresistível: ou seja, das “óbvias” tarefas da governação – escolha, decisão, reforma, capacidade transformadora, garantia de cumprimento das responsabilidades do Estado (Saúde, Educação, Justiça) – qual não tem sido tão “obviamente difícil” de concretizar? Todas? Quase todas?
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